Welcome to the Madness!

Muito claro para ser o inferno

Um estrondo preencheu o segundo andar de uma das casas de um bairro de classe média alta (a sexta casa da fileira simétrica e irritantemente sem originalidade distinguindo nenhuma delas, para ser mais específico).

No atual horário a casa era a única que se encontrava sem nenhum adulto ou maior de idade por perto e, para quem encontrasse a bagunça depois, esse período de tempo que fazia parte da rotina das ocupantes da casa se tornaria um motivo para todos se culparem por não terem prestado atenção no que estava ocorrendo mais cedo.

Mas para Alice esse momento do dia era algo precioso demais, um momento que contribuía perfeitamente para seu objetivo no momento.

O banheiro do segundo andar tinha uma organização e beleza admiráveis, algo um tanto quanto incomum de se ver em um simples banheiro.

A parede cor de creme não apresentava absolutamente nenhuma mancha ou respingos de água (não importava o quanto tentasse encontrar, era como se simplesmente não tivesse), o chão de mármore era tão lustroso e brilhante que seria possível deixar o cômodo sem espelhos, acho que nesse ponto não precisamos nem falar das outras coisas que se encontravam ali, não é mesmo? (desde o espelho de pia até o vaso sanitário eram tão reluzentes e desprovidos de qualquer sinal de uso que pareciam ter sido colocados ali no dia anterior) e por último temos produtos de higiene pessoal, guardados com tanta perfeição e organização dentro do armário e prateleiras que chegava a ser assustador e prazeroso de olhar (algo como: " é impossível alguém ter esse nível de organização, que exemplo a ser seguido!).

Mas nesse momento seria impossível ter esse tipo de reação apreciando esse banheiro, e o sentimento de horror e susto com certeza não seriam pela organização impecável da dona da casa.

Todo aquele brilho das louças e vidros agora carregavam gotas de sangue em variadas quantidades, juntamente com as paredes que obtiveram suas primeiras manchas e era impossível ver o próprio reflexo no chão, pois agora ele estava ocupado pelo corpo de Alice e duas grandes poças que saiam de seus pulsos.

Ainda lhe restava alguns minutos de consciência, minutos que sempre a amedrontaram e que eram um dos motivos para não ter tentado nada antes, pois temia que durante eles se arrependeria profundamente e tentasse concertar as coisas: Se arrastando para pegar o celular deixado no armário da pia (onde se encontrava uma pequena carta destinada a qualquer pessoa que talvez sentiria falta dela,mas na verdade era mais para se explicar e não deixar nenhum mistério ou investigações policiais ocorrerem) e ligando para alguém pedindo socorro, ou conseguindo andar até o andar de baixo e abrir a porta, desmaiando logo em seguida assustando pedestres, jardineiros e vizinhas alegres que se reuniam para conversar, dependendo da quantidade de tempo que teria caso o arrependimento batesse, as oportunidades de salvar a própria vida seriam várias para serem listadas aqui, pois poderia ter batido muito antes de a ideia de tirar a própria vida ter começado a ocupar os seus pensamentos.

Porém para seu alívio esse arrependimento não bateu em nenhum momento, nem quando o metal gelado do estilete rasgou sua pele, nem quando o líquido quente e vermelho começou a escorrer pelos braços e jorrar nas proximidades, nem quando a tontura começou a escurecer sua visão e tirar o foco da própria imagem e o equilíbrio dos pés e nem mesmo quando seu corpo finalmente ficou fraco demais para permanecer em pé e caiu no chão sem expectativas ou vontade de levantar mais.

Enquanto seus últimos momentos de vida custavam a passar, vários pensamentos ocupavam sua mente, querendo ou não, seria considerado paranoia se a maioria das pessoas se preparassem ou esperassem encontrar ou receber notícias de um corpo morto, então era muito difícil não pensar nas reações dos mais próximos ao descobrirem seu objetivo dos últimos tempos.