Picanço 9.2

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2012

A Junção não é lugar para uma criança.

Eles anunciam isso para Jimin. Todo mundo no abrigo, todo mundo nas ruas, todo mundo que encontra em sua busca por respostas.

Vá pra casa, dizem, ou vá para a escola.

Mas a escola acabou - finalmente, finalmente acabou - e Park está livre para viver a própria vida do jeito que quiser.

É claro, seus pais estão descontentes. A decepção enruga suas bocas, crepita pelo telefone nos tons baixos das vozes como uma capa permanente de gelo sobre a relação entre eles. Você podia ter feito qualquer coisa, dizem. Podia ter feito qualquer coisa com as suas notas, com a sua inteligência. E foi isso que você escolheu.

Jimin os diz que ama dança. Diz que nada o faz sentir tão vivo quanto quando seus pés deslizam pelo chão de um estúdio não-existente de acordo com a batida de um ritmo não-existente. É apenas uma entre as milhões de mentiras que inventou para que eles acreditassem, nas esperanças de que o ódio pela dança os distancie menos dele.

O ódio que eles tem por seu outro hobby é bem maior.

A Junção se estende. Quando Park andou por ali pela primeira vez, recém saído de um trem de Busan, não tinha esperado ver Extraordinariedades a cada canto. Em Busan os Extraordinários mantinham-se mais quietos, não demonstrando as habilidades externamente nem nas seções isoladas da cidade. Na Junção havia tanto os Extraordinários que obedeciam a lei e usavam tornozeleiras eletrônicas , quanto os que estavam pouco se fodendo para isso. Ele viu homens que podiam levitar e mulheres que manipulavam o tempo. Deparou-se com um homem que moldava metal como se fosse argila. Esbarrou em pessoas que manipulavam ar e água e terra de acordo com suas vontades, e às vezes coisas mais estranhas - sangue, vidro, células.

Nenhum deles conhecia, ou tinha ouvido falar de um Jeon Jungkook.

A obsessão de Jimin em saber o que tinha acontecido com o amigo tinha enraizado-se profundamente em sua pele.

   Os pais fizeram-no consultar-se com médicos, homens velhos e entediantes com pranchetas e que tentaram dizê-lo que tinha que deixar isso pra lá, que fixar-se em algo tão introdutório de sua infância era ruim para o desenvolvimento geral dele. Isso não importou. Havia um mistério - envolvendo um garoto que tinha trazido coisas mortas de volta a vida, uma agência misteriosa que tinha levado-o para longe, e o jeito como a escola de Park e todo os adultos em sua vida tinham apenas aceitado aquilo sem questionamentos.

Jungkook era Extraordinário, mas ele também tinha sido só um garotinho. Para onde poderia ter ido?

Jimin pesquisou fervorosamente sobre agências misteriosas do governo e Extraordinários desaparecidos. Leu blogs conspiracionistas sobre centros de experimentação humana e estudos teóricos sobre pessoas com habilidades. Achou fóruns de pais lamentando o desaparecimento de crianças Extraordinárias desaparecidas - sobre os quais a polícia não investigava. O nome de Jungkook começou a aparecer em sua mente junto com os nome de outras crianças perdidas. Escreveu a respeito de tudo isso em cadernos, usando o antigo código especial que tinham.

E então quando a escola tinha acabado e ele ainda não tinha respostas, decidiu vir até aqui.

Até a Junção.

Tudo que têm pistas sem futuro e um punhado de nomes. A Junção é um lugar difícil de se navegar e seus habitantes ainda mais difíceis de contactar. Como um Ordinário, Jimin não é ninguém aqui - apenas um rosto numa multidão, indigno de uma segunda olhada.

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