Não aguento mais.
Estou morrendo por dentro.
Hoje acordei pensativa. Quase sempre acordo pensativa. Depois de vinte anos num relacionamento, me dei conta que não sou feliz. Estou pensando em me separar. Não que Roberto seja uma pessoa má. Ele é um marido quase perfeito. Só que, sei lá, não acordo mais com um sorriso no rosto. Penso quase sempre como seria se eu tivesse mais liberdade. Se pudesse fazer o que quero. Se conhecesse alguém quem me apoiasse, que me desse vontade de viver. Às vezes nem eu sei o que quero. Não sinto mais aquele desejo, aquela paixão arrebatadora que me fazia sonhar acordada. Não sei se fui eu que mudei ou se foi ele. Ou se a culpa é da rotina que, pouco a pouco ele me colocou e que me esmaga por dentro.
Até que no começo foi muito bom. Ele foi meu primeiro namorado. Eu tinha uns quinze anos quando o conheci. Eu, adolescente sonhadora. Ele, um garoto franzino que gostava de ler. Confesso, nunca fui fã de leitura. Preferia assistir novelas ou brincar na rua. Ele sempre foi um bom leitor. Não sei se foi isso que me fez admirá-lo. Fisicamente não tinha muitos atributos. O que me atraiu, penso, foi sua atenção. Seu cuidado para comigo. Ele sempre foi muito educado. Rebuscado até. Eu era mais espevitada. Meio desastrada.
Lembro bem do dia que o conheci. Estávamos no recreio da escola e eu tomando um suco da cantina. Ki-suco para ser mais exata. Daqueles artificiais. De tinta. Num momento qualquer me virei apressada e esbarrei nele. Sua camisa ficou vermelha com o suco que derramei desastrosamente nele.
– Desculpa, foi sem querer – disse, sem jeito.
Ele me olhou com ternura e respondeu:
– Nada, isso acontece – passando o guardanapo na blusa tentando limpar o estrago.
– Como sou desastrada. Deixa que eu limpo.
Peguei mais guardanapo na cantina e tentei limpar aquilo. Coisa impossível de sair somente com guardanapos.
– Qual seu nome? – ele me perguntou.
– Diana – respondi, sem jeito.
– Diana, como a deusa?
– Que deusa? Eu? – perguntei, ajeitando meus óculos.
Nunca ninguém havia me comparada a uma deusa. Logo eu. Uma menina desengonçada de óculos e aparelho nos dentes. No máximo eu me via como um patinho feio que nenhum garoto pensaria me namorar.
– Sim você. Seu nome é Diana como aquela deusa. Sabe de quem estou falando? – continuou ele.
– Não conheço nenhuma deusa Diana. Sou apenas Diana. Ou Dia como minhas amigas me chamam.
– Poxa, quem interessante. Nunca havia conhecido alguém que se chama Dia, prazer, meu nome é noite – ele estendeu a mão sorrindo.
– Deixe de brincadeira. Sei que seu nome não pode ser noite. Como se chama afinal?
– Perdão. Estava brincando. Meu nome é Roberto.
E assim se deu nosso primeiro encontro.
Naquela época tínhamos muitos sonhos.
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Diana - Uma História de Amor e Liberdade
RomanceDiana é a história de luta de uma mulher que quer conquistar seus sonhos. O que a impede é um casamento de duas décadas. O que fazer? Se separar seria a melhor opção?