09 - Montando o quebra-cabeça

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O amanhã é hoje, e eu chego na escola. Enquanto ando pelos corredores, recebo muitos olhares maldosos. É por eu ser esquisito, por eu ser gay ou por eu ter traído o menino mais popular daqui? Onde eu fui me meter...

A primeira aula é de educação física e eu já tô a odiando sendo que nem começou ainda. Ao menos, encontro meu pequeno grupinho; artes e educação física são as únicas aulas que estudamos na mesma sala. Bria está animada — como sempre —, Yareli está com sono e Parlan está com sua cara de cansado. E que cara... Quê?! Foco!

— Oi, gente! — Chego jogando minha mochila delicadamente no chão, como de costume, no canto do corredor.

— Oi, arco-íris. — Yareli diz, com os olhos fechados, sentada no chão, encostada na parede. Os outros dois estão sentados ao seu lado.

— A-arco-íris? — gaguejo.

Os três dão risada. Nosso humor juntos é ótimo. Bom, até algum dos valentões aparecerem, mas nenhum sinal deles até agora. Devem ter nos deixado em paz mesmo.

— A professora de educação física não vem. Não é demais? — Yareli comenta.

Eu abro um sorriso. Odeio educação física. Odeio.

— Por que não ficamos no gramado, perto do ginásio onde teríamos aula? — Bria sugere. — A gente podia dividir alguns lanches.

Todos concordamos e seguimos a caminho do fundo da escola.


Estamos comendo três salgadinhos de batata e tomando um refrigerante, o que é proibido na escola, mas se ninguém vir, não é crime — claro que eu não concordo com essa ideia, mas é o dizem, e também é gostoso.

— Por que vocês não tentam se resolver? — Bria pergunta.

— Não sei. Acho que não vai rolar. Jonathan tá magoado, nem vi ele hoje.

— E com razão, né? Tipo... quem trai no mesmo dia que conhece o parceiro? — Yareli diz e ri, mas depois se toca e para, mudando sua expressão. Bria e Parlan estão rindo de nervoso e eu também. — Foi mal, Sherwin.

— E se a gente fizesse um plano para reatar o namoro de vocês? — Parlan manda uma ideia.

— Como assim?

— A gente podia falar que nada disso aconteceu e a imagem que tem rodado pelos celulares de todos os alunos do colégio é apenas uma montagem malfeita.

— Tá maluco, zé pateta? — Yareli dá um pedala na nuca de Parlan. — Mentir nunca é a solução. Nunca.

É possível escutar o primeiro sinal da segunda aula bater. Todos nós resmungamos. Yareli e eu devemos ir à sala de aula de espanhol, já Bria e Parlan vão à filosofia, que fica em outro bloco. Despedimo-nos da dupla e seguimos em frente nós dois:

— Nós precisamos bolar algum plano. — Yareli coloca a mão no queixo pra pensar, enquanto olha para baixo.

— Yareli, eu acho que não é uma ideia muito legal por ora. É que... a gente acabou de brigar, tudo aconteceu ontem, então precisamos de um tempo pra tentar resolver tudo isso.

Yareli vira os olhos e bufa.

— Ai, Sherwin! Não tem essa de "tempo pra tentar resolver tudo isso"! A gente já tá no capítulo nove, precisamos resolver isso o mais rápido possível.

— Eu sei, mas como- — Yareli me interrompe segurando nos meus ombros. Paramos de andar. Ela aponta com o indicador para longe, e quando vejo, é Jonathan. Ele está de costas. — Eu vou falar com ele.

Repentinamente (In a Heartbeat)Onde histórias criam vida. Descubra agora