eu pedi com tanto carinho...

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o céu continuamente acinzentado de novembro clareia conforme a minha ingenuidade cerebral; é quente ao longo da flecha do cupido, e as minhas mãos tremem descontroladamente.

sardas e sinais espalhados nas bochechas se alinham numa súbita constelação, e eu sei que é desconcertante sentir o coração bater, contar os flocos de neve e enrolar pisca-piscas natalinos ao redor dos dedos. me sinto sujo quando tomado pela fixação natalina e irrealista durante o fim do ano, cantando boas festas! como se não precisasse me lembrar todos os dias do meu reflexo miserável no espelho.

curvado sobre os pinheiros, eu pondero sobre o preço de um homem. dos lábios ensanguentados, os dedos encaixados na palma da mão. eu atirei uma maçã no centro da sua testa, pois rugia do topo dos meus lábios o desejo insano de chupar, lamber e mastigar os minúsculos ossinhos de pássaros engaiolados e majestosos. principalmente aqueles com bom gosto para ternos, saias, gravatas, ainda que eu deteste os estalos escapando de dentro dos meus dentes.

eu cheguei bem perto, tentando agarrar um último beijo da sua boca, duas mãos pálidas pressionadas contra as costas côncavas e curvilíneas. eu tentava desvendar aqueles sussurros incessantes porque, bom... talvez eu não fosse nem um pouco  melhor do que aqueles passarinhos.

você me dizia: "qual você espera que seja o preço de um homem se todos eles já nascem incompletos, hunnie?", e eu tentava alcançar os meus bolsos, desesperado por uma luva com detalhes brilhosos o suficiente para que as unhas arroxeadas e díspares grudadas à carne se mantivessem aquecidas.

eu imaginei uma ventania. o rastro de uma coleira incrustada de diamantes, partículas de glitter na linha dos cílios. um chapéu, quem sabe um quadro. minha voz rasgada orando junto às flores... eu não tinha ideia de como embrulhar um sonho pra presente. ou um lua. ou qualquer coisa. 

então, eu contei uma mentira. ela brilhava. e era linda. e doía pra caralho.

pode parecer injusto. pode parecer que sente muito. mas pra mim, que saltei da ponta do relógio tentando escapar das badaladas de paris, cultivar os cristais incandelados do marítimo com as minhas próprias lágrimas não passou de um mero sacrifício.

e, bom, como eu possivelmente poderia pedir misericórdia à um anjo quando eu mesmo incendiei todas as estrelas dos seus olhos?

você vomita um milhão de sonhos pelo meu cabelo, e seu coração bate, límpido, descontrolado contra a caixa no meio do seu tórax, perfurando as suas costelas até que você se dê conta de que não pode respirar. eu machuco meus joelhos, estirado no chão e partido nas peças de um quebra-cabeça incompleto. meus dedos tremem. tento recolher com pressa todos os seus estilhaços. eles sangram. bem mais do que eu, muito menos que o seu coração. o seu nome - anjo - salta da primeira página do dicionário, silabado, intangível, acusatório. ele crava os dentes nos meus pulsos, berra " EU NÃO PRECISO DE UM PAR DE ASAS", e aí eu me dou conta de que o glitter trançado nas minhas bochechas saiu de dentro da sua boca, e o que antes costumava ser um astro, foi engolido pelas sujas engrenagens de um estranho. 

estrelas saltam das minhas orelhas, lábios e nariz. elas são vermelhas e horrorosas... acho que não paguei a conta de luz do mês passado. talvez tenha gastado todo o meu dinheiro enxotando meus bolsos de presentes. ou talvez tenha enfiado cinquenta litros de vodca na minha garganta e agora o meu intestino pega fogo sempre que você me deseja feliz natal com um sorriso forjado de estrelas metálicas. ainda assim, eu dou um beijo na sua boca pálida, passo a língua pelos seus dentes e sussurro boas festas!!!

fios encaracolados de lágrimas se cristalizam no formato de pequenos flocos de neve; é inverno debaixo da sua pele. eu a toco por um milésimo de segundo. eu me queimo. e é tão lindo...

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boa tarde!!! ta chegando o fim do ano, natal, meu aniversario... vão ter muitas surpresas aqui, mesmo que eu nao goste do natal, como da pra ver ne ! odeio muitas coisas sobre o natal, mas amo voces 🤚💖

ESTRELAS METÁLICASOnde histórias criam vida. Descubra agora