Capítulo Único

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"Agora você me enfrenta, como homem... de costas retas e orgulhoso, do mesmo modo que seu pai morreu..."
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Se fechasse os olhos, James conseguia visualizar claramente a imagem de sua mãe com o livro infantil 'Os Contos de Beadle, o Bardo'. Ele próprio criança. Amava aquelas histórias. A fonte da sorte, O Bruxo e o Caldeirão Saltitante... Entretanto, havia uma, a última do livrinho, a qual costumava deixar o menino um tanto assustado e confuso: O conto dos três irmãos.

Em sua mente infantil, os três protagonistas morrerem no final estragava totalmente a história. E não conseguia compreender o porquê de o portador da varinha das varinhas ser derrotado tão facilmente.

James até mesmo chegou a falar para sua mãe que, se estivesse naquela encruzilhada com a Morte, provavelmente também pediria por uma varinha poderosa. Euphemia apenas sorria pacientemente e lhe dizia para não ser tão ambicioso. Afirmava que um dia, se crescesse para se tornar um homem sábio, entenderia o terceiro irmão.

E, enquanto ele próprio caminhava para a morte certa, ele de fato o entendia.

— Lily, pegue Harry e vá! É ele! Vá! Corra! Eu o atraso...

Observou a mulher que amava correr com seu filho... O filho deles para o segundo andar. Talvez ela conseguisse chegar à vassoura guardada em seu quarto, e escapar... Salvar a si mesmo e a Harry, pequeno Harry...

E pensar que, há poucos minutos, estivera brincando com seu filho. Fazia bolhas coloridas com sua varinha, levando o bebê a animadamente tentar capturá-las com as mãozinhas. Viu, em seguida, a esposa chegando da cozinha, a mulher havia ido tomar um copo de água. Distraído, James pegou o garotinho no colo, sem prestar atenção em sua varinha rolando para a divisão do sofá.

Grande erro, talvez se estivesse com a varinha naquele momento... Pudesse, se não sobreviver, ao menos ganhar mais tempo para sua esposa e filho, por meio de um duelo.

Mas não adiantava pensar nos e ses.

O que estava acontecendo era inevitável. Ele sabia disso a partir do momento em que o ouviu. Ouviu passos e também o som de galhos de árvores sendo pisados sem a mínima preocupação. De início, pensou que fosse Sirius, que poderia ter esquecido algo de quando passou alí naquela tarde. Ou talvez Peter, por um motivo semelhante. Mas o vulto negro... Não era, de modo algum, um de seus amigos. Pois por baixo dele, James conseguiu ver um vislumbre de feições anormalmente brancas... Sem emoção alguma.

James sentiu seu estômago se revirar ao pensar que Wormtail havia sido capturado. E agora... Ele e sua família também estavam condenados. Mas não... Ele talvez sim, porém precisava dar uma chance à Lily, doce, temperamental, inteligente e incrível Lily, a mulher que amava. Uma chance para ela salvar a si mesma e ao fruto de seu amor, aquele bruxo tão pequenino que ambos amavam com todo o seu ser. Seu filho.

E foi assim que rapidamente entregou Harry a Lily e gritou para que ela fosse. A mulher o encarou com lágrimas não derramadas nos olhos, mas assentiu determinadamente e correu.

E quando Voldemort explodiu a porta de sua casa, James o encarou sem vacilar, desarmado (era tarde demais para procurar a sua varinha), foi então que percebeu que entendia o terceiro irmão. Não tinha sua capa consigo, mas isso ia muito além de ser o portador da capa. Estava acolhendo a morte como uma velha amiga.

O homem nunca quis morrer em batalha. De modo algum, tinha a esperança de morrer rodeado de netos, filhos e velhos amigos. Quando fosse muito idoso, mais velho que Dumbledore. Mas, com uma tranquilidade mórbida enquanto encarava o assassino desalmado em sua frente, ele aceitou que aquilo não aconteceria. Ninguém viria lhe salvar agora, nem mesmo seu melhor amigo... Ah, Sirius. Que Sirius também pudesse ficar bem, ele e Remus. E que pudessem salvar Peter de Voldemort. E estarem com Lily e Harry quando James se fosse. Porque sua família tinha que sobreviver... Ele precisava acreditar que eles iriam sobreviver.

O antigo Maroto respirou fundo e afastou estes pensamentos. Focou totalmente no momento, em encarar o bruxo das trevas que em segundos encerraria a jovem vida do homem.

Pois James não tinha como lutar.

E, pensando na mulher e na criança que graças a Merlin conseguiram chegar ao segundo andar, ele aceitava. Esperava apenas que conseguissem viver, não temia por si, que a morte viesse... Mas que eles se salvassem.

"Se irei morrer" pensou "Estou feliz que seja por Harry e Lily".

Voldemort levantou a varinha e gritou:

— Avada Kedrava!

James não teve tempo nem de pensar em se desviar quando o raio de luz verde o atingiu. Apenas encarou Voldemort desafiadoramente uma última vez e rezou pela sua família.

E então, o mundo se apagou para James Potter. Ele estava morto.

Die for youOnde histórias criam vida. Descubra agora