Samuel. Eu gosto de você em stand by.
Sabe quando a gente deixa a televisão ligada, mas meio desligada, fingindo que não estamos gastando energia quando na verdade estamos a um passo de ligar ela de novo e zanzar entre os canais até achar alguma coisa que preste? Ou que não preste? Mas a gente gosta o bastante pra se acomodar ali e fingir que tá assistindo?
Fingir. É tudo sobre fingir, Samuel.
Quando a gente conversa e eu fico olhando pra sua boca e você me pergunta se tem algo ali e eu sempre digo que tava divagando ou que você tá com o dente sujo é isso aí, ó. Fingimento. Tô sempre pensando se é estranho demais ficar em beijos no âmbito biológico. Será que é normal querer tanto saber se o gosto do beijo de alguém é de menta ou por quanto tempo a saliva daquela menina que você namorou ainda ficou na tua boca?
SERÁ QUE AINDA TEM BACTÉRIA DELA AÍ, SAMUEL?
Não sei, e acho que não tenho nada a ver com isso. Mas é uma curiosidade válida, certo?
Eu sei que você gosta das coisas diretas e retas, sem muita enrolação ou incertezas... Mas poxa, Samuel, eu realmente gosto muito de gostar de você assim, em stand by. É um sentimento bom demais saber que assim como você não deve nada a ninguém (só ao sorveteiro do bairro, talvez), eu também não preciso me explicar pra você.
Legal mesmo é saber que você vai chegar em casa depois de um rolê e eu vou te perguntar como foi e tu vai dizer:
—Foi uma merda. Pisei em cocô de cachorro com o tênis novo.
Aí a gente vai rir, atravessar a madrugada falando besteira, às vezes jogar algum jogo idiota e criar histórias bizarras e desejar experiências épicas ao lado um do outro, mesmo que 90% delas sejam impossíveis de acontecer.
Gostar de você em stand by é confortável. É confortável porque eu sei que você é pelo menos quatrocentos e noventa e sete vezes mais maluco e corajoso que eu. Eu, Mariana, que nunca pintei o cabelo e cortei ele curtinho uma vez só (e foi sem querer). Eu que gosto de conforto, de ficar em casa, de um café ao entardecer, da tranquilidade de poder ficar sozinha, de não usar produtos demais na pele e de escrever demais, assim como estou agora.
Você parece noite de ano novo, Samuel! Você é risadas, explosões de humor, piadas fora de hora, cinco cores de cabelo e fogos de artifício emocionais. Você é sobre músicas animadas, danças desajeitadas, festas imperdíveis e aquela bagunça que eu sinto falta no minuto seguinte ao que você vai embora. Você é como frases em lápis escritas nas margens dos livros, aquelas anotações antigas e difíceis de entender mas que eu viajaria o mundo pra decifrar.
Por isso gostar de você em stand by é meu jeitinho favorito.
Porque é quando eu deixo você falar pelos cotovelos e me indicar as músicas que você gosta, quando eu recebo aquelas fotos-meme suas que eu sei que mais ninguém vai ter, quando eu ouço sua risada exagerada e suas opiniões destemidas sobre qualquer assunto, até mesmo os triviais, é bem aí que eu sei que talvez eu nunca precise ligar essa televisão de fato.
Talvez gostar assim de alguém não seja sobre apertar o botão para trocar de canal toda hora, sabe? Talvez seja sobre manter a tela desligada e perceber que há muito mais a se fazer do que escolher algo numa vitrine de informações.
Samuel, eu não sei se te amo. Na verdade, acho essa uma coisa meio utópica, algo que está bem longe de acontecer.
Mas eu te gosto muito, cara.
Gosto de você a ponto de ouvir músicas e associar ao seu rosto e às emoções que sinto quando você diz que já vem. Gosto do jeito que você se veste e é autêntico na mesma medida em que eu jamais teria a coragem de usar as mesmas roupas. Eu gosto do jeito que cê fala e escreve mesmo quando a mensagem vem toda errada porque, de alguma forma, eu sei exatamente o que você quer dizer.
Eu gosto de sentar e apreciar a vista, Sam.
Eu gosto de pensar que se for pra ser, vai ser. E que se for pra gente um dia sentar na praia de mãos dadas cantando uma música acústica e criando memórias, isso vai acontecer. Se for pra gente ir devagarinho conhecendo cada vez mais um do outro e rindo das piadas sem nexo que você faz, a gente vai acontecer. Se for pra gente chorar juntos e resolver pintar meu cabelo pela primeira vez e estragar ele todo e ler livros nas entrelinhas e jogar RPG de k-pop no WhatsApp por mais 5 anos... Vai rolar.
Mas por enquanto, Samuel, eu espero. Se abrir vaga no teu coração, se der pra fazer uma reserva no voo que é te abraçar apertado e em algum momento nossas vontades se cruzarem, eu aperto o botão.
Até lá, continuo aqui: controle na mão, silêncio no recinto, o café esfriando na caneca e uma meia vontade de ligar a televisão.
Stand.
By.
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Olá! Espero que você tenha gostado do que acabou de ler.
Aqui, escrevo sob o pseudônimo de Zoya Fedorov (que em russo significa que "a vida é um presente de Deus"), mas você pode me conhecer e acompanhar no Instagram. O user é @hadcardoso, e lá eu falo sobre escrita, Direito e minha vivência como uma pessoa negra.
Me chama na DM pra bater um papo ;) Obrigada por tirar alguns minutos para me ler, e até o próximo conto!
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stand by.
Romancemariana até pensou em contar, mas preferiu gostar dele em stand by.