Olhos Místicos

Faltando Um Pedaço

Como eu já havia declarado a intenção de levar a sede da Galido's para a Califórnia, não providenciei acomodações fixas em Lyon e acabamos ficando em um hotel próximo à sede da empresa. Elliot havia ficado com Melissa, mas passamos um tempo, eu e meu parceiro, babando o menino pela internet, até que minha sogra nos mandou dormir e voltar logo para casa. Depois disso e de quatro dias praticamente longe de meu alfa, foi difícil achar tempo para dormir e acabei tendo que usar meu dom de cura para conseguir trabalhar no dia seguinte, já que bem cedo Emma e Manon vieram nos encontrar no hotel – acho que ela estava com medo de eu sumir outra vez e deixar o abacaxi na mão dela e dos outros.

Apesar de ser meu noivo e futuro marido, Scott parecia um guarda costas, sempre colado em mim, de terno preto e óculos escuros, fazendo cara de mau para quem se aproximava demais – o assédio da imprensa estava começando a crescer com as mudanças radicais que eu estava implantando – e fiquei me sentindo a própria Whitney Houston. O dia seguinte correu burocrático e enfadonho no início, especialmente para ele, que não entendia muito bem como tudo aquilo funcionava e não queria sair de perto de mim e eu não tinha como dar a total atenção que ele merecia. Tudo ia bem até que Ernest Armand chegou, acompanhado de Louise Petit, que me encarava desafiadora como se estivesse ainda com raiva por eu tê-la dispensado, depois de tantos anos servindo e espionando Álvaro para o velho.

Meus quatro advogados estavam presentes, assim como Richard e três secretários pessoais e eu mais ouvi do que falei nas primeiras duas horas. Ernest é proprietário de quarenta por cento de nossa marca famosa de cerveja e não queria simplesmente se desfazer disso, ele intentava se tornar majoritário naquele negócio e futuramente na própria Galido's. Fiquei imaginando se ele seria tão ousado com meu tio no comando, mas se ele achava que ia me intimidar com números e projeções financeiras, estava muito enganado.

– Há dois caminhos para resolver tudo de forma simples – falei finalmente – podemos fazer um bom acordo para ambos os lados e você deixa a empresa ou podemos levar isso à justiça, o que levaria alguns anos e teríamos que rever coisas do passado da firma em questão.

– Do que é que você está falando, rapaz? – Esbravejou Louise toda estridente – nossa empresa não tem pendências que a comprometam de forma alguma.

Percebi que o velho levantou as sobrancelhas, especialmente quando ela usou a palavra "nossa". Ele usava óculos escondendo os olhos, mas eu já tinha as informações que precisava dele.

– A tentativa de expansão da marca na Oceania, marcada por vários "acidentes" – falei como se lesse de um papel, mas usava as informações que tirei do velho em nossas outras reuniões – a falência de sete filiais aparentemente bem sucedidas nos últimos vinte anos, envolvimentos questionáveis na América do Sul...

– Já chega, rapaz – interrompeu Ernest irritado – eu devolvi seu filho sem problemas e é assim que me trata? Vamos conversar em particular.

Ele enxotou seus advogados e eu pedi que os meus assistentes esperassem lá fora. Scott foi a contra gosto, mas eu preferia que ele não me visse chantagear o velho sujo. É preciso ser duro com pessoas como ele, senão afundam você na lama e usam como pilar para subir mais. Fiz questão de jogar na cara dele todos os seus podres, suficientes para falir o velho e garantir várias prisões perpétuas e ele me acusou de espionagem, chantagem e outras palavras de baixo calão. Por fim ele disse que faria o que eu quisesse, desde que pudesse se aposentar em liberdade. Acertamos sua saída da Galido's sem prejuízos para a empresa herdada de meu tio e ainda exigi um último favor. A reunião recomeçou vinte minutos depois e ele ditou tudo que seus comparsas, quer dizer, advogados e secretária deveriam fazer. Quando terminou, Louise o encarou irritada, vendo que estava sendo tratada como apenas uma empregada comum.