Eu confio em você

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    Não era para aquilo estar acontecendo. Era para ser uma missão fácil, invadir um armazém onde aquelas balas estavam sendo vendidas ilegalmente, pegá-las e dar o fora. Já haviam feito isso várias vezes, inúmeras missões como aquela.

    Quando que começou a dar tudo errado?

    “Talvez tenha sido quando a Liga dos Vilões atacou o armazém para roubar as balas, ou talvez quando eles viram nos dois lá e resolveram atacar” Midoriya pensou. “Não, com certeza foi quando Kacchan foi acertado por uma das balas, sim, foi ali que tudo deu errado”

    Ele olhou para o homem que estava segurando, ele não parecia nada bem. Vários cortes pelo corpo, já estava formando uma poça de sangue embaixo deles, e Izuku tinha quase certeza de que havia vários ossos quebrados ali, se o modo que Bakugou respiravam indicava alguma coisa. Bom, ele deveria estar agradecido que ele pelo menos estava respirando.

    - Ei nerd, eu consigo te ouvir pensando besteira, para com essa merda agora, eu estou bem.

    “Não, você não está” Midoriya queria gritar “Você está tudo menos bem”

    - Eu sei... eu só... só... – Ele tinha que para ali ou iria começar a chorar, não queria isso, não era ele que havia perdido a individualidade, não era ele que estava machucado, não era ele que as chances de não sair vivo dali até a ajuda chegar eram enormes, ele não tinha que ficar chorando, não naquele momento.

    - Para com isso seu idiota – Izuku sentiu uma mão quente fazer um carinho em sua bochecha, se inclinou na mão procurando mais daquele conforto. Ele era tão patético, mesmo naquela situação era ele que estava precisando de conforto, ele não deveria precisar disso, ele deveria saber os tirar deli, ele deveria ser capaz de salvar seu amigo de infância.

    – Eu falei para parar de pensar besteira. Você está se culpando por não conseguir nos tirar dali, eu sei que eu estaria fazendo o mesmo, mas está tudo bem, ninguém conseguiria, não é culpa sua.

    Izuku queria pedir para ele parar de falar, já que poderia apenas agravar a situação dos seus machucados, que já não era as melhores, mas não tinha coragem. Ele precisava ouvir aquela voz, precisava saber que ele ainda estava ali, precisava do conforto que aquelas palavras lhe davam.

    Depois de tantos anos juntos, Midoriya tinha o orgulho de falar que ele conhecia seu Kacchan melhor que qualquer outra pessoa, ele era única pessoa que conseguia entender aquele garoto totalmente. E talvez seja por isso que notou que Bakugou estava mentindo quando falava que estava tudo bem, que ele estava tentando esconder a dor e os sentimentos para que não se preocupasse com ele,  que ele esta tentando enganar a si mesmo que ia ficar tudo bem.

    -Kacchan – chamou – Lembra quando eu prometi que nunca iria usar aquilo contra você? Quando éramos crianças?

    -... Lembro – Por que está trazendo isso agora?

    - Você sabe que guardar sentimentos não é bom, faz mal para o seu corpo, você já me falou isso. Eu quero poder ver você real por uma última vez... por favor. Você está precisando disso também.

    Izuku encarou aqueles olhos vermelhos pedindo por permissão, aqueles olhos que sempre lhe lembravam dois grandes diamantes vermelhos, brilhantes e bonitos. Talvez tenha se apaixonado quando pôs os olhos naqueles dois diamantes pela primeira vez.

    Bakugou o estava encarando, conseguia encontrar um medo nos meio de toda aquela raiva habitual. Izuku sabia que não era fácil para Bakugou dar permissão, não era da natureza dele confiar. Lembrava como havia ficado emotivo quando ele lhe contou sobre. Eles eram crianças na época.

    “O pequeno Izuku estava acalmando um pequeno Katsuki que estava chorando. Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Izuku não sabia de toda a história, apenas sabia que seu amigo estava em algum programa que fazia ele ir de família em família já que os pais dele não estavam ali e que todas essas mudanças deixavam seu amigo triste. Agradecia que uma das condições para uma família que Katsuki queria era que fosse perto de Izuku, para poderem se encontrar.

    Mesmo que depois Katsuki nunca comentasse sobre esse momentos e fingisse que nunca aconteceu, Izuku ainda se sentia honrado que o amigo confiasse em si o bastante para chorar a sua frente.

    Essa família que ele estava agora era a que ele estava a mais tempo, quase 3 meses já e sabia que Katsuki estava feliz com eles. Não sabia o que poderia ter causado aquela crise de choro.

    -Kacchan, você não quer me contar o que aconteceu? – Izuku falou hesitante, nunca saberia como o menino no seu colo reagiria. – Talvez você se sinta melhor.

