Prólogo

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Sento na janela do meu quarto, abraço minhas pernas e fico olhando para o céu. Amanhã é um dia decisivo, espero que toda a preparação que tive nesses anos seja suficiente. É meu sonho, mas depois da carta que recebi, confesso que estou um pouco apreensiva. Espero que tudo não passe de um alarme falso, porém mesmo assim todo cuidado é pouco.

Enquanto encaro o céu cheia de incertezas, Matt chega de mansinho e começa a tocar um violão. Eu admirava e confesso que invejava a sua capacidade de se manter tranquilo mesmo prestes a enfrentar um grande desafio como o de amanhã.

Ele começa a cantar uma canção antiga que minha mãe cantarolava ao nos colocar para dormir quando crianças. A música era linda, mas não posso deixar de revirar os olhos para a interpretação exagerada dele.

– Por favor, irmãzinha! Vamos lá! Cante comigo.

– Só você mesmo Matt, para ficar tocando e cantando em um momento como este. - Finjo estar brava.

– Melhor do que tentar contar todas as estrelas do céu para distrair a mente.

Olho para ele indignada, eu estava contemplando o céu e não tentando fazer contas.

Meu irmão se aproxima e coloca seu polegar na minha testa, para me impedir de franzir as sobrancelhas. Isso estranhamente sempre funcionava e ainda me fazia sorrir.

– Matt será que vai dar tudo certo? - Digo procurando resposta em seus olhos cor de mel.

– Tomara que sim. Além disso, já enfrentamos tantas coisas difíceis para chegar até aqui, principalmente você, irmãzinha. Fique tranquila, ninguém conhece o Clã como você.

– É verdade, confesso que estou com medo. Não só da batalha, como também de não estar perto de você e de não te ver mais.

– Vai dar tudo certo Clari. - Ele coloca o violão encostado na parede e acaricia meu braço.

Encosto minha cabeça no seu peito e deixo que me faça um cafuné.

– Lembra de quando tínhamos doze anos e você estava morrendo de medo da colheita daquela estação ser ruim e as coisas ficarem mais difíceis?

Balanço a cabeça confirmando.

Eu estava sentada na janela, assim como agora e meu irmão chegou cantando a nossa música de ninar e trouxe paz ao meu coração.

– Você sempre foi tranquilo e confiante. - Digo admirada.

– Pelo contrário, estava aterrorizado Clari. Morrendo de vontade de chorar, mas lembrei do que a nossa canção de ninar dizia. E ela me acalmara. Não precisamos sofrer pelo amanhã, pois ele não nos pertence.

Sorrio para Matt.

– Olha, não sei quanto tempo isso vai durar, mas saiba que somos como as estrelas.

– Como assim? – Fico confusa. Meu irmão às vezes era aleatório.

– O céu pode estar nublado e nós podemos não conseguir ver nenhuma, contudo sabemos que elas estão lá. Na nossa missão, você pode até não estar me vendo, mas estarei com você. Bem aqui. - E aponta para o meu coração.

Uma lágrima silenciosa cai.

– Nós vamos conseguir. Lembra de quanto crescemos desde que nossa jornada aqui começou?

Sorrio, e penso que ele estava certo. Limpo a lágrima teimosa e o abraço.
Resolvo parar de ficar me lamentando e aproveitar a noite. Porque de um jeito ou de outro as coisas amanhã irão mudar o rumo das nossas vidas.

O CLÃ - Série Crônicas do Reino Escondido - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora