Can we stay like this forever? (Especial Parte 2)

59 3 64
                                    

Quando eu era criança, tinha o hábito de prestar muita atenção nas conversas dos adultos. Eu sempre era repreendida por isso, mas não conseguia evitar. Alguns assuntos eram simples, outros incompreensíveis, mas os meus favoritos eram os que tratavam de casamentos. Minha mãe não era de conversar muito com a senhora Shin, mas quando o fazia eu já sabia o que era a pauta - um novo casal havia sido anunciado. Eu até entendia a euforia delas quando tal coisa acontecia, os casamentos do nosso meio são eventos maravilhosos e muito exclusivos, só os mais influentes são chamados. Contudo, algo que eu não entendia muito bem era a necessidade de meu pai e o de Hoseok discutirem sobre esse assunto.

Levou alguns anos para que eu aprendesse que casamentos são contratos e que filhos são vistos moedas de escambo. Em pleno século XXI, as famílias mais ricas não tem a menor vergonha de arranjar e impor uniões aos seus sucessores, tudo em prol do aumento de sua fortuna e influência. Mesmo estando ciente disso, nunca passou pela minha cabeça que eu pudesse, há qualquer momento, estar sujeita a esse tipo de barbaridade, meu pai até mesmo me permitia namorar. Porém percebi que estava errada quando ele chamou a mim e a Edward para um brunch, a presença obrigatória.

Para mim, aquilo não passava de um evento comercial no qual ele pretendia exibir sua família fantástica e feliz, mas era muito mais que isso. Posso comparar aquela situação horrenda com uma feira de exposição de animais, um latifundiário rico vem, examina os animais e depois sai comprando a melhor mercadoria, aquela que vai lhe trazer mais lucro. Ali, os pais eram os latifundiários e os jovens eram os animais. Meu estômago se revirava a cada vez que um dos velhos babões se aproximava de meu pai e eles trocavam cumprimentos sem disfarçar o olhar analisador que punham sobre Edward e eu. A voz de papai era quase tão nauseante quanto, "sim, esta é minha Kate. Linda, não é?" "Edward já está formado e trabalhando na empresa. Irá assumir quando eu quiser parar com essa besteira de trabalhar." Ele ria como se estivesse mostrando seu gado premiado. Meu irmão não tirava sua mão de meu redor, talvez por medo de que eu desmaiasse, talvez por precisar dar uma função ao seu braço que não fosse socar aqueles crápulas.

Quando um dos amigos mais antigos de meu pai se aproximou que eu descobri que, para meu pai, aquilo era o meu xeque-mate. "Pensei que não traria Kate para conhecer o Julian tão cedo." Meu pai sorriu e respondeu que queria apressar os negócios, disse que eu já não era mais criança e que não havia ganho em esperar. Aquelas palavras me acertaram como dardos teleguiados. "Apressar os negócios", "ganho". Aquilo já estava planejado há anos, agora a ficha havia caído de vez. De repente, meu pai me puxa e me afasta de Ed. Seu aperto em meu braço é firme e transmitia um pouco de sua energia autoritária. Às vezes, me perguntava como mamãe havia tido coragem de se casar com alguém como ele e agora, diante de uma situação como a que me encontro, me pergunto se ela já não esteve no mesmo lugar que eu e, se sim, como ela saiu dessa.

"Endireite sua postura e não ouse abrir o bico." Foi a última coisa que ele sussurrou para mim antes dos Roman se aproximarem de nós. Assim que pousei meus olhos em Julian Roman eu soube que não me casaria com ele nem morta. O garoto possuía um sorrisinho arrogante, mas, ao contrário do de Hoseok que era cheio de charme e humor, o dele era carregado de petulância e prepotência. Ao me cumprimentar, ele deixou um aperto tão forte em minha cintura e um selar tão próximo de minha boca, que tive que me esforçar para manter meu café da manhã bem onde ele deveria ficar. Nossos pais iniciaram uma conversa sobre preparativos e datas, pareciam não notar a forma como Julian me olhava, como se tomasse minhas medidas. Eu olhava constantemente para a porta principal, na esperança de que meu namorado, o verdadeiro amor de minha vida, aparecesse em uma armadura reluzente e me resgatasse. Mas aquilo não aconteceu e eu tive que ficar ali, de pé ao lado de três homens que pareciam planejar a melhor forma de me torturar.

One NightOnde histórias criam vida. Descubra agora