Estava sentada à mesa, na minha lanchonete preferida. Passava das 17h30 então era hora de ir, meu ônibus não demoraria a passar.Eu gostava de me sentar ali todos os dias após o trabalho, e observar as pessoas passando. Imaginava mil histórias em minha cabeça, sobre aonde estariam indo, como havia sido o dia delas, ou até mesmo o que ou quem seria o motivo da pressa.
Paguei meu café e caminhei até o ponto. Aquele fim de tarde nublado convidou a maioria das pessoas a se sentarem no banco coberto, com medo da possível chuva. Não me importei em ficar em pé.
Coloquei meus fones e mergulhei nas minhas músicas, quando finalmente avistei o ônibus chegando. As pessoas se enfileilaram para subir, o que demorou um pouco, já que devido ao tempo, pensei, haviam mais pessoas lá dentro do que normalmente.
Estava pisando no primeiro degrau, quando senti uma mão tocando minhas costas. Virei-me e me deparei com uma mulher, com semblante pálido e olhos fundos. Não me dirigindo palavra alguma, estendeu a mão com um bilhete, que eu na pressa de entrar não hesitei e peguei.
Consigo ver através da porta que se fechou atrás de mim a mulher me olhando fixamente acenando com a cabeça, num gesto que entendi como que me encorajando a ler o conteúdo do papel que recebi.
Passei pela catraca, finalmente abrindo o papel, onde li: ''Vá perto do homem de amarelo''. Me perguntando como aquela mulher poderia saber que haveria um homem com blusa amarela dentro daquele ônibus, incrédula olhei em volta, esperando não encontrar nenhum.
Porém para minha surpresa havia sim, um senhor de meia idade, cabelos ligeiramente grisalhos com uma jaqueta amarelíssima '-Look do dia, fandangos', pensei comigo, rindo por dentro.
Com a curiosidade aguçada e as pessoas já começando a descer em seus pontos, resolvi seguir as instruções do que estava no papel, e fui mais perto daquele senhor.
Pude ver enquanto caminhava naquela direção como este estava demasiadamente encostado em uma jovem, mesmo com alguns bancos já vagos ao redor deles.
Foi quando, com pesar, observei então as feições da jovem, nitidamente incomodada com tal proximidade, mas ao mesmo tempo sem jeito, ou até mesmo coragem de sair de onde estava.
Então me aproximei, e fiz o que me veio à cabeça frente aquela situação. Pedi licença para sentar-me no banco que estava atrás dos dois. O homem, num gesto de contrariedade - já que havia espaço para que eu os contornasse e não precisasse passar pelo meio de ambos - afastou-se. A jovem, como que saindo de uma paralisia, seguiu-me, sentando no banco vago ao meu lado.
Senti o olhar de raiva daquele homem nos 10 minutos que se seguiram, até que ele finalmente desceu do ônibus. Junto com o olhar confuso de ''obrigada'' da jovem.
Passei o trajeto que restava relendo e me perguntando "Como?". Como aquela mulher saberia que aquele homem estaria ali, será que ela mesma havia passado pela aquela mesma situação? E porque ela escolheu entregar o bilhete para mim, quando haviam tantas outras pessoas comigo naquele ponto?
Cheguei em casa, com o coração palpitando e ansiosa para dividir minha irmã a minha misteriosa experiência.
Descrevi cada detalhe a ela, minhas emoções, e como estava me sentindo uma super-heroína. Passada a narrativa emocionante (para mim foi), ela me pediu para ver o bilhete. Retirei do meu bolso o papel dobrado, já meio amassado e dei a ela.Logo após abrir o papel, vi que ela me fitou com um misto de zombaria e dúvida. Me estendendo o mesmo papel de volta disse:
''- Não tem nada escrito aqui!''.(continua)
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O bilhete
RandomOlá pessoal, tudo bem com vocês? Confesso que essa é a minha primeira vez que mostro minhas aventuras na escrita, eu apenas deixei fluir, então por favor desconsiderem os erros e deixem o feedback de vocês, é importante pra mim!