O vento frio soprava e toda a casa resmungava ao sentir a brisa gelada. Os resquícios de pingos de chuva avisavam que não tardaria para engrossar. Era tarde da noite, estava de pé ao lado da janela apreciando o inverno que chegava. A caneca quente de cerâmica em minhas mãos denunciava que a bebida continuava boa pra tomar ainda naquele momento, então não demorei a fazê-lo.
Braços rodearam minha cintura, acariciando-a nos dois lados. Namjoon havia chegado. A porta ruiu à alguns minutos, denunciando sua entrada e os passos na escada de madeira apenas trouxeram a certeza que tinha. Sorri calmamente, deixando o chá na escrivaninha, onde continha alguns artefatos, diversos papéis e canetas, junto aos livros empilhados e o computador velho que ali jazia há alguns anos. Meus pés giraram no piso gelado, parando apenas ao estar de frente para a figura alta e, — consequentemente — forte, de meu marido. Fui agraciado com um sorriso seu, a medida de que ele se aproximava para que nossos lábios se encontrassem, fazendo com que eu retribua o sorriso aberto da mesma forma. Suas mãos frias alcançaram meu rosto, enquanto as minhas escorregaram até sua cintura, o abraçando ali. Algo simples e rápido, mas de grande importância entre nós.
Namjoon e eu éramos casados à pelo menos dez anos. Conhecemos-nos aos quinze anos, virtualmente, enquanto eu comentava sobre minha banda favorita — que, surpreendentemente, era a dele também — nas redes sociais. A amizade surgiu e com ela, o famoso crush. À alguns meses depois, nós já namorávamos. Conhecia a vida dele com a palma mão, assim como ele também tinha total conhecimento da minha. Namoramos por pelo menos sete anos, até resolvermos dar outro passo à frente. O casamento, sim, a melhor época da minha vida. Lá foi onde eu vi a pessoa que fazia meu coração errar os batimentos dentro da caixa torácica entrando, em um belo terno branco, onde eu o expliquei sobre as estrelas, seus pares e suas vidas infinitas. Onde eu tive o prazer de ouvir as mais belas palavras proferidas pelo meu homem em frente ao altar, sendo seguido do tão esperado "sim". Ali, firmamos nossa aliança. Eu estaria com ele até que nosso brilho se apagasse por definitivo.
Tempos depois — dois anos para ser mais exato —, tivemos o prazer de ser pais. Infelizmente de uma forma trágica, mas ainda sim, realizamos o segundo sonho. Nós estávamos aguardando a resposta do orfanato, onde adoraríamos a pequena Bon-hwa, quando um telefonema trágico para ambos, notificou que, um amigo próximo demais de nós e sua mulher haviam falecido em um acidente de carro. Pelo que haviam nos dito, a guarda de Eunjung, afilhada na época, ficou por nossa conta. Éramos os padrinhos, os mais próximos do casal, e eles haviam chegado ao consentimento de que éramos as pessoas certas para ficar com a garotinha de nove meses caso algo acontecesse com ambos. Nós sofremos muito, pois certos familiares não aceitavam a menina conosco e acabaram pedindo um processo. Foram tempos difíceis, mas nós vencemos. Juntos. Vencemos o processo, conseguimos a guarda definitiva de Eunjung e adotamos Bon-hwa. Duas meninas lindas, saudáveis e fortes. Os gênios são muito diferentes, porém se dão melhor do que nunca. Eunjung é a mais nova, sendo um ano depois de Bon-hwa, tendo seus maravilhosos nove anos. Bon-hwa, a mais animada da casa e a filha mais velha, com dez anos de idade. Ambas herdaram o sobrenome Kim de meu marido, por mais que ele tenha sim o Jung em nossa certidão.
— No que tanto pensa, amor? — De olhos fechados, senti sua testa encostar na minha.
— Na sorte que tenho. Na família maravilhosa, na vida incrível. Passamos por tantas coisas, Joonie... Mas estamos aqui, lado a lado.
Abri meus olhos devagar, encarando as orbes castanhas que me olhavam de forma curiosa e amorosa. Cada pedacinho daquele homem só me fazia ter mais certeza do que eu queria para o resto da minha vida. Ser feliz ao lado dele.
— Você pensativo? Talvez um próximo livro?
Desviei o olhar por alguns segundos, pensativo. Estava há algum tempo sem inspiração para nada, havia deixado tudo na cidade — menos a editora, que controlava dali mesmo —, e quase tive certeza de que minhas idéias caíram do caminhão de mudanças. Minha cabeça doía pelo esforço máximo feito todos os dias para tentar escrever algo. O nome de Jung Hoseok, o mais lindo e famoso escritor de toda Seul — de acordo com Eunjung e concordância de Bon-hwa — estampava as bibliotecas, boa parte de livrarias e de out-doors nas ruas: fazia mais de três anos em que eu me aquietara. Sem nenhum livro, nenhuma folha, nada. Nunca havia ficado tanto tempo sem pelo menos algum rascunho em mãos. Muitas vezes me pegara chorando, por não conseguir mais fazer o que tanto almejei. E nessas vezes, Nammie me abraçava e dizia que tudo ficaria bem, que não precisava me preocupar pois eu era talentoso pra isso. Quando tinha minhas crises, cuidava para não atingir minhas filhas, que mesmo sem saber o que se passa na cabeça do pai, me abraçam e falam que eu sou a melhor pessoa do universo. Eu não saberia como viver sem eles.
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Only one.
RomanceHoseok tinha a vida que ele sonhara ter. Era um homem de família, era tão - ou mais - feliz quanto suas filhas e seu marido. Por que, juntos, eles se completavam. Viravam um só.