Baby Doll, You Need Some Rock&Roll

capítulo único.

Matheus Carvalho e Pedro Monteiro eram melhores amigos desde sempre, haviam se conhecido no fundamental, e provavelmente um não saberia viver sem o outro. Matheus acompanhou a transição de gênero de Pedro que iniciou em seu sexto ano, mesmo ano em que se conheceram, e Matheus o apoiava em tudo. Mas nesse momento, a situação era outra, e tudo que o Carvalho queria, era dar um soco sem perder a amizade na cara de Pedro.

Matheus definitivamente estava puto, poderia estar em casa, ouvindo suas músicas favoritas no último volume, porém estava ali, com Pedro decorando em voz alta toda a tabela periódica, como quem recitava um poema.
Se não gostasse tanto do melhor amigo — talvez até mais do que devia — provavelmente já teria o mandado se foder e ido para casa.

— Pedro, pelo amor de Deus, essa porra é pra daqui a duas semanas, por que caralhos cê tá estudando isso agora? — Matheus, o de cabelos longos e tingidos de branco, perguntou, entediado

— São as provas de fim de ano, e eu preciso sair bem nelas para poder pelo menos ter a chance de conseguir uma bolsa pra uma universidade boa. E não acabar reprovando que nem você. — Pedro respondeu, pegando o livro de Física e anotando algo em um post-it amarelo ali.

Matheus bufou, se sentando na cama, logo depois ficando de pé, espreguiçando o seu corpo, sentiu seus ossos estalando pelas quase duas horas sentado, suspirou, em completo tédio.
Havia prometido ajudar Pedro com os estudos, porém a verdade é que havia se entediado nos primeiros dez minutos da falação sobre componentes químicos dele.

Até hoje, não entendia o por quê acabou se  aproximando do garoto tímido que sentava na primeira fileira e como acabou se tornando melhor amigo deste que claramente não tem nada a ver consigo, não tem os mesmos objetivos que si, nem os mesmos gostos que si e nem ao menos os mesmos estilos que si.
No começo, achou que era porque ele é um cara estudioso e poderia facilmente manipular-lo a fazer suas atividades e responder as provas por si, só que Pedro era mais inteligente do que imaginava, e muitas vezes, quem acabou sendo manipulado foi a si próprio.
Matheus lembra exatamente de todas as vezes que cancelou um rolê com os amigos numa balada para assistir os filmes de comédia romântica que Pedro tanto gostava, foi numa dessas vezes inclusive, que descobriu que este era mais chegado a homens do que a mulheres.
E bom, ao contrário do que o paranóico Pedro esperava, Matheus não se afastou dele, por algum motivo, aquilo foi algo que os aproximou ainda mais. E era de se esperar, se Matheus aceitou que Pedro fosse trans, sua orientação sexual era o de menos.

Também foi naquele dia que Matheus chegou a conclusão que sentia algo a mais do que devia por aquele cara de cabelos negros, olhos escuros e sorriso brilhante.

— Matheus? Ei, cara? — E Matheus foi tirado de seus devaneios com a mão de Pedro sendo balançada em frente ao seu rosto, com a voz desafinada dele o tirando de seus pensamentos

— Quié? — Matheus respondeu, emburrado

— Tava no mundo da Lua, só te trouxe de volta a realidade, foi mal. — Pedro levantou os braços, voltando a se sentar em sua escrivaninha lotada de livros

Matheus revirou os olhos, pegou o maço de cigarro em seu bolso, tirou um e acendeu levando logo aos lábios.

— Sério que você vai deixar meu quarto fedendo a nicotina? — Pedro perguntou, olhando para ele, como se não acreditasse

— Vou sim, bonequinho, vai fazer o que? — perguntou sorrindo

— Você tem só dezenove anos, isso vai estragar seus pulmões. — Pedro alertou, fazendo uma careta ao sentir a nicotina invadindo suas narinas

— Awn, o meu bonequinho de porcelana tá preocupadinho comigo? — Matheus debochou, indo em direção a Pedro e apertando sua bochecha, apenas para irritar-lo, e sabia que tinha dado certo quando viu sua testa franzindo e seu rosto ficando vermelho — Como você disse, tenho dezenove anos, sou um adulto independente e posso fazer o que eu quiser, quando eu quiser e na hora que eu quiser.