34. Tempo

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Saí da casa da Amanda com o coração na mão... Um misto de sentimentos que me doíam de forma insuportável: Dor, medo, ansiedade. Que davam mais do que friozinho na minha barriga, a faziam congelar!

Eu a entendia, completamente... Mas encarar de novo a possibilidade de perder a Amanda depois de tantos sustos era horrível.

Eu não vivia sem ela, aprendi isso comigo mesma... Mas dependendo da decisão dela, eu teria que aprender então.

O gosto do beijo dela - sempre maravilhoso - ainda estava no meus lábios...

''Pode ser o último''

Odiava pensar de forma insegura, mas foi inevitável... Minhas lágrimas caíram dentro do táxi mesmo e eu não consegui segurar. O senhor, educado, não perguntou nada... Ou realmente não estava se importando.

Cheguei em casa e nem cumprimentei minha mãe direito, deitei na cama e comecei a chorar que nem bebê, abraçada em um ursinho que tava com o perfume dela...

Aliás, tava tentando me lembrar uma noite que eu não havia chorado pela Amanda desde o nosso término... Dificil!

E outro pensamento que veio na minha cabeça: Luciana.

Como eu estava... decepcionada. Fui amiga dela, a apoiei sempre e em troca, ganho isso?! Ela sabia que eu não vivia sem a Amanda, e ainda fiz isso...

Porém, não valia a pena pensar nela... Sim, eu iria conversar com ela, a raiva dela era grande, mas não tinha metade da importância dos acontecimentos com a Amanda.

Um pouco depois, ouvi minha mãe entrar no quarto... Nem tirei minha cabeça do travesseiro.

- Filha, a mamãe tá preocupada com você... Dá pra ouvir seus choros lá do quarto.

- Ela tá muito chateada comigo, mãe... - solucei - Disse que vai pensar se vai voltar comigo ou não.

- Mas não é de se esperar, filha? Imagina como tá a cabeça da menina... Descobre que a mãe é uma cobra, descobre um universo de mentiras. A cabeça dela tá sobrecarregada. - senti o peso da minha mãe na cama e ela fazendo carinho nas minhas costas, minha cabeça ainda tava afundada no travesseiro - Ela te ama tanto quanto você ama ela. Ela só quer se dar um tempo para pensar.

Pensei nas coisas que a minha mãe disse... Até haviam sentido.

Mas a Amanda é imprevisível e bipolar demais... Qualquer decisão nas mãos dela não devia se esperar nada.

- Não quero ficar sem ela, mãe... - tirei a cabeça do travesseiro e limpei as lágrimas - Sinto tanta falta dela... - voltei a chorar -

- Não vai filha, não vai... - ela me abraçou e eu a abracei com força, derramando lágrimas em seus ombros - Vai ficar tudo bem... - falou para me confortar -

Depois de um tempo desabafando com a minha mãe, ela foi dormir e eu tentei... Inutilmente. Quando menos percebi, já estava claro... Consegui tirar uma soneca graças ao cansaço dos últimos dias, que provavelmente foi rápida, até eu sentir alguém me cutucar.

- Filha... - me cutucando - Filha...

- Oi... - falei sonolenta -

- Tem alguém na porta querendo te ver.

Me levantei num salto.

''Será que é ela?''

- Quem?

Olhei pela janela e era a Luciana...

''A pessoa que eu mais queria ver no mundo!'' Pensei irônica.

- Bia! - ela gritou me vendo na janela - Me deixa entrar... Preciso falar com você... Te explicar as coisas.

- Luciana, vai embora. - falei na maior calma possível -

- Bia... Eu não fiz por querer, entendeu?! Quando eu menos percebi, estava fazendo...

- Você nos separou de propósito. - falei com magoa - Por maldade...

- Foi por você, Bia... - ela falou - Por favor Bia, me deixa entrar.

- Não tem como, Luciana... Não vai mudar nada você entrar aqui ou não... Já te dei inúmeras chances, mas essa foi a gota d'agua. Não tem mais como sermos amigas. Você não vê o quanto isso é doentio? Você não vê o que você faz?! Eu não confio mais em você, não tenho mais consideração... Não tenho mais nada. Aprenda a viver sem mim que eu vou aprender a superar a perda da sua amizade... Se é que um dia eu a tive. - suspirei - Passar bem... - fechei a janela -

Se a raiva fosse mais alta do que eu, eu iria descer e expulsa-la do meu jardim à tapas. Mas... eu não era assim.

Respirei fundo e fui andando até o computador para tentar me distrair. A ouvi gritar meu nome algumas vezes, mas depois percebi que ela foi embora.

Não tinha nem o que falar ou pensar, tudo que eu pensava eu disse para ela. A decepção era enorme... Nossa amizade havia definitivamente acabado e não teria voltas.

Depois de um tempinho, recebi um rádio da Carol.

- Amiga, ta aí?

- To, fala...

- Tenho boas notícias para te contar... Mas primeiro, como você tá?

- Péssima... - suspirei - Ela não sabe se quer voltar comigo, me decepcionei com a Luciana... Tá tudo dando errado. Porém, to curiosa da notícia, conte-me. - quis mudar o assunto -

- Acho que eu vou morar no Rio!

- Tá brincando, né?!

- Não! - ela riu - Eu vou fazer o vestibular daí para faculdades públicas e, se eu passar, vou dividir um apartamento com a Josi, sabe, aquela minha amiga de infancia que mora aí?

- Sei. Meu Deus amiga! Tomara que você venha...

- É amiga, tomara mesmo... Vou ficar perto de você, da Michelle... Vai doer me afastar do pessoal daqui, mas vida que segue.

- Sei como é. Mas poxa... Mora aqui! Mora! Mora!

- To tentando... Enfim amiga, foi só isso mesmo que eu queria falar, preciso estudar aqui.

- Isso, estuda bastante pra passar!

- Beijo!

- Beijo.

Desliguei o telefone e amei a notícia...

''Pelo menos uma coisa boa!''

It's LOVE II (Romance Lésbico) [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora