PECADOS - Contos Eróticos

KATHERINE E MARY JANE

A madrugada ia alta quando os convidados da festa se retiraram e a equipe de organização recolheu os últimos objetos deixados no gramado do imenso jardim. O ambiente estava, finalmente, sem vestígio das centenas de pessoas que passaram toda a tarde e início da noite conversando, bebendo, dançando, divertindo - não necessariamente nesta mesma ordem - festejando a felicidade de Mary Jane e Peter.

Para mim o dia pareceu interminável - cheio de obrigações - e me arrastei pela sala principal, às escuras, em busca das escadas que levavam aos quartos, no andar superior, para ajustar a papelada e encerrar minha missão. A essa altura meus pés estavam me matando. - Maldito salto alto! - A sensação de dever cumprido não comparava ao meu cansaço.

Foi um longo caminho trilhado para chegarmos até aqui. E, tudo começou quando Mary Jane nos procurou, na Agência de Investigação, para denunciar o esquema de corrupção na transportadora de cargas onde era contadora fiscal. Ela relutou muito até decidir denunciar todos os envolvidos no esquema organizado pelo chefe, mas, rebelou contra a coação - que obrigava maquiar e assinar registros contábeis falsos - e veio até nós com provas importantes.

A lista de envolvidos no esquema - lavagem de dinheiro, roubo de carga, contrabando e tráfico de drogas - era imensa e atingia tanto figuras públicas quanto empresários de vários segmentos.

Foi realmente muita sorte ver M.J entrando pela porta da agência e dar de cara com Peter - seu colega de infância - que acolheu tanto a delação quanto à moça. Depois disso ficou fácil convencer meus superiores aceitar a denúncia. E, seguindo a ordem natural, o processo se desdobrou por meses e meses de análise e observação para identificar de todos os envolvidos no esquema.

Porém, o desfecho da investigação não poderia ter sido mais inusitado... uma grande festa de casamento entre Peter e Mary Jane quando todos os investigados foram convidados, ou atraídos, para serem fotografados e grampeados.

Amanhã, finalmente, entregaríamos o depoimento de Mary, devidamente assinado e registrado para que fosse encaminhado à Defensoria Pública. Enfim, todo o aparato preparado seria desmontado e o casal inserido no Programa de Proteção à Testemunha.

Quanto a mim, retornaria a monotonia de gerenciar a Agência com um problema a menos para preocupar. Chega desse caso e chega de preocupação pelas próximas quatro horas de sono merecido.

Àquela hora da noite não foi difícil circular entre os espaços, sem acender uma única lâmpada, porque conhecia os ambientes como a palma da minha mão. Dei meia dúzia de passos no escuro e, ao passar pela antiga biblioteca, notei o barulho de algo espatifando no chão e o som de risadas, inconfundivelmente alcoolizadas. Aproximei para observar, através da porta entreaberta e - além das estantes escuras, cobertas de livros até o teto, próximo às grandes janelas - pude observar a escrivaninha servindo de palco para a cena erótica mais insólita que tive o "prazer" de vivenciar.

Deveria ter ignorado imediatamente quando identifiquei os dois protagonistas, mas, a curiosidade jogou a sensatez as favas.

É errado? É! Eu devia estar olhando? Não! Mas, eles não eram nada meus... nem parentes, nem amigos ou meus favoritos.

Mary é uma bela mulher, cheia de curvas e sorrisos cativantes. E também uma excepcional profissional. Embora isso não tenha diminuído seu dom único para se meter em confusões. Definitivamente ela escolhia sempre o momento errado de embarcar em ações mal sucedidas. Já o Peter... não era por ser meu subordinado que eu não daria uma olhadinha naquele corpo maravilhoso esculpido pelos deuses.

E, a curiosidade prevaleceu. Passei a observar descaradamente todos os movimentos dos corpos sendo executados em harmonia, como apenas dois amantes íntimos poderiam.