Capítulo 3 - Salgueiro

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Clari

Estou em um jardim e um lindo piquenique acontece. Há sorrisos, beijos e o salgueiro. Reconheço o som do violoncelo e vejo Olliver tocando, enquanto sorri e declara o quanto me ama, mas de repente, parece que alguém está a minha frente, um cabelo longo e ruivo que se vira para mim, Anastácia, ela sorri e aponta para o salgueiro, enquanto o mesmo começa a secar e caí em cima de mim.

Abro os olhos e percebo que tudo não passou de um sonho, mas minha cabeça lateja como se de fato o salgueiro tivesse caído sobre mim. Olho ao meu redor e estou em um lugar estranho, um quarto com uma cama de madeira rústica, uma pequena mesa de cabeceira improvisada, com uma vela gasta, apagada. Não conheço este lugar e não sei como vim parar aqui, só sei que meus instintos me dizem para sair dali e é o que faço.

Retiro o soro do meu braço e me levanto cambaleando, abro a porta e vejo um estranho parado junto a um fogão à lenha, tento alcançar a porta de saída, mas me sinto muito fraca e tudo começa a desfocar e a última coisa que me lembro são de um par de olhos azuis.

Quando acordo novamente, vejo o estranho sentado em uma cadeira junto a minha cama, parece preocupado. Ele me lembra alguém, continuo a observá-lo, cabelo castanho com tons dourados que vai até a nuca, pele clara, porém um pouco bronzeada e olhos azuis.

O homem está usando uma blusa de manga verde, uma calça jeans reforçada, um pouco suja e botas trinic surradas. Agora tenho certeza, é o estranho que vi quando eu e Francesca dávamos uma volta pela cidade. Ele percebe que estou o observando e dá um sorriso sem graça. Começo a me levantar, mas ele me impede.

– Quem é você e onde estou? – Disparo.

Ele se levanta e me olha.

– Você caiu no rio e a correnteza te deixou próxima aonde fui pescar, estava com a cabeça machucada e com roupas de festa, tudo indica que tenha caído do desfiladeiro e a correnteza a carregou até aqui. Te peguei e conduzi à minha casa e tenho cuidado de você durante esse tempo. No início você não se lembrava de quem era e ficava delirando falando que amava alguém, mas ele te decepcionou.

Ele dá um leve sorrisinho e eu coro, mas alguns flashes de tudo o que ele fala passam pela minha cabeça e percebo que é verdade.

– Mas quem é você? E por que me ajudou? - Pergunto enfática.

– Sou Miguel. Não podia te deixar lá para morrer, minha consciência jamais me perdoaria.

– Como você conseguiu tantas coisas para cuidar de mim?

– Apesar da casa humilde, posso sim ter acesso a medicamentos, senhorita. Além de que, como estou longe da cidade, é sempre bom ter coisas médicas, por precaução.

Era muito estranho isso tudo. Porque ainda que tivesse várias coisas médicas, deveria saber usá-las muito bem.

– Pois bem, Miguel, por quanto tempo estou aqui?

Sua expressão é séria.

– Duas semanas.

Meu coração congela e começo a me perguntar como minha família está, será que pensam que eu morri? A essa altura já foram anunciados os aprovados para irem para a capital e se tornarem Oficiais. Pergunto-me se passei e se sim, a viagem deve ser hoje ou amanhã. Entro em desespero, preciso ir para casa. Levanto-me da cama e ele me segura.

– Calma. Você ainda não está totalmente recuperada para ir saindo por aí. Se você não se deu conta o seu acidente, foi bem grave.

– Olha, agradeço muito por ter me ajudado, mas preciso voltar para casa, estão preocupados comigo.

O CLÃ - Série Crônicas do Reino Escondido - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora