𝐎𝐧𝐞

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Oh, to see without my eyes

The first time that you kissed me

Boundless, by the time, I cried

I built your walls around me

Oh, oh woe-oh-woah is me

The first time that you touched me

Oh, will wonders ever cease?

Blessed be the mystery of love¹

(Mystery of Love - Sufjan Stevens)

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Em uma cidade qualquer, numa rua qualquer, existia uma casa qualquer onde vivia um garoto qualquer.

A sensação de mediocridade o afetava em todos os campos de sua existência, até que um dia ele parou de se importar e apenas se deixou levar pela sensação de inércia.

Todas as noites olhava pela janela do quarto para as estrelas sem realmente as ver ou pensar em algo. Era um vazio limitante. Olhar para a vastidão do céu estrelado lhe causava asfixia algumas vezes, parecia tudo tão denso...

E então o garoto se conformava e se encolhia dentro de si mesmo enquanto tentava se livrar da ideia de que estava se desfazendo. Se abraçava tentando evitar que fosse reduzido a estilhaços.

As cores começavam a deixar seu corpo, receava que em breve seu coração fosse o próximo a desbotar.

Numa rua qualquer, existia uma casa qualquer onde vivia um garoto qualquer.

Sentia dor cada vez que tentava pensar no que era e além disso. Se debatia tentando se livrar daquele aperto no peito mas não tinha forças para lutar contra aquilo.

Não valia a pena. Ele não valia a pena.

Ocasionalmente o silêncio se tornava ensurdecedor mas não tinha voz para romper aquele vácuo. Construiu paredes impenetráveis, não sabia se era para conter algo de fora ou de dentro.

Existia uma casa qualquer onde vivia um garoto qualquer.

Tinha a impressão de que os elementos que pareciam infinitos queriam lhe devorar. As ondas do mar o hipnotizavam ao mesmo tempo em que lhe causavam uma sensação de desligamento da realidade. Ele era tão minúsculo e insignificante em frente àquilo.

Quem era e onde estava em meio àquela imensidão? Quantas das suas lágrimas formaram aquele gigante azul?

Existia um garoto qualquer.

Havia um abismo gigante entre existir e viver. Ele sobrevivia.

O tecido da cortina tremulava com a brisa noturna, a Lua em sua grandeza translúcida iluminava o quarto enquanto velava pelo sono do garoto.

Ela olhou para o irmão e assentiu. O menino não podia pertencer a sua melancolia.

Os raios de Sol iluminaram o céu como se desafiassem qualquer um a lhes ignorar.

"Vamos lá", eles diziam. "Olhe para o céu, pequeno".

O garoto relutava contra os feixes de luz que tentavam invadir seu casulo.

E então aquela intensidade avassaladora foi suavizada até se tornar um brilho trêmulo e um calor acolhedor o envolveu. Ele se agarrou a aquele abraço e chorou. Deixou que uma parte de si fosse aberta. Ao primeiro contato com o mundo exterior, doeu.

Chorou mais e aceitou a dor.

Braços ternos o embalaram e uma voz suave cantarolou uma canção sobre a Lua, do Sol e das suas irmãs, as incontáveis estrelas.

Where Dreams Come True | VMin • One ShotOnde histórias criam vida. Descubra agora