When the Bell Rings

Prólogo

Era mais uma manhã de primavera na cidade de Urayasu e o sol brilhava no céu. Taeyang e Hajime apostavam uma intensa corrida de bicicletas.

- Ai! - Taeyang exclamou quando uma rocha quase o derrubou do veículo vermelho. 

Hajime soltou um arzinho pelo nariz. 

- Além de lento, você sequer consegue se manter em linha reta. - Ele zombava do amigo pela milésima vez no dia. 

Taeyang teria revidado o comentário se não estivesse ocupado se preocupando demais em não quebrar o nariz no asfalto. O vento soprava as mexas descoloridas nos seus olhos, dificultando sua quase impossível missão. 

Hajime, aproveitando-se de sua distração, acelerou o máximo que pode. Quando estava há um pouco mais de duzentos metros de distância do mais novo, virou-se e direcionou-o uma careta de provocação. 

- Hajime, seu babaca! - Taeyang arregalou os olhos. - Olha pra...! - Mas sua frase foi interrompida pelo alto barulho de Hajime se chocando com uma árvore. Em um salto, Taeyang pulou da sua bicicleta e correu de encontro ao amigo, que fora lançado no gramado do parque o qual tinham passado a manhã inteira. - Você enlouqueceu?

Taeyang se aproximou mais, até que se deu conta de que o corpo do outro tremia no chão. Ele quase teve um infarte antes mesmo de chegar até Hajime. 

- Isso foi demais! - Hajime se levantou subitamente e exclamando empolgação. Demoraram alguns segundos até Taeyang perceber que o tremelique do amigo era provocado por baixas risadas. Ele tacou seu capacete em Hajime. - Isso doeu! - O outro gritou, mas sem tirar um sorriso cínico do rosto. 

Taeyang se limitou a revirar os olhos. Uma movimentação um pouco distante da árvore a qual estavam debaixo chamou sua atenção. Ele avistou Mia, com seus cabelos esvoaçantes ao vento, rodando na grama cantarolando uma música agitada. Sua saia rosa bebê fazia delicadas curvas conforme ela girava e ria. Ao seu lado estava Harumi, com cara de poucos amigos, mas  tentando esconder o sorriso ao assistir a adorável cena da amiga dançando para ela.

O coração do garoto acelerou. Ele não via Mia desde o início das férias de primavera. Era uma coincidência enorme encontrá-la justamente enquanto aproveitava o último dia do recesso de meio de ano. Hajime encarou o sorriso bobão que se formava no rosto de Taeyang curioso, e seguiu o olhar do amigo. 

- Ora, ora. - Um sorriso malicioso se formava em seus lábios, enquanto uma brilhante ideia ocorreu em sua mente. Taeyang voltou-se pro Hajime. 

- Nem pense nisso. - Ele rosnou, mas o moreno já estava correndo na direção das duas meninas. Taeyang o seguiu, desengonçado e esticando os braços tentando alcançar o mais velho. 

Tal movimentação atraiu os olhos escuros e sagazes de Harumi. Ela simplesmente pigarreou e apontou na direção dos dois patetas, fazendo Mia parar de dançar e olhar para onde Mi apontava. Um sorriso simpático floresceu no gracioso e pequeno rosto de Mia, e ela colocou uma mecha rosa atrás da orelha. 

- Oi! - Ela deu passos saltitantes em direção à Hajime e Taeyang. Harumi revirou os olhos e sussurrou um "me poupe", enquanto se afastava lentamente, direcionando-se de volta ao lago no qual fazia um piquenique com a amiga à beira. - Hajime...o que é isso na sua testa? Você está sangrando. - A afirmação de Mia fez Harumi girar nos calcanhares, sem nem perceber, e olhar atentamente para Hajime. Por um segundo, ela poderia jurar que seu coração parou de funcionar. 

Hajime não pode deixar de notar a súbita mudança de atitude dela. Isso o fez esquecer de como se respirava. Por isso, reuniu forças para dizer:

- Mimosinha! - Ele abriu os braços em direção à Harumi, passando por Mia e a ignorando completamente. - O que eu fiz para merecer tamanha honra à essa hora do dia? - Ele parou a milímetros de Harumi, que deu um passo instintivo pra trás, forçando uma careta de nojo. Hajime, como sempre, soltava as piores e mais bregas cantadas.

Harumi tentou esconder a vermelhidão que tomava conta de suas bochechas e o empurrou com força pra trás. Ele arfou surpreso, mas sem deixar de sorrir. 

- Sua cara tá nojenta. - Ela passeou com os olhos pela face de Hajime, que possuia alguns arranhões sangrentos e vestígios de grama. 

Hajime teria respondido o comentário ácido da menina se não tivesse sido interrompido por um tapa na cabeça vindo de Taeyang. 

- Não ligue pros péssimos modos desse animal, Mia. - Ele se virou para a garota. - Foi ótimo encontrar vocês duas por aqui hoje. - Ele acenou para Harumi, que apenas respondeu com um tímido aceno de cabeça. 

Mia riu.

- Você fala como se eu não conhecesse a peça. - Ela soltou uma risada graciosa, o que fez com que Taeyang tivesse que usar todos os seus esforços internos para não apertar as bochechas dela.

- Perdão, Mamma Mia, mas não pude controlar a confusão mental que encontrar minha Mi causou no meu cérebro. - Hajime gesticulou com as mãos na direção de Harumi, dramaticamente, e Mia gargalhou com o apelido. 

Harumi avançou na direção deles com os punhos cerrados. 

- "Minha Mi" é o caral... - Mas Mia a interrompeu antes que pudesse completar a frase malcriada. Ela segurou os punhos de Mi e os balançou de um lado pro outro dando risadinhas.

- Então, meninos, o que vocês estão fazendo por aqui? - Mia mostrou todos os dentes em um belo sorriso para Taeyang e Hajime, capaz de derreter até o coração mais petrificado de todos. - Mi e eu estamos fazendo um piquenique ali na frente, seria um prazer se vocês se juntassem a gente. 

Harumi quase teve um treco. 

- Oh, minha queria amiga, Mia! - Hajime elevou o tom de voz e passou um dos braços por cima dos ambros de Harumi. - Como senti falta disso. 

E nesse clima o dia prosseguiu. A contragosto de Harumi, os meninos se juntaram à elas no piquenique. Hajime não pôde deixar de notar o tamanho da cesta de doces que Mia trouxera apenas para Mi, e admirou, encantado, enquanto ela devorava pacote atrás de pacote de doces. Conversa vai, conversa vem, entre apertos de bochecha que Taeyang dava em Mia, e entre chutes e socos que Harumi fazia questão de direcionar com toda a sua força a Hajime, o dia passou.

Um pouco antes do sol se por, os amigos foram para suas respectivas casas, afinal, o dia seguinte necessitava de todas as suas energias. Era dada a largada para o começo das aulas, e eles se reuniriam para o nono ano consecutivo o qual estudavam juntos. Um novo ano que traria novas histórias, amizades e, principalmente, romances que estavam prestes a desabrochar.