Na Encolha

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 O silêncio é reconfortante.

 O falatório no andar de baixo é apenas um som ao longe enquanto permanecemos jogados no chão do banheiro, meu corpo sobre as pernas de Tom. Ele cutuca o celular enquanto minha cabeça permanece apoiada em seu peito, o som de sua respiração e dos seus batimentos cardíacos servindo como uma âncora que me mantém em uma realidade onde não há o caos me aguardando nos outros cômodos da casa.

 O choro cessou, mas mantenho meus olhos fechados enquanto seu queixo repousa sobre os meus cabelos.

 — Nós precisamos voltar. — murmuro, erguendo a cabeça de modo que consiga roçar o nariz em seu pescoço.

 O cheiro de perfume e sabonete se infiltra pelas minhas narinas e remexe os meus pensamentos, fazendo com que seja difícil raciocinar.

 — Precisamos? — ele questiona, rindo baixo.

 Abro um olho, depois o outro.

 Tom me encara com as sobrancelhas arqueadas, e um sorriso travesso tão grande que faz com que seus olhos envernizados se estreitem. Pendo a cabeça para o lado, apesar da visão fazer com que meus lábios também se repuxem num sorriso quase que instantaneamente.

 — O que você está tramando, Thomas? — murmuro, traçando os detalhes de seu rosto com a ponta do dedo.

 Ele faz uma careta.

 — Pare de me chamar de Thomas.

 — É o seu nome.

 — Ninguém me chama de Thomas.

 — Eu chamo. — sorrio convencida, fazendo-o revirar os olhos. — É um nome bonito.

 — É para combinar comigo. — ele imita o sorriso e eu rio, negando com a cabeça. — Ah, qual é! Vai dizer que não sou bonitão?

 Franzo o cenho e finjo ponderar por alguns instantes, fazendo com que o sorriso de Tom suma de imediato e dê lugar a uma carranca que acaba me fazendo rir.

 — É bonitão, mas não vou te deixar mal acostumado. — digo, beliscando-o nas costelas antes de deitar novamente em seu ombro. — Espero que eles puxem você.

 — Eles?

 — Acho que são meninos.

 — Considerando que meus pais tiveram quatro garotos, não seria surpresa.

 Faço uma careta.

 — A família Holland e sua supremacia masculina. — murmuro, fazendo-o rir pelo nariz. — Mas seria divertido.

 Nossos olhares se encontram mais uma vez e vejo o brilho naquelas duas orbes cor de chocolate antes dele voltar a falar.

 — Dois garotos correndo pela casa. — Tom conclui, como se mal conseguisse conter a felicidade com a imagem.

 Também me deleito por alguns instantes, imaginando os risos e as mãos sujas de terra. Cabelos caramelados como os do pai ou escuros como os meus? Rostos redondos ou afunilados?

 — Gosto da ideia. — digo baixo, ainda absorta demais na fantasia se passando em minha mente.

 Não é apenas as crianças correndo em minha cabeça que me acalentam, muito menos a ideia de Tom indo logo atrás delas.

 É o que isso significa.

 Vou finalmente ter uma família.

 — Precisamos voltar. — repito, mesmo que seja doloroso demais afastar a invenção da minha mente para voltar a realidade que nos aguarda.

All My Life | Tom Holland ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora