Capitulo único

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As gotas de chuva caiam lentamente pela janela regando o jardim florido daquele humilde lugar onde cada gota fazia um som diferente no chão gramado e nas telhas aonde iam deslizando lentamente para o mesmo chão.

Solitária em seu quarto ela observava as gotas dançando do céu ate o chão, seus olhos cheio de lagrimas olhava um ponto qualquer do lado de fora.

Suas rugas marcavam a sua idade no rosto envelhecido, seus cabelos levemente grisalhos e curtos mostravam o quanto estavam ralos e pouco pela sua doença e o tratamento que ela já havia passado por ele.

Uma leve batida na porta do quarto e viu a camareira entrar.

- Olá, sou Ane – a moça senta em uma cadeira ao lado da senhora.

- Eu sou Joana – a senhora fala sem tirar os olhos da janela. - Prazer Ane, começou hoje?

- Sim – ela observou o mesmo ponto em que a senhora observava.

- O que observa tanto?

- O quanto a vida passa de pressa e tudo um dia se acaba.

- Isso é uma frase um pouco melancólica – a moça da um sorriso singelo, mas sente a dor nas palavras daquela senhora.

- Não para quem tem poucos dias de vida e foi deixada aqui.

- Nossa... – ela ficou meio triste.

- Tudo que eu queria fazer era dar uma volta por ai e ver a paisagem e o mar, mas a enfermeira não me levou e acabou chovendo – ela ainda olhava um ponto qualquer.

- Que tal irmos depois – a moça deu um sorriso alegre.

- Obrigada querida, agora pode me deixar um pouco a sós?

- Sim. Eu limpo depois – moça sai e deixou-a no mesmo lugar olhando a chuva cair agora mais fraca, com pingos menos barulhentos e menos dançante no céu, uma lagrima caiu de seus olhos e sua vida passava em sua mente. Tinha vivido com intensidade, vivido viajando com seu esposo, mas ele partiu antes dela e para ela não ficar sozinha foi para aquele asilo onde os velhinhos sempre se divertiam ou brigavam por algo. Era ate divertido os ver brincando como crianças mimadas por uma comida diferente ou ate mesmo por um controle remoto.

Ela fitou o jardim mais um pouco, depois pegou uma foto em cima de sua penteadeira e olhou aquele casal jovem em um lugar qualquer viajando e aproveitando os dias graciosos de suas vidas duradouras.

- Bons tempos - murmura ela para depois se deitar em sua cama e deixar que a chuva relaxante a fizesse adormecer.

Alguns dias se passaram e naquele início de fim de tarde Ane adentrou o seu quarto e há viu sentada olhando o mesmo ponto.

- Então vamos dar uma volta? – perguntou a moça pegando a cadeira de rodas,

- Seria ótimo se aquela enfermeira não fosse tão chata.

- Dane-se a enfermeira - Ane a ajudou ela a se arrumar, depois a sentar na cadeira de rodas, afinal ela não aguentaria andar distâncias grandes a pé. Saíram pela porta do asilo passando por alguns campos floridos até chegar a uma espécie de porteira amadeirada moldurada mostrando que estava ali há algum tempo pelo desgaste da cor e alguns pedaços soltos e querendo soltar alguns parafusos. Assim que passaram pela porteira elas viram um túnel feito por árvores de ipê roxo, amarelo, rosa e branco que se abraçavam entre os galhos floridos fazendo um tapete de flores pelo chão.

Joana observava cada local que elas passavam e ficava encantada com a vista. Logo elas chegarem a uma pequena relva que se dividia com a areia branca da praia onde havia um pedacinho do oceano e em volta alguns coqueiros. O céu já começava a ficar avermelhado pelo sol que já começava a se esconder no horizonte e seu reflexo pegava na agua azul a deixando em um tom avermelhado também.

As gaivotas voavam levemente passando pelas nuvens levemente brancas e finas fazendo a vista ficar a inda mais bela.

Joana sorriu olhando aquela imagem em sua cadeira de rodas, quando sentiu algumas gotas de água fria e salgada tocando a pele dela. Ela sorriu como uma criança se divertindo e olhando Ane vindo em sua direção e disse:

- Sabe qual é a beleza da vida Ane?

- Não senhora Joana.

- E viver o dia como se fosse o ultimo e não se arrepender de nada que já fez.

- Isso e verdade – ela olhou para o sol que descia levemente se escondendo no horizonte fazendo o céu ficar um pouco mais escuro e menos avermelhado.

- Então minha filha aproveite momentos como esses, pois eles são únicos – ela sorri olhando o mesmo ponto que Ane. – Obrigada por ter me proporcionado esse momento.

- Acho que aprendi mais com a senhora hoje do que com a vida em si.

Ela deu uma alta gargalhada.

- Melhor voltarmos, ou vou levar uma bela de uma bronca.

Ane sorriu, mas queria continuar ali mais um pouco com ela, porém ela sabia que também teria problemas no asilo se demorasse mais.

As duas voltaram pelo mesmo caminho rindo e conversando alegremente.

Ao chegar ao asilo a Ane levou uma tremenda bronca da sua patroa, assim como Joana levou uma tremenda bronca da sua enfermeira, porém ela estava muito feliz com a vista e o passeio que nem se importou, apenas voltou para o seu quarto cantarolando uma musica qualquer acompanhada da enfermeira.

***

Na manhã seguinte o despertador de Ane toca, ela o procura para desligar aquele negocio barulhento. Depois de alguns minutos ela se levanta e vai espreguiçando até a janela e quando olhou para baixo fui o carro da funerária saindo do asilo.

Saiu correndo do seu quarto e foi ao quarto de Joana e ela não estava mais lá. Ane saiu correndo e chorando até a mesma praia do dia anterior e chorou mais um pouco. Depois de chorar ela olhou o ceu e lembrou das palavras de Joana. "Viver o dia como se fosse o ultimo". Sim Ane percebeu que no dia anterior elas tinham vivido o dia como se fosse o ultimo e como se nada mais importasse elas viram uma linda vista que a fez feliz antes de partir.

Ane sorriu entre lágrimas e de certa forma se sentou feliz por ter proporcionado aquele ultimo momento a sua amiga Joana que apesar da doença e da idade estava animada e divertida.

Ane deu a ultima olhada e disse:

- Adeus Joana seja feliz... 

A última visita.Onde histórias criam vida. Descubra agora