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Ah, garoto, você se acha tão perfeito com essas curvas, mas onde está seu coração?

Eu o observo descer as escadas da casa superlotada de Lucas, uma jaqueta de couro vermelha escorregando pelo ombro direito e aquele sorriso presunçoso de quem sabe que atrai olhares independentemente de onde ande.

Mesmo o meu olhar, em descaso puro.

Donghyuck entrou no colégio no último semestre do segundo ano, trazendo com ele rumores curiosos e uma atenção que eu não sabia de onde vinha, afinal não passava de um garotinho mimado chegando atrasado no primeiro dia de aula.

Era meu último ano, eu finalmente era o capitão do time, estava indo pra uma faculdade legal, todo mundo me adorava... Mas não a ponto de ser mais popular do que Lee Donghyuck e seu sobrenome – ironicamente o mesmo que o meu – pesado feito um troféu.

Cara, eu realmente te detestava.

Você desfila pela sala, pisando nos pescoços que se colocam no caminho, e se joga no sofá de veludo escuro onde eu já estava sentado antes, ocupado demais dispensando cantadas ruins para sequer perceber que eu estava ali. Afinal, por que você estava ali?!

Quando eu finalmente acho que me livrei da sua sombra pegajosa, formado no Ensino Médio e indo na festa de faculdade de Lucas, meu colega da turma de Engenharia Civil, lá está você de novo jogando na minha cara a vida de filhinho de papai que eu nunca vou ter.

É tão forte, como se fosse me puxando na sua direção e sugando minhas energias, esse ódio.

Por isso tomo um gole longo demais da minha lata de cerveja quando me curvo em sua direção e reclamo baixinho:

- Pensei que essa não era uma festa pra criança.

É como se minha presença só fosse notada agora, com aquele virar lento de cabeça e sua análise de cima a baixo, me julgando com um crispar de lábios que absolutamente ninguém naquela sala conseguia ser tão sutil em demonstrar.

- Lee Minhyung.

Seu tom de voz é tão irritante quanto o sorrisinho que solta. Aquele sorrisinho presunçoso, aquele tom gritando bem na minha cara como achava que nunca mais nos veríamos.

Como você, do alto do seu pedestal, vive em uma bolha impenetrável para que esse garoto do subúrbio aqui consiga alcançar.

- Lee Donghyuck.

- Pensei que lucas tinha algum padrão em quem chamava pras festas dele.

- Menores de vinte e um poderia ser um bom padrão.

Seu sorriso se alarga, eu consigo ver nele toda a maquiagem que você usa desde que se conhece por gente. Essa sua fantasia de anjo perfeito, pena que ninguém parece ter reparado como sua auréola anda meio sumida ultimamente.

- Mas você também é menor de idade – provoca, se inclinando um pouco mais na minha direção e arrancando um som da minha garganta que nem eu reconhecia.

É como se eu rosnasse pra Donghyuck pelo próprio ato de coexistirmos.

Você percebe, porque se apoia na minha coxa para buscar minha lata de cerveja, mantendo a identidade falsa bem guardada no bolso traseiro da clalça de couro apertada. Você não precisa nem se dar ao trabalho de fingir, porque todo mundo ali compra suas mentiras por você.

- Eu nunca entendi muito bem porquê você me odeia, sabe? - continua, tomando um gole da minha bebida – No começo imaginava que era porque eu sempre fui mais legal do que você.

- Nem fodendo.

- É, foi minha conclusão também.

Sinto a pressão na minha virilha aumentar, indo perigosamente fundo quando o peso do seu corpo começa a ser apoiado unicamente na mão esquerda. Olha pra baixo por milésimos de segundo, mas parece o suficiente para te encher de uma confiança que me devora.

garoto do subúrbio; markhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora