Entrando na sala, que estava somente com a iluminação das janelas transparentes — continuava escuro, querendo ou não —, procuro pela Alice, enquanto ando até a mesa do professor.
É, não tem ninguém aqui.
A porta, de repente, é fechada com força por alguém. Assustado, corro até ela para abri-la, mas sem sucesso. Quem foi o idiota?
Eu grito sem parar, esperando que alguém me ouvisse, mesmo sendo algo impossível. Não há ninguém pelos corredores, e a janela é escura quando vista por fora da sala de aula, então as pessoas não me enxergariam aqui dentro.
Entro em pânico. Soco a porta diversas vezes, chorando, e nada. Este lugar escuro... sem ninguém por perto. Como eu odeio me sentir sozinho. É assim que eu sempre acabo me sentindo no final das contas. Não tenho o Jonathan, ninguém da escola — tirando o Parlan, a Bria e a Yareli — gosta de mim e em casa é tudo muito estranho. Ainda bem que o primeiro ano tá acabando para eu, talvez, conhecer novas pessoas no segundo.
Acendo a luz da sala e caminho até o outro lado, outra vez, onde está a mesa do professor, sentando nela. O que me resta é esperar o intervalo acabar e o tiozinho vir abrir a porta... daqui a alguns minutos.
A porta é aberta, sendo batida na parede com muita força, e alguém é arremessado para dentro da sala; é o Jonathan. Alice o jogou e, desesperada, ela puxa a porta e a tranca de novo, de imediato, fazendo um barulho muito alto. Meus olhos se arregalam e meu coração aperta, me fazendo gritar pelo susto.
É possível ver, pelas janelas um pouco escuras, Alice correndo para bem longe dali, deixando só ele... e eu.
Jonathan dá socos na porta, brabo.
— ALICE, ME TIRA DAQUI!!! — Ele esmurra a porta e a parede.
Alice já foi embora faz tempo, mas Jonathan não a viu, porque ainda estava no chão.
— S-Sherwin? — A minha presença é notada, e eu gelo.
Calculando em silêncio e rapidamente, percebo que tudo isso foi uma armadilha dos meus amigos... e faz sentido. Querem que o Jonathan e eu conversemos.
— Por que você tá fazendo isso?? — Jonathan surta.
— N-não, eu não fiz nada! Me trancaram aqui também, eu juro!
— Difícil acreditar em você.
— Jonathan, você também mentiu! Você tava beijando a Alice antes mesmo daquela briga e daquela conversa! — Eu bato na mesa com força, nervoso, fazendo ele levantar as suas sobrancelhas. — E você nem disfarça!
Jonathan arregala os olhos e olha para baixo.
— Ficou em silêncio, Jonathan? O Gibson me mostrou uma foto de vocês dois... se pegando! Você me mostrou uma foto totalmente diferente e eu caí igual a um patinho.
— Sherwin, e-eu só não queria te preocupar... Poxa, o Gibson apareceu na hora errada... Isso não deveria estar acontecendo...
— E você continuaria mentindo! Mentiroso! Traidor! E nem bv você era! Você mentiu sobre tudo!
— E eu não ser bv mudaria em alguma coisa?
— Não se você não tivesse mentido!
— Eu só... soltei essa mentira sem querer, Sherwin... Desculpa!
— E... e foi tudo uma grande mentira, né? — Eu soluço, enquanto choro. — Você nem pensou em como eu me sentiria depois...
— Peraí! Por que você tá jogando toda a culpa para cima de mim? De qualquer forma, tudo o que eu fiz não anula nenhuma das suas ações! — Os olhos dele se enchem de lágrimas. — Nada disso apaga o beijo