Olhando no relógio de pulso pela quinta vez em menos de 5 minutos, o loiro se encontrava no ápice do nervosismo. As mãos suadas, os dedos tamborilando na calça social, os passinhos nervosos, os dentes mordiscando os lábios inferiores. Josh era a perfeita imagem de alguém prestes a ter uma síncope nervosa por uma das razões mais clichês possíveis em casamentos: a noiva estava ridiculamente atrasada. Atrasada mesmo. Mais de 40 excruciantes minutos, para ser mais exato.
— Hey, ela vai chegar logo...
Com um pulinho de susto e um arquejo engasgado, o rapaz leva suas mãos ao peito, como quem procura se acalmar. Uma visão bastante cômica, contudo, completamente justificável, se me permitem dizer.
Acenando levemente para Lucas, um dos padrinhos de casamento, Josh confirmou que já possuía conhecimento sobre essa informação, o que, diga-se de passagem, não diminuía nem um pouco seu nervosismo. Pelo contrário, multiplicava em escala logarítmica.
Tentando se distrair por alguns momentos, o loiro passa seus olhos pelos convidados presentes na igreja. Alguns rostos lhe eram mais familiares do que outros, mas a empolgação e felicidade pelo casamento estavam presentes em unanimidade nas expressões de todos. Poucas pessoas que o perceberam observando acenaram em forma de cumprimento, fazendo com que o rapaz desse pequenos sorrisos em resposta, somente para demostrar a educação polida advinda da rígida Dona Ursula, já que sua vontade era de sair correndo e vomitar no porta guarda-chuvas da sacristia.
O que o impediu de realizar esse glorioso (e vergonhoso) ato, além, é claro, das pernas bambas e da mente nublada com o nervosismo, foi o burburinho crescente entre os convidados, começando pela porta da igreja e se expandindo até o altar, deixando mais do que claro que, finalmente, a pessoa mais importante da noite resolvera dar o ar de sua graça.
Ela havia chegado.
Sem conseguir raciocinar logicamente por alguns segundos e completamente desestabilizado devido à falta de oxigenação no cérebro por prender a respiração por mais tempo do que deveria, o loiro recobra aos poucos sua noção de tempo-espaço e posiciona-se corretamente no altar.
Ao terminar de se ajeitar, o loiro passa a observar a entrada lenta e compassada da dama de honra, uma diminuta e rechonchuda menina, de pele negra, com olhos e cabelos castanhos, que traz consigo uma pequena e delicada cesta, do mesmo tom branco-gelo de seu vestido, de onde retira pequenas pétalas de peônias e as espalha por todo o caminho até o altar. Já o pajem, um menino esbelto e com fofíssimos cachinhos loiros e olhos acinzentados, que estava decididamente pomposo em seu clássico smoking preto com gravata borboleta, leva em suas mãos um par majestoso de alianças douradas sobre uma pequena almofada de seda. Após ambos percorrerem todo o (segundo eles mesmos: longo, incrivelmente cansativo e chato) caminho, as crianças se dispõe ao lado esquerdo do padre, próximos a Josh.
Os momentos seguintes são de pura tensão e expectativa, o silêncio esmagador, os olhos de todos voltados para uma única direção, a espera infindável pelo momento mais aguardado do final de tarde daquele vinte e três de setembro...
No exato instante que a tão característica melodia matrimonial se inicia, as portas da igreja começam a se abrir e, como se o mundo entrasse em modo de câmera lenta, toda a percepção do loiro se modifica. A passagem de tempo se torna mais devagar, as cores perdem o brilho, os sons já não soam mais nas mesmas frequências. Tudo ao redor dela se torna apagado, sem graça, monótono, porque ela estava lá, linda, sorrindo, perfeita, com um longo vestido branco estilo sereia, segurando um buque de peônias, o cabelo semipreso em um coque despojado, com alguns cachos lhe emoldurando a face.
Ela estava lá.
Ela.
Any Gabrielly.
De braços dados com seu pai, ela parecia flutuar ao caminhar pela igreja. O vestido ondulando ao seu redor, a animação estampada em sua expressão, a simpatia e cordialidade com o qual cumprimentava todos os convidados, acenando, mandando beijos, sempre sorrindo, esbanjando fluidez e elegância. Ela era a perfeita imagem de alguém no dia mais feliz de sua vida. Para mim, a moça parecia uma criança cujo sonho mais feliz estava se realizando. Para Josh, no entanto, era a visão da mulher mais linda do mundo, sua melhor amiga, o amor de sua vida.
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Quarrels of Destiny
FanfictionDe certa maneira, controlamos nosso fado, tomamos nossas próprias decisões e mudamos os rumos de nossa vida. Mas o Destino, sendo uma força inexplicável e poderosa, também nos molda à sua vontade. Esse é um pequeno conto sobre duas pessoas que influ...