Para Ivy

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"Eu não confio em você" A diretora disse olhando com os olhos semicerrados para o filho que brincava com os pezinhos, rindo travesso para mãe enquanto ela vestia o pijama nele.

Marcelinho tinha prometido a mãe que dormiria depois de assistir ao filme, mas Marcella não parecia acreditar muito do filho, já que ele era esperto como Vitória e sempre acabava conseguindo o que desejava.

O garotinho de cabelos loiros movimentou as mãozinhas dizendo em sua própria linguagem "por favor"

"Sua mamãe vai ficar brava com a gente, Jorge" Marcella movimentou as mãos e os lábios bem devagar tentando parecer séria, mas já estava totalmente rendida ao encanto do filho.

"Por favor, mãe... deixa." O garotinho tornou a pedir movendo as mãozinhas e balbuciando as palavras.

Marcella poderia ter dito muitas coisas, mas optou pela que faria seu filho feliz. Moveu as mãos dizendo ao filho:

"Tá bom"

O pequeno Jorge (que era como Marcella chamava o filho para não se confundir), estava deitado sobre na cama ao lado da mãe com os olhinhos presos na tv. Mãe e filho assistiam Peter Pan. Marcelinho com o pijama de elefantinhos. Ele balbuciava e movia as mãos mostrando à mãe os personagens que mais gostava; vez ou outra soltava uma risada gostosa, sentava, deitava, abraçava a mãe, deitava de bruços. Era um menino agitado. E apesar ser ser filho biológico de Marcella, ele sem duvida tinha herdado toda personalidade de Vitória.

Por falar nela, Vitória tinha passado a noite conversando com a mãe da esposa. Dona Rosa e a nora falavam sobre a experiência de ser mãe de primeira viagem. Vitória viveu a experiência de perto. Esteve com Marcella durante todo esse processo de gravidez quando a esposa esperava por Jorge. Elas passaram por quase tudo juntas. Foi o momento em que mais estiveram únidas. Tão unidas que quando Jorge nasceu, Vitória realmente sentiu como se ele tivesse saído dela. Mas agora seria ela passando pela experiência na pele. Era diferente, de certa forma.

"Está tudo bem, querida?" Dona Rosa perguntou a nora.

"Não sei. Eu sinto que tenho tratado a Marcella de uma forma que eu não deveria."

A matriarca riu e falou com toda sua experiência.

"É normal, meu bem. Você está passando por muita coisa. Seus hormônios estão uma bagunça e isso afeta seu humor. É dever da Marcella saber lidar com você nesse momento. Não se procupe com ela, se preocupe com você."

Vitória suspirou e sorriu ganhando um sorriso de volta da sogra.

Meia hora depois, Vitória pediu licença a sogra e a deixou observando a vista da varanda. Caminhou até o quarto devagar por conta do peso da barriga, e a cena que viu encheu de coração de amor: Marcella estava deitada com os olhos pesados de sono enquanto o filho balbuciava mostrando algo que via na TV à mãe semi disperta.

Vitória ficou um tempo observando a cena linda que era as duas pessoas que mais amava juntinhas.

Ela pegou o celular do bolso e gravou o momento.

"Psiu..." chamou a atenção da esposa.

"Oi, momo" A diretora sorriu para Vitória; os olhos estavam quase fechados.

Vitória sentou na cama e Marcella arrumou os travesseiros para que ela deitasse ao seu lado de forma confortável.

"Está se sentindo bem?"

"Sim" disse a atriz deixando o celular sobre a mesinha de cabeceira. "Pensei que você tinha trazido o Marcelinho pra dormir"

"Essa era a intensão... Mas ele me ludibriou"

Vitória riu.

"Ele só tem 3 aninhos"

"Pra você ver! Imagina quando for adulto" brincou a diretora fazendo a atriz rir. "Você acha que estou sendo uma mãe ruim deixando ele fazer tudo que quer?"

"Bom, se você não estiver sendo uma mãe boa então é melhor começar a ser. Temos uma menina a caminho"

Marcella sorriu pegando a mão da esposa entre as suas.

"Você está chateada comigo pela forma que falei?" A atriz quis saber. Ela tinha tratado a esposa de uma forma nenhum pouco gentil mais cedo naquele dia, e agora se sentia mal por isso.

"É claro que não. Eu amo você" disse antes de passar o braço pela esposa aconchegando-a a seu corpo.

No final do filme o filho delas acabou dormindo.

Marcella pegou o garotinho nos braços com cuidado para não acorda-lo e caminhou com ele até o quarto da mãe. O menino costumava dormir com as mães ou em seu quarto quando estavam em casa, mas agora eles estavam na casa da mãe de Marcella, e com a gravidez de Vitória ficava difícil acomodar os três na mesma cama. Então ele dormia com a avó, o que para Dona Rosa era uma dadiva.

Marcella arrumou o filho na cama; percebeu que estava muito quente e abriu a janela para que ele ficasse confortável; depois sentou perto do filho para velar o sono dele enquanto a mãe não chegava.

Passava das 1h30 da manhã quando Marcella finalmente voltou ao quarto, e diferente do que imaginou, Vitória não estava dormindo. Ela estava acordada, sentada na cama mexendo no celular.

"Pensei que você já estava dormindo. O que foi, você está sentindo alguma dor? Está tudo bem?" a diretora perguntou ligando a luz do quarto.

"Estou com fome" Vitória disse de supetão.

A diretora piscou algumas vezes, mas concordou.

"Tudo bem. Eu posso fazer algo pra você com..."

"Estou com vontade de comer um sanduíche com ketchup, maionese e chocolate.

"Com choc... Como assim, Vitória?"

"Estou com muita vontade de comer um hamburger com chocolate."

"Eu acho que não tem isso aqui em casa, Vitória."

"Você pode comprar!"

"Meu amor, são uma e meia da manhã! Não fazem entrega a essa hora." a diretora disse diante do absurdo da esposa.

"Eu realmente, realmente estou com muita vontade de comer isso. Sério. Por favor, Marcella" insistiu.

A diretora suspirou passando as mãos pelos olhos, mas por fim disse vencida:

"Tá bom."

Ela se vestiu, jogou água no rosto e tirou o carro da garagem para sair. Seria uma viagem longa.

(...)

O sol já estava nascendo quando Marcella voltou para casa com o pedido de Vitória. Ela tinha rodado metade da cidade até encontrar o hamburger e depois a outra metade atrás do chocolate.

Quando entrou no quarto, viu que a esposa dormia um sono tranquilo.

Olhou para o embrulho nas mãos. Pensou em todo o trabalho que teve para comprar.

Ela faria Vitória comer!

Mas quando chegou perto e olhou para ela... Suspirou vencida.

Deixou o embrulho sobre a mesa de descanso ao lado da esposa para que ela comesse quando acordasse, e deitou ao lado dela na cama. Vitória dormia tão tranquila que, para Marcella, parecia um pecado acorda-la apenas que atender a uma vontade sua.

Um minuto depois Marcella estava dormindo um sono profundo.





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⏰ Última atualização: Sep 06, 2020 ⏰

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