Capítulo 10
"A Biga"☆I
Kikelomo saltou para trás, a boneca presa sob o braço e uma mão estendida na frente do corpo.
— Eu não quero ter de fazer isso Zeniba, não me force.
Zeniba caminhou para frente, seu olhar pousou em Meli ali desacordada na margem enlameada do rio, saltou o corpo da garota e foi ate o macaco.
— Você não tem nenhuma tipo de moral? Fazendo a Menina de idiota... se ela usar muito os dons pode até morrer, sabia que ela sofre do coração?
— Moral? Você vai mesmo falar isso?
— E o quê me desabona?
— Um unica coisa, não foi você que enganou o tal Sandara? — Kikelomo riu.
— Os fins justificam os meios.
— Qual é Zeniba... você fingiu ser Olodumare, fez aquela palhaçada toda de aparição alá "sarsa ardente", ficou enfiando aqueles sonhos na cabeça do homem...
Zeniba arregalou os olhos.
— Como sabe disso?
— Bambó não é de guardar segredos. Até hoje eu me pergunto como Sandara não desconfiou? Como pode ser ingênuo a ponto de crer que Olodumare iria vir pessoalmente pedir que uma mulher fosse morta?
— Eu sou boa atriz, sempre fui. — ela fez um biquinho zombeteiro.
— Olodumare devia ter te esmagado.
— Porque ele faria isso? A única parte falsa foi eu ter fingindo ser ele, mas todas as memórias que mostrei a Sandara eram verdadeiras. Olodumare entendeu meu lado, o desejo de justiça...
— A unica coisa que tem pra entender é que você é uma covarde! Se queria sua irmã morta era só ter ido atrás dela, mas não, você nunca teve peito pra enfrentar Enobária.
— Me dê essa porra. — Zeniba rosnou apontando para a boneca.
—Porra? Ah... vou contar a sua mamãe e ela vai lavar a boca com sabão.Zeniba fechou os olhos e franziu a testa por um momento, quando os abriu novamente exibia iris em fenda verdes claras, olhos de cobra.
— Ah você é mesmo puta! Uma puta! — Kikelomo gritou — acha que ninguém vai perceber se fizer bagunça! É melhor parar enquanto é tempo.Ela abriu a boca, foi abrindo mais e mais deslocando o maxilar como uma jibóia, então uma cabeça de serpente surgiu no fundo de sua garganta.
— Que merda é essa? — Kikelomo se espantou.
Zeniba inclinou a cabeça e a serpente negra de cerca de um metro e meio deslizou por sua boca e caiu no solo com um baque úmido. Ela se abaixou e segurou no pescoço da cobra.
— Mogbójúri, agora é a hora.
A serpente endureceu, acima da cabeça em cerca de quinze centímetros e depois se afinou de modo a ter a aparência de uma espada. Ela olhou para Kikelomo com a expressão fria e tão rápido que a visão humana não poderia captar, saltou sobre ele, o macaco pulou no exato momento que a árvore que estava explodiu em uma nuvem de destroços.
— Eu... não sou... uma garotinha que você pode manipular macaco. — Zeniba ergueu a espada — Me dê a boneca.
— Venha pegar.Zeniba se moveu novamente em uma velocidade extraordinária e por poucos centímetros não agarrou o macaco enquanto ele saltava para trás.
— Zeniba eu vou te dar só mais uma chance.
— Não dê, eu vou fazer o que tenho de fazer.Kikelomo colocou a boneca encostada nas raízes de uma árvore, então avançou contra a mulher, ela passou a brandir a espada para todos os lados mas não o acertava, o macado saltava, se abaixava e corria de um lado para o outro desviando de todos os golpes, por fim aproveitou um descuido e com um chute com sua perna fina e curta atingiu a lateral do joelho esquerdo de mulher quebrando-lhe a perna.
Zeniba caiu sentada com um ganido de dor, mas o macaco não teve tempo de se afastar, em um relance viu as pernas da mulher se unirem e enegrecerem, Zeniba girou na cintura e exibiu a parte inferior do corpo na forma de um rabo de serpente, saiu em desparada rastejando sinuosa na duração da boneca mas quando Zeniba esticou o braço para apanha-la Kikelomo saltou sobre ela com os dedos indicadores de suas duas mãozinhas esticados como agulhas, Zeniba berrou quando as as garras dos dedos foram fincadas em seus olhos. Kikelomo usou os pés para se prender ao pescoço dela enquanto apertava mais os dedos nos orifícios oculares, o sangue jorrava pelas bochechas, Zeniba cheia de desespero tentou golpear o macaco com a espada, mas ele saltou antes e ela foi vítima do próprio golpe abrindo um enorme corte na testa.
— Eu vou ter a consideração de não lhe matar, nós já fomos amigos um dia e é por isso que não vou fazer o que estou com vontade. Mas se cruzar meu caminho de novo vou abrir sua barriga e me banhar nas suas tripas. — Kikelomo disse enquanto apanhava a boneca e se afastava.
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Búfalo Sandara
FantasyUma chacina em um terreiro de Candomblé desperta o desejo de vingança de um dos sobreviventes que ruma a uma aventura sobrenatural atravessando os nove Orun's, o mundo dos Orixás. Será que a linha tênue entre amor e ódio pode ser ignorada? Bruxaria...