    - Eu menti quando disse que não lembro da minha mãe – Izuku sentiu Katsuki apertar mais forte seus braços, mas nunca reclamaria, também nunca diria que amava ficar daquele jeito. – Quer dizer, eu realmente não lembro quase nada dela, mas eu lembro... de algumas coisas.

    -Foi uma dessas coisas que fez você ficar assim? – Izuku se acomodou melhor nos braços do melhor amigo, apoiou o queixo no ombro do amigo para ter um apoio e aproximou um pouco mais os corpos, queria passar seu total carinho para o outro agora.

    -Mais ou menos... – Izuku estava surpreso como a voz, que sempre carregava segurança, agora cada frase saia hesitante, torcia para ele mesmo não começar a chorar – Eu confio em você Izuku, então o que eu vou te contar, você não pode contar para ninguém.

    Agora mesmo que Izuku iria chorar, mas ele não sabia qual parte daquela frase chorar primeiro, se pelo fato dele lhe falar que confiava nele, ou por ele ter usado seu nome real e não “Deku”. Respirou fundo para não chorar, tinha que passar confiança que estava faltando no outro.

    - Minha mãe fazia uma coisa comigo quando ela achava que eu estava mentindo sobre meus sentimentos, eu lembro dela fazendo isso durante muito tempo. Aconteça que agora, qualquer pessoa faz isso eu começo a sentir tanto que não consigo esconder – Katsuki deu uma pausa para respirar. – Eu contei para a família que estava ficando comigo porque confiei neles. Hoje eles tentaram usar isso em mim sem minha permissão quando eu explicitamente disse que não queria.

    Agora Izuku entendia de onde vinha todo aquele choro. Era difícil para Katsuki confiar em alguém, demorava um pouco, era algo muito especial ele confiar em alguém. Quase conseguia sentir a dor que o outro estava sentindo.

     - Eu me senti tão... não sei, abusado? Eu confiava neles e eles invadiram meu espaço sem pedir e me machucou... – Izuku tentava o acalmar quando o outro começou a chorar de novo, mais forte ainda, finalmente deixando todos os sentimentos saírem do pequeno corpo.

    - O que sua mão fazia com você? – Izuku perguntou, sabia que ele poderia fazer essa pergunta, Katsuki havia deixado explicito que confiava nele, iria honrar aquela confiança até o final de sua vida. – Sabe, para eu não acabar fazendo sem querer, não quero te machucar nunca.

    - Meu pescoço – ele falou baixinho, olhou para cima encontrando com os olhos verdes que tanto gostava – Ela fazia um carinho bem onde meu cabelo encontra minha nuca.

    Izuku iria guardar aquela informação para nunca fazer e jurava que nunca iria contar para ninguém. Jurava por tudo que era mais sagrado que não iria deixar mais ninguém machucar seu melhor amigo.”

    Midoriya queria chorar ao notar a ironia de estarem na mesma posição da lembrança, o destino realmente não gostava dele.

    - Eu... aceito. Eu confio em você Izuku – Bakugou disse por fim, se acomodando melhor no colo do outro, dando um grunhido de dor no caminho pelos machucados. Sua visão estava começando a ficar borrada, então piscou algumas vezes forte para ver se passava, mas continuava ali. Deu outro grunhido, mas agora irritado, se fosse para morrer que pelo fosse rápido, ficar sofrendo daquele jeito era irritante.

    Midoriya sorriu para acalmar o outro, tentando esconder como ouvir o próprio nome depois de tanto tempo o havia afetado. Bem devagar, para que Bakugou não se assustasse ou ficasse mais tenso, foi direcionando sua mão para o pescoço do outro. No meio do caminho, conseguia sentir o sangue que estava saindo pelo corpo dele, era uma quantidade alarmante, realmente não sabia se a ajuda conseguiria chegar a tempo. Sorriu para enganar o choro que estava entalado na sua garganta.

    Quem estava se engando agora?

    Quando a mão chegou no pescoço, Midoriya ouviu a respiração de Bakugou ficar mais rápida. Com a outra mão mexia em círculos nas costas dele para o acalmar, e assim, começou a mexer a mão que estava no pescoço, fazendo uma pequena massagem.

    A reação foi quase instantânea, as mãos fortes agarraram as costas de Izuku com força, sentia contra sua corpo as vibrações do outro corpo. No seu pescoço sentia que estava molhando de pouquinho em pouquinho, mas não sabia se era sangue ou lagrimas. Apenas continuou massageando enquanto o outro finalmente abaixava todas as guardar e se deixava sentir pela primeira vez em muito tempo.

    Um tempo depois Bakugou começou a se mexer, Midoriya queria pedir para ele ficar naquela posição porque se ele se mexesse demais poderia acabar piorando, mas não impediu o outro de deitar no chão de barriga para baixo, então ele entrelaçou as braços na cintura de Izuku e afundou o rosto em sua barriga.

    Izuku estava confuso do porquê Bakugou quis aquela posição, mas não parou com o carinho que estava fazendo e com a outra mão que antes estavam nos costas, foi para os cabelos loiros, fazendo um carinho ali também.

    - Eu nunca pedi desculpas - Izuku se assustou quando a voz fez vibrações em sua barriga, quase deu uma risadinha pelas cócegas. – Nunca me desculpei por tudo que fiz quando a gente era criança. Nunca me desculpei por ter te machucado.

    Izuku lembrava daquilo. Logo depois da conversa que tiveram onde Bakugou lhe contou sobre seu pequeno segredo, ele passou a lhe evitar e ser mais agressivo. Realmente, ele nunca havia se desculpado.

    -Não... você nunca se desculpou.

    - Então escuta o que vou falar agora nerd – Bakugou retirou a cabeça de onde estava escondido e olhou em direção a Izuku, olho nos olho. Izuku agora conseguia ver as lagrimas que manchavam aquele rosto tão confiante que conhecia. – Eu tô sentindo tanto medo agora, sinto cada parte do meu corpo gritando e se contorcendo de medo, e era isso que eu sentia. Eu tinha medo do tanto que confiava em você. Medo do que eu iria sentir se você algum dia traísse minha confiança. Eu sabia que iria doer demais, eu não queria sentir aquilo, iria ser devassador para mim. Eu sinto muito por minha versão criança ser tão covarde. Me desculpe por tudo Izuku, tudo que eu fiz, eu quero me desculpar por tudo.

    Midoriya nem tentou segurar as lagrimas como estava antes, deixou elas saírem livremente pelo seu rosto, via até que algumas estavam até caindo no rosto do outro.

    - Eu estava com medo de deixar você para trás sem dizer isso, sem me desculpar, você não merece isso. Eu quero que você viva uma vida feliz Deku.

    - Para – Izuku disse entre lagrimas, o desespero finalmente estava tomando conta do seu corpo – Você não vai morrer! Não aqui, não agora, não desse jeito.

    - Izuku – Bakugou deu um sorriso para o outro menino – Eu não estou mais com medo, agora não estou mentindo. Eu tinha tanto medo de você me odiar.

    - EU NUNCA PODERIA TE ODIAR – Midoriya finalmente gritou, gritou como queria desde que foram atacados. – VOCÊ FOI A MELHOR COISA DA MINHA VIDA.

    - Isso é bom... – Bakugou continuava sorrindo, era cheio de carinho, todo o amor que tinha pela pessoa a sua frente ele estava querendo mostrar pelo sorriso. – Eu achava que ficaria com mais medo quando minha individualidade se fosse, mas estou feliz que é você que me viu desse jeito. Sempre te caçoava por não ter uma, o karma realmente me pegou.

    - CALA A BOCA – Izuku olhava para aquele homem que não parava de sorrir com o coração totalmente apertado, parecia que alguém que estava esmagando-o, até dificultam-te sua respiração. – Nós vamos sair daqui, podemos ir para a Eri, ela aprendeu a controlar os poderes, você vai ficar bem.

    - Izuku, eu preciso te contar uma última coisa.

    -Por favor, não faz isso, você vai viver e ficar bem.

    - Eu te amo Deku, você foi meu melhor amigo e a melhor coisa que a vida poderia me dar...

    Izuku começou a se desesperar quando viu os olhos se fechando, começou a gritar para que ficasse de olhos abertos, que a ajuda já estava chegando, que se ele conseguisse se manter acordado eles iriam conseguir sair dali, que assim eles poderiam se encontrar com todos da classe de novo, iriam comer a comida dele que mesmo reclamando sabiam que ele amava fazer, iriam dormir na cama da casa deles, iriam receber de novo um sermão do Aizawa que mesmo depois de anos agia como professor deles, que só mais um pouquinho e eles iriam conseguir.

    - Eu te amo também... por favor, não me deixa.

    Midoriya não sabe quanto tempo ficou ali, mas apenas despertou de seu transe quando a ajuda finalmente chegou. Levaram o corpo e atenderam ele, que apesar de alguns machucados, não havia nada mais grave.

    Quando saiu dali, vendo seus amigos correndo para si e rodeando eles com abraços, prometeu a si mesmo que iria viver.

    Iria viver.

    Iria viver a vida mais feliz que conseguia, esse foi o último pedido da melhor pessoas que conheceu em sua vida e seguiria por toda a vida.

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⏰ Última atualização: Aug 30, 2020 ⏰

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