The Devourer

I saw him

Existe uma criatura que viaja de floresta à floresta, ele é tímido e se alguém ver ele é melhor torcer para que não esteja com vontade de comer.
Eu estava na casa da minha avó em todas as vezes que eu vi. Na primeira ele olhava os patos e os cordeiros com o olhar faminto. Na segunda ele encarava confuso os trabalhadores arando os jardins para plantar as mudas que minha avó havia comprado. E teve a primeira vez que eu pude chegar bem perto, minha avó não sabe, ela não viu ele e nem acredita.
Eu matei um dos patos sem minha avó ver e fui para a floresta. Sentei e esperei, demorou só alguns minutos para ele aparecer. Ele encarava fixamente o pato em minha mão. Estendi e ele pegou, comendo em uma mordida. Aproveitei para me aproximar mais, sempre fui uma menina curiosa, e eu era pequena demais, não sabia que deveria sentir medo. Tentei toca-lo, mas ele me olhou e rosnou, parei imediatamente.

-Eu quero se sua amiga.- Falei inocentemente.

Mas isso não o afetou, ele virou e foi embora. Eu voltei saltitante por ter conseguido chegar pelo menos perto. Dia após dia eu ia lá e dava um pato pra ele. Eventualmente ele me deixou toca-lo. Sua pele era muito lisa e estranhamente úmida, minha mão chegava a escorregar. Pude ver seu rosto bem de perto também, sua boca era grande e cheia de dentes como um devido predador, ele era todo enorme, ate seus olhos... Nunca vi olhos iguais, a parte que deveria ser branca era totalmente preta, e a parte colorida era vermelha. Ele me levou pro alto, brinquei nas arvores, uma vez até dormi em sua mão. Estávamos muito próximos, havíamos virado amigos. Muitas vezes eu tive que enganar os trabalhadores para eles não acharem o Devour, era difícil mas eu conseguia. Ele também já me protegeu de lobos uma vez. Estávamos muito próximo.
Com o passar dos meses minha avó percebeu que seus animais começaram a ficar doentes sem motivo, e o sítio estava com uma aura estranha, eu não senti nada, mas todos os outros estavam se sentindo mal com isso. Logo, os animais começaram a morrer. Ficavam 2, 3 dias no mesmo local e então sumiam. Começaram com os cordeiros e então os patos. O sítio acabou, não havia mais nada lá, em 2 anos minha avó faleceu, por causa desta mesma aura. Na época eu não entendi por que aquilo aconteceu, mas agora eu sei, e foi culpa minha. Eu trouxe ele para perto do sítio, eu fiz ele ficar lá, eu sou a responsável pelas mortes no sítio. Ninguém acredita em mim, mas eu devo pagar pelo que fiz.
Hoje, eu estou indo ver ele naquele lugar novamente... Eu já sei o que vai acontecer. Afinal eu sou a única que sobreviveu a aura dele.

Eu vou ser D-E-V-O-R-A-D-A.

Relato 2
24/07/2010