January, 1
Olá, querido diário que está em minhas mãos geladas.
Estou com frio, por que aeroportos tem que ser tão frios assim?
Talvez nem seja isso...talvez seja o medo.
Medo que estou sentindo.
Medo de ir em bora.
Sempre fico assim...quando estou nervosa/triste com algo começo a ter calafrios mesmo que esteja muito quente.
Hoje é o dia da minha viagem à Paris
Sempre admirei aquele lugar desde quando eu era apenas uma pirralha, e agora vou realizar esse sonho, e tomar café na xícara, ao invés de copo térmico.
Estou tão animada mas, ao mesmo tempo, insegura.
Essa vai ser a primeira vez em que saio de casa.
Digo, vou para fora do país...
Vou passar um ano em Paris
Nem acredito nisso!!!
Não sou muito acostumada em escrever coisas do tipo, fiz isso apenas por insistência de minha amiga, Madeline.
Nos falamos por e-mail pelo fato de que ela é de Paris e eu sou de Brighton
Ah, sim, um dos motivos de eu ter ido viajar para Paris - também - foi por causa dela, quero a encontrar pessoalmente.
Preciso ir agora...já vão anunciar meu voo. Até logo, diário.Guardei o diário na bolsa e respirei fundo umas três ou quatro vezes antes de correr para a sala de embarque.
Me acomodei no assento ao lado da janela do avião e comecei a pensar na vida.
A essa hora, meus pais devem estar trabalhando, e meu irmão, provavelmente, na escola ou no quarto, estudando.
Não tenho família por parte de nenhum dos meus pais por perto. Todos eles estão em outros países, e eu nunca conheci nenhum deles, só a minha avó, que conversa comigo todos os dias por Skype.
Ela é quase minha melhor amiga. Eu a considero como minha mãe, mais ainda, até, do que a minha própria mãe.
Minha mãe...ah, bom, ela trabalha muito.
Sinceramente nunca tivemos um momento feliz juntas desde que eu nasci, e ela admite isso.
Não é que ela não me ame...mas não me sinto à vontade perto dela por algum motivo...
Com meu pai é quase a mesma coisa, no entanto, ele que cuidava de mim. Foi assim até os meus cinco anos de idade.
Mas mesmo não tendo a presença dos meus pais, eu era muito feliz. Tenho uma madrinha e ela se chama Rebecca. Ela cuida da casa também e sempre me tratava como a filha dela, já que nunca pôde ter uma.
Éramos algo tipo; ela queria um filho, e eu, uma mãe.
Meu irmão é dois anos mais novo que eu, e às vezes eu sinto que nós dois somos apenas a solução que meus pais acharam para esquecer dos problemas.
Sim, relações sexuais.
Pode parecer meio (muito) ridículo pensar dessa forma, mas, por um lado, é verdade sim.
Não tem motivos para a minha mãe fingir que nós não existimos.
E sinceramente, se eu visse minha mãe sorrir, provavelmente já iria correr para a loja de brinquedos para crianças, pois provavelmente iria ganhar um irmãozinho/irmãzinha.
A última vez que vi meus pais sorrirem foi duas semanas antes de me falarem que eu ia ter um irmão, e nem sequer fiquei sabendo por eles, minha madrinha me contou.
Nicolas deve pensar a mesma coisa, e ele teve mais "azar", porque nunca viu meus pais sorrirem.
Ele estuda muito, e não liga para isso (pelo menos é o que ele diz, no fundo ele provavelmente liga sim), ao contrário de mim, ele odeia viajar, sempre diz que é "perda de tempo". Ah, coitado! Não sabe o que está perdendo.
Ops! Recebi uma ligação por Skype"Oii Alice!"
"Maddy? Oi, por que estava me ligando?"
"Me ansiei de mais, não podia esperar você chegar aqui em Paris. Falando nisso, já está chegando? Preciso avisar aos meus pais que vou te buscar no aeroporto"
Madeline era meio atrasadinha...às vezes parece que ela é uma criança.
Ela tem minha idade, e ainda pede permissão para sair de casa... não sei se com dezenove ainda precisa pedir permissão.
"Eu ainda estou no avião e acabei de embarcar, se acalma, apressada"
"OK, não vou incomodar a princesinha"
"Princesinha?? Eu 'tô mais para 'rainha independente', não concorda? Soa até melhor" brinquei.
"Muito engraçado, viu? Estou chorando de rir. Vou desligar e me arrumar. Me espera no aeroporto"
"Beijos"Fechei o computador, apertei os olhos e mordi o lábio em busca de controlar minha ansiedade.
Fiquei encarando o computador fechado em cima da bandeja do assento da frente, enquanto fingia que isso tudo não passava de um sonho, e que logo iria acordar. Eu estava assustada, mas maravilhada ao mesmo tempo.