Até penso em desembainhar minha espada, mas ainda posso ouvir as vozes, dizendo que sou uma decepção, mesmo que ninguém mais pareça ser afetado pela magia do lugar. Talvez ela apenas esteja intensificando meus pensamentos, ou meu poder de vidente deixa tudo mais real. Não sei se quero saber a resposta.
— Gael! — ouço Lúcia gritar e olho a tempo de ver a garotinha no outro lado do barco, onde a serpente marinha se prepara para atacar.
Felizmente, a criatura não consegue fazer isso, pois Eustáquio ataca ela, mordendo e arranhando.
— Eu não vou poder lutar. — aviso Caspian, seguindo com o olhar a serpente que se balança, tentando tirar Eustáquio de cima de si, e olho para o telmarino. — As vozes não estão quietas para mim.
— Fique ao lado de Drinian, então. — o rei responde, segurando-se na amurada quando o navio balança por causa da serpente. — Você vai estar no comando.
Assinto e corro para o andar de cima, segurando-me no porta-corpo.
— Majestade? — Drinian pergunta, manejando o timão.
— A magia negra me afeta mais. — eu respondo e aponto pra minha cabeça, sinalizando que estou meio doida. — Estou escutando as vozes ainda.
O capitão assente e ignoro Harry ao seu lado, dizendo-me que sou egoísta.
— Eustáquio não vai durar muito, temos canhões? — pergunto aos berros e Drinian me olha com uma cara de: o que são canhões, doida? — Imaginei que não...
Vejo Eustáquio ser jogado em um rochedo e cuspir fogo na serpente, deixando-a atordoada, o que me dá uma ideia.
— Temos como fazer flechas de fogo? — pergunto para Drinian, olhando-o por cima do ombro.
— Eu gosto do seu estilo. — ele comenta e acena com a mão para um tripulante, que imediatamente pega o timão. — Vamos.
Dessa forma, lá fomos nós pegar álcool para mergulharmos as pontas das flechas nele. E foi o que fizemos, tentando nos preocupar apenas com isso e não com o fato do lorde ter jogado a espada dele em Eustáquio, fazendo o dragão fugir com ela no ombro. Quando estou acendendo as flechas dos homens, lembro-me que Eustáquio voltava a ser humano quando tinha uma espada no ombro, então fico aliviada. Um problema a menos na lista.
O navio dá um solavanco e cambaleio um pouco, antes de me aprumar. Checo se nenhum dos homens com flechas em chamas colocou fogo em algo, e então me posiciono ao lado da fileira deles.
— Homens, mirem no alvo! — eu ordeno e eles fazem isso em sincronia, com o som das ordens de Drinian ao fundo. Observo a serpente parada, observando-nos, prestes a atacar, então volto a ordenar: — Atirem!
E é o que fazem. A maioria acerta o rosto e boca, então logo a serpente está mergulhando, absolutamente atordoada e machucada.
— Quais são as ordens, majestade? — um dos homens pergunta e olho para onde a serpente foi.
— Olho no mar e fiquem a postos. Não temos tempo para fazer isso novamente, então tentem causar o maior dano possível com o que temos. — eu mando e eles assentem. — Na boca e olhos, homens.
Recebo novos acenos de cabeça e corro até onde Drinian está, segurando-me no porta-corpo.
— Tem algumas facas, Drinian? — pergunto e ele assente, entregando-me três delas. — Obrigada.
O capitão voltar a assentir e mantenho os olhos na serpente, ouvindo os sussurros de minha mãe. Arregalo os olhos ao ver a serpente enrolando-se no navio e vejo os tripulantes correndo.
— Patético. — ouço o comentário de minha "mãe" e bufo.
— O que vamos fazer? — pergunto para Caspian, ao vê-lo subindo as escadas e vir em nossa direção.
— Deixe que eu assumo, Drinian. — Caspian diz e o capitão assente, afastando-se e correndo para entrar na briga contra a serpente. — Temos que formar um plano.
— Com certeza. — eu respondo, jogando uma de minhas facas na serpente e acertando em cheio, perto do pescoço. — Essa desgraçada vai ter que se desenrolar por bem ou por mal.
— Já sei. — Caspian diz e fica ao lado do timão, segurando-se firmemente nele. — Ei! Edmundo! Vamos esmagar a serpente nas rochas.
Solto um assobio impressionado e foco em jogar mais facas na serpente, ignorando a mim mesma e os pensamentos que surgem por causa da expressão feroz de Caspian.
Felizmente, a bendita da serpente finalmente se desenrosca do navio, embora agora esteja atacando os tripulantes.
Edmundo corre pelo navio e vejo Jonathan esquivando-se de um ataque da serpente, então jogo uma faca na criatura, tirando sua atenção de meu irmão.
Abaixo-me rapidamente quando ela me ataca e enfio minha última faca em seu pescoço, deslizando e abrindo uma ferida ali, embora não muito grande. A criatura se afasta e se balança, então parece preparar-se para me atacar novamente. Encaro-a e tiro a espada da bainha, tentando concentrar-me e não golpear o ar onde as sombras ainda sussurram, mas ela volta sua atenção para o feixe de luz que vem da proa, provavelmente da lanterna de Edmundo.
— Ele não vai, né? — eu murmuro, vendo a serpente de frente para a figura de proa em forma de cabeça de dragão, sabendo que Edmundo está na boca dele.
— Edmundo! — Caspian grita ao meu lado, preocupado, quando a serpente ataca a figura de proa e arranca um pedaço dela.
O navio avança em uma velocidade impressionante, encurralando a serpente aos poucos e assim dando maiores chances pro Pevensie sobreviver. Estreito os olhos e vejo Edmundo em cima da figura de proa, parecendo atiçar a criatura. Pronto, agora quer ser oferenda de paz?
Prendo a respiração ao ver uma flecha acertar o olho da serpente distraindo a serpente da loucura de Edmundo e olho para baixo, vendo Lúcia com o arco de Susana. Sorrio, orgulhosa, e vejo Jonathan com os olhos grudados na serpente, com a espada em punho. Meu garoto é corajoso.
— Se segurem! — Caspian avisa e é o que faço, segundos antes do navio fazer sanduíche de serpente marinha com uma enorme rocha. Com o impacto, Edmundo rola até o convés do navio e corro até ele, preocupada com seus gritos.
— Quebrou algo? — pergunto, ajoelhando-me ao seu lado.
— Talvez minha determinação. — ele responde e rio, ajudando-o a se sentar.
— Até parece. — reviro os olhos e dou tapinhas em suas costas, recebendo um olhar feio e uma reclamação de dor. — Ops, desculpe.
Ajudo ele a se levantar e ficamos observando a serpente ficar furiosa. Ok, estamos com problemas.
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Espero que tenham gostado.
A gente tá quase no fim, eu não tô chorando, você que tá!
Gente, pra quem não sabe, eu decidi deixar vocês fazerem fichas pro par do Ed como presente de Natal. Tá tudo lá no livro "fichinha aqui, mores". Obrigada quem já mandou, aliás!
Até a próxima.
09/01/2021.
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Impasse • Crônicas de Nárnia
Fanfiction[terceira temporada da saga Fortuna] Passaram-se quatro anos e agora Elle é uma mulher independente, com quatro crianças dependendo dela. Seu coração ainda dói por estar separada de Caspian, mas ela permanece firme, pois seus irmãos dependem dela. K...