Capítulo 11

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(Segunda Parte)

Três olhos se abrem

Tribos encarnam divergentes

Três indivíduos que ardem

Três destinos coincidentes

Um, contempla o passado

Suas dores excruciantes

De seu corpo degradado

Brilham áureas triunfantes

Outro sobrevive ao presente

Estranho lugar de ausência

Um rosto velado assente

Gracejando ante a demência

O último, o futuro presciente

Uma guerra segue à morte inconteste

Logra evitar fausto auguro

Roga ao Deus prata, bendisseste

Dois pares de vistas se cerram
U

ma língua bifurcada sacramenta
"...E somente um matiz magnânimo
escamentará a vil magenta"


Livros da Prata — Canto XVII — O Anjo Transfigurado

Diante da prefeitura de Utopx, Lino observa a construção enquanto o grupo de rebeldes permanece em formação atrás de si. A antecipação preenche seu peito de uma emoção que há muito ansiava. Finalmente completará sua jornada. Finalmente atingirá seu objetivo. Finalmente poderá saborear sua vingança.

O aspecto da construção é muito diferente das outras sedes das outras cidades-Estado. O casarão, inteiramente branco, possui apenas dois pavimentos. As varandas ajardinadas quebram a monocromia dando um aspecto bucólico à fachada, que combina perfeitamente com modelo pacífico e reflexivo da cidade-Estado.

O prefeito surge em frente à entrada, se posicionando abaixo do batente das grandes portas duplas. Seu nome é Raphael e seu semblante completa a sensação de paz que todo o conjunto proporciona. Seus cabelos repartidos, o rosto meticulosamente escanhoado, e a áurea azul-marinho, apresentam um elevado e austero senso de credibilidade, desses que somente políticos experientes conseguem representar.

— Lino. O que o traz à nossa humilde casa? — Raphael pergunta com uma voz grave, porém, suave.

— Prefeito! — Lino dá um passo à frente. — Hoje termina seu mandato... — Lino sorri. — O seu e todos os outros. Não há mais ditadores de Megalotopx.

— Ora Lino... Não sou um ditador. Todos sabem como tenho apreço pelas decisões democráticas em minha gestão... Além disso, é um cargo vitalício. Jurei dedicar toda a minha existência a serviço de nossa magnânima cidade-Estado.

— Vitalício e democrático não podem conviver em uma mesma sentença. — Lino corta. — São termos auto-excludentes e, como todos aqui já devem ter sentido em suas áureas, estamos prestes a derrubar o regime.

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