Cada pessoa acredita na sua própria versão do Juízo Final. Alguns acreditam que o Juízo Final acontecerá simultaneamente a todos, outros dizem que cada um tem o seu próprio. Alguns dizem que está relacionado à volta de Jesus e também tem aqueles que nem acham que isso realmente vá acontecer. O fato é: o que vem depois do último suspiro é um mistério para todos. Acreditando ou não no Juízo Final esse conto vai te fazer refletir sobre o que realmente é ser juiz, afinal, o que define o bom e o ruim?
MAIS UMA TRAGÉDIA COMUM
Era um dia comum em uma cidade de nome não tão relevante quando um acidente de trânsito deixa uma van inteira de vítimas fatais. Na van havia cinco passageiros e um motorista e todos morreram. Como já era de se esperar chegou a hora de descobrir quem iria para o Céu e quem iria para o Inferno. Mas, como isso acontece?
CONVOCAÇÃO
Bom, no instante em que a van se chocou de frente com a carreta o motorista morreu. Depois de um grande clarão veio em seguida uma escuridão desesperadora. O homem sentia que estava vivo, mas não conseguia respirar mais. Não sentia seu corpo, nem sua alma. Logo em seguida o motorista acorda em uma espécie de sala de espera e, até então ele é o único ali.
Não demorou muito até que uma menina de 10 anos aparecesse ao seu lado. Era mais uma vítima.
- Então... assim que é o paraíso?
- Óbvio que não, fedelha! Acho que é aqui que esperamos.
- Esperamos? Pelo quê?
- Ora, pelo juízo final.
- Mas, onde está Ele?
- Ele quem? Cristo?
- É, onde está Papai do Céu?
- Não sei, acho que temos que esperar.
Bom, a verdade é que Jesus tem muito para resolver antes de cuidar de uma fatalidade rotineira.
Aparecem mais duas pessoas, sendo uma delas a mãe da garota. As duas se abraçaram e sentaram juntas do outro lado da sala. A segunda pessoa era um mendigo um tanto esquisito. Ele não fede como um mendigo, mas não cheira como uma pessoa. O mendigo sentou-se em um dos bancos em intermédio às meninas e o motorista.
E quando menos se esperou todos a última vítima apareceu. Era um homem vestido de mulher. "Esse aí nem precisava ter vindo aqui, podia ter ido direto ao inferno logo" pensou o motorista.REUNIÃO
Uma das portas da sala se abriu e dela saiu uma mulher negra de um elegante vestido azul escuro. Era alta e, como se não bastasse, usava saltos altos também azuis e brincos de argola que esbanjavam luxo. O mendigo comentou "pensei que no céu a ganância não existisse", claramente se referindo ao excesso de elegância nas vestimentas da mulher.
- Venham comigo.
Todos se dirigiram à porta e entraram em uma sala. Na sala havia uma grande mesa com dez cadeiras que a rodeava. O carpete da sala é de um azul tão escuro que se assemelha a preto. "Pelo visto eles gostam de azul por aqui" disse o motorista.
- Sentem-se!
Assim que todos se acomodaram, a mulher colocou uma folha de papel e uma caneta.
- Através dessa folha de papel vocês conseguem ver, ler e sentir tudo o que aconteceu na vida de cada um de vocês. Cabe a cada um decidir quem merece ir ao céu e quem merece ir para o inferno, sendo que temos apenas 3 vagas, logo 2 de vocês terão que descer. Vocês terão 50 minutos para debater e decidir em quem irão votar para salvar ou condenar, lembrando que não será possível votar em si mesmo.
- Espera, nós temos 50 minutos para analisar 5 vidas completas usando uma folhinha de papel? - indagou, com razão, o homem que se veste de mulher.
- Para saber tudo o que se passou com uma pessoa na Terra, basta você dizer o nome da pessoa e todas as suas memórias serão "transferidas" a você.
A mulher se aproximou de um botão.
- O tempo de vocês começa a partir de... agora!NATASHA, A TRAVESTI
- Bom é óbvio que o travecão ali tem que ir pro inferno! - disse o motorista.
- Primeiro, eu sou uma travesti e meu nome é Natasha!
- Muito bem, Natasha. Eu...
E no instante em que o nome da travesti foi pronunciado tudo o que ela viveu se passou pela cabeça do motorista por uma fração de segundo. Desde seu nascimento, passando pelo primeiro passo, o bullying na escola, a descoberta da sua sexualidade, o primeiro amor, o primeiro emprego, a monotonia da rotina, a adoção da sua filha e o dia em que ela estava a caminho da creche para buscar sua filha, mas sofreu um infeliz acidente.
- Você...?
-Eu... acabei de... de sentir tudo o que você sentiu... você... tinha uma filha...
-É, eu tinha uma filha. Um emprego, um marido, uma família. Como qualquer outra pessoa. Porque devo ser condenada por isso?
-Espera aí pessoal! Vamos fazer o seguinte! Cada um escreve seu nome aqui nesse papel. Vamos analisar pessoa por pessoa. Como somos 5, seriam 10 minutos pra cada. Já se passaram 2 minutos, então vamos nos apressar pra gente não perder tempo. – Organizou a mãe da garota.
Após todos escreverem seus nomes a ordem foi a seguinte:
Natasha (a travesti); Pedro (o mendigo); Maria (a garota); Kelly (a mãe da garota); Marcos (o motorista).
-Vamos na ordem. No 3 todos diremos juntos o nome da primeira da lista. 1... 2... 3!
-NATASHA!
Todos puderam viver a vida de Natasha por uma fração de segundo e agora estariam aptos a julgá-la. Natasha trabalha
-Analisando a vida de Natasha, eu não acho que ela mereça o inferno. Ela tinha uma vida honesta e digna. Na verdade, acho que ninguém aqui merece! Por isso eu voto em céu para Natasha. – Concluiu a mãe.
-Pra você é fácil dar o lugar no céu pra ela. Você sabe que sua filha vai pra lá de qualquer forma, afinal ela é uma criança e é óbvio que ela vai votar em você! – contrariou Pedro.
-Já eu acho que a gente devia analisar todo mundo e só no final decidir quem vai pra onde. – Sugeriu o motorista.
-Concordo! – Disse o mendigo.
Então os cinco fizeram assim. Chegou a hora de analisar o segundo da lista.
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Contos Pra Se Ler Às 9
Short StoryEsse é um compilado de contos criados por mim, Filipe Santos. Não é nada sério, só por diversão mesmo ^-^