Há um provérbio no Haiti muito conhecido, que diz: "WÒCH NAN DLO PA KONNEN DOULÈ WÒCH NAN SOLÈY" que, traduzindo, basicamente significa: ""A rocha (ou pedra) que está na água não conhece a dor da rocha (ou pedra) que está no sol". E isso é tão verdade. Não consigo imaginar por tudo que eles já passaram e ainda passam. E de primeiro momento encarei a mim mesmo como a "pedra" que está na água. Talvez porque nunca conheci a miséria. Jamais vivenciei preconceito racial, e em nenhum momento fui discriminada apenas pela minha cor. Mas olhe bem para o sorriso genuíno dessa menininha. Ela se chama Lous Clarita. Tirei essa foto no mesmo dia em que a conheci, ela sorria assim.
Mesmo no momento chamando de lar um lugar que ela não faz ideia de como comunicar-se com as pessoas. Mesmo não tendo tantas crianças da sua idade para brincar com ela. Mesmo considerando que talvez demore um tempo para comer o verdadeiro bouillon. E mesmo sabendo que talvez o Kompa não soe tão bom quanto soava no Haiti. Em frente de tudo isso ela sorri. E diz: "Amo estar aqui!" E foi aí que eu senti que a "pedra" que está no sol, sou eu. Porque desconheço essa alegria. Essa convicção e otimismo. Essa força! Também desconheço a alegria e gratidão de coisas tão simples. Simples de verdade. Como eu sei que eles sentem.
Às vezes não nos damos conta do quanto privilegiados somos. E os dois lados são. Mas de formas diferentes. Eu por não conhecer tanto a água. E ela, sol. Ou vice-versa, dependendo do ponto de vista. Mas a verdade é que todos nós somos rochas debaixo de possibilidades "climáticas". Na maioria das vezes tudo isso é bem cansativo. Mas cabe a mim, a você, escolher qual será menos difícil. Entre água e sol, quem sabe encontremos o equilíbrio. Pois só a água, cria limo. E exclusivamente sol, definha e racha.
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CRÔNICAS - Ecos da imaginação
Non-FictionEdições são sempre necessárias. Isso vale para um livro, tecnologias, reformas e a mente. Mas talvez seja bem mais fácil atualizar um livro que tenha sido escrito há duzentos anos atrás do que rebobinar a nossa pequena mente de 20, 40 ou 60 anos. ...