Conto 1 de 6 contos do livro: UM LUGAR SEGURO EM MIM

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O conto a seguir contêm spoiler do enredo, se você ainda não leu "um Lugar Seguro Em Mim" sugiro que leia primeiro a história do livro.

Cupcake e filmes de vampiros.

Era tarde, mas ela não queria dormir, sabia o que lhe esperava em seus sonhos, ou seriam pesadelos? Ela queria assistir ao filme até o final sem sentir sono, era o terceiro da saga "Anjos da Noite" que ela vinha assistindo um atrás do outro, seus olhos formigavam, ela piscou e pensou ter visto uma sombra passando para a cozinha, ficou quieta, esperou, não ouviu mais nada.

Luna tinha acabado de fazer dezesseis anos, não era daquela forma que muitas garotas comemoravam seus aniversários. Algo esquisito sempre acontecia nessas datas, e desde o ano anterior ela resolvera que iria ficar em casa, e quem sabe isso se tornaria uma tradição na sua vida, ela começaria aos quinze com uma maratona de filmes envolvendo "Entrevista com o Vampiro", "Van Helsing – O Caçador de Monstros" e "Drácula: A História Nunca Contada", e acompanhada de algum doce, refrigerante e pipoca com queijo frito em cubinhos e muito sal.

Da última vez que ela saiu, aos quatorze anos, foi para comemorar o aniversário numa pizzaria com duas colegas de classe, na verdade ela queria assistir um filme de terror no cinema, mas as garotas não gostavam e ela provavelmente precisaria de um adulto, já que era para maiores de dezesseis, além de quê só havia cinema na cidade vizinha. Na volta para casa ela resolveu vir andando sozinha da casa da colega até a sua que não ficava muito longe e também nem era tão tarde, foi quando ela ouviu em seu pensamento alguém gritar, alguém pedindo piedade, ela viu tudo pegar fogo em sua volta, sentiu-se tonta, quase desmaiando, naquele momento ele fechou os olhos e uma moto quase colidiu em sua frente.

Ela lembrara que o motoqueiro assustado tirou o capacete e saiu da moto perguntando se ela estava bem, ele mal esperou ela responder quando repetiu diversas vezes "pare, pare de rir, eu sou uma boa pessoa, eu sou uma boa pessoa, eu não vou matar ninguém", Luna perguntou por que ele estava falando daquela forma com ela e motoqueiro respondeu: "não estou falando com você, é ela!". E apontou para o seu lado, mas Luna não viu ninguém por perto.

Alguns colegas do segundo ano até tinham lhe chamado para uma festinha mais cedo, porém ela não estava tão habituada com essas festinhas de colegas onde ela sempre ficava de escanteio, as meninas bebiam e terminavam indo para algum lugar com os colegas e amigos deles, ela só queria ficar sozinha, no sofá um balde de pipoca pela metade e um cupcake de cobertura cor roxa com sabor de uva que ela mesma fizera, mas que já tinha enjoado de tanto comer, ainda havia metade de um refrigerante no copo, ela terminou de beber, imaginou que algo com cafeína a faria ficar mais desperta. Esticou as pernas no sofá, aquela sombra que vira era só cansaço.

O filme estava quase acabando, ela ouviu um rangido, parecia que sua mãe tinha levantando-se da cama, em seguida passos vinha da escada, alguém se aproximava, sentiu um alívio quando percebeu que era sua mãe, embora soubesse que ela iria desligar a televisão e dizer que estava atrapalhando o sono dela, e sim, mesmo sendo o seu aniversário, sua mãe dizia que não havia o que comemorar em ficar mais velha e mais rachada, ele virou-se quando a mãe da escada mesmo começou a vociferar:

― O que faz ainda aqui?

― Vou já dormir mãe, estou só finalizando este filme.

― Aqui não é o seu lugar.

Esse era o tipo de frase que sua mãe diria, mas tinha algo estranho, mesmo para ela, ainda era uma frase muito forte, principalmente para se dizer na noite do seu aniversário, se bem que já era quase três da madrugada, ela pensou, "então tecnicamente nem é mais meu..."

― Você sabe que aqui não é o seu lugar!

― Mãe...

― Se eu te encontrei, os outros também podem e ele vai te achar.

― Mãe, você está bem?

― Se eu fosse você eu voltaria por vontade própria... Você nunca estará segura, nunca!

Ela sentiu um arrepio na espinha quando percebeu que sua mãe estava de olhos fechados e mesmo assim vinha em sua direção, ela poderia estar sonâmbula, mas mesmo assim era como se tivesse convicção do que estava falando. Luna levantou-se do sofá e fitou sua mãe com medo e ao mesmo tempo séria.

― Cupcake e filmes de vampiros. Você é tão depreciativa... veja o que se tornou neste lugar, foi para isso que você fugiu do...

Luna nem se importou em ouvir o resto e sacudiu a mãe pedindo que ela acordasse. Ela ainda ouviu uma risada debochada antes de sua mãe despertar e se perguntar o que estava fazendo na sala, Luna explicou que ela estava em estado de sonambulismo e que falava coisas estranhas, perguntou a mãe se ela sentia presenças estranhas, se talvez ela pudesse ser médium e então ouviu como resposta "Estou cansada Luna, eu trabalho na saúde, você acha que eu tempo para essas merdas de bater cartas e búzios? Faz algo útil da sua vida e vai dormir"

Ela voltou para o quarto, Luna ficou sozinha novamente, mordeu o bolinho com cobertura de chantili de uva, foi até a geladeira, ela queria algo mais forte, "que se dane!", abriu uma latinha de cerveja, bebeu de uma só vez, adormeceu no sofá. Ela não percebera, mas uma mão tentava tocar o seu corpo, uma mão cinza e gélida...

"Não importa onde você esteja minha querida, sempre será um inferno!"

A voz desapareceu e Luna já não podia ouvi-la.

A madrugada agora parecia serena, silenciosa e sem mais nenhuma infeliz surpresa de aniversário.

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Cupcake e filmes de vampiros (Um conto de Um Lugar Seguro Em Mim)Onde histórias criam vida. Descubra agora