KALEIDOSCOPE • Jikook [abo]

[36] you drew stars around my scars

Jeon Jungkook estava paralisado no meio do quarto, observando a chuva voltar a engrossar e cair com força do lado de fora como se estivesse hipnotizado.

Estava noite ou madrugada? Não sabia dizer, mas sempre acreditou que a chuva representava mudança, e foi por isso que sempre a amou, nunca havia sido o tipo de pessoa que acostumava-se facilmente com rotinas e coisas repetitivas, porque era aventureiro em sua natureza.

Então sem entender o que estava fazendo ali, continuou olhando para a janela daquele quarto que nem mesmo era seu, ainda não entendendo o motivo de estar ali.

—Senhor Jeon. —Ouviu uma voz suave às suas costas, o que lhe fez despertar daquele transe.

Piscando um tanto confuso ele se virou até encontrar o rosto envelhecido de um beta, que carregava uma pequena pilha de lençóis em suas mãos e o encarava com um misto de preocupação e precaução.

—Onde estou? —Ele lhe perguntou.

—No castelo Min, senhor. —O beta lhe respondeu, parecendo estranhar a confusão do líder.

Jungkook franziu o cenho, olhando ao redor daquele quarto elegante, a mesa virada no chão cheio de papéis sujos de tinta.

—O que estou fazendo aqui? —Ele perguntou, completamente confuso.

Sentia dentro do peito uma angústia fora do comum, uma pressa, um medo e um enorme sentimento de perda.

—Como assim, senhor? —O criado perguntou, estranhando seu comportamento.

Foi como um dejá-vu, porque muitas vezes havia "despertado" em lugares inusitados sem saber exatamente o que lhe motivou a estar lá.

—Seu ômega saiu a várias horas, e...

—Meu ômega? —Questionou olhando para o rosto do criado.

—Seu ômega, Jimin.

O nome familiar causou-lhe diversas sensações, entre elas o coração ardendo no peito de tão forte e rápido que batia.

—Jimin...—Sussurrou, o nome quase se deliciando em seu paladar. —Jimin.

Seu lobo estava lhe deixando agitado, seu corpo todo sendo atingido por um pico de adrenalina.

"Você vai esquecer essa conversa e vai esquecer que um dia fui seu."

E então as lembranças vieram com tudo, cada uma delas, como um turbilhão atingindo sua mente.

Desde o primeiro momento em que o viu, quando ainda eram dois bebês e sentiu necessidade de se aproximar do outro. E depois quando eram crianças e sua necessidade e vontade estavam sendo cada vez mais fortes, e tudo o que queria fazer era estar perto sentindo seu cheirinho viciante e maravilhoso. E então quando se tornaram pré-adolescentes e foram as poucas vezes que conseguiu tocá-lo, porque logo antes de entrarem na adolescência de fato, ele foi tirado de si.

Arrancado da sua vida.

Lembrou-se perfeitamente do dia em que foi ao clã Pure seguindo sua voz como se estivesse sob o efeito de um encanto, e depois de ter assassinado vários alfas o encontrou lá, e o beijou pela primeira vez. Foi como sentir o paraíso por alguns minutos para logo em seguida ser jogado no inferno novamente, o inferno do limbo, do esquecimento, da saudade e do sofrimento que era viver sem ele.

Mas então reencontrou-o no dia daquele casamento.

Lembrou das sensações que sentiu invadindo o castelo. Da ira e do sentimento de vingança por seu clã, pela sua família e por Taehyung, mas então tudo pareceu perder a importância, porque seu lobo estava praticamente gritando para si que aquele era seu ômega, seu amor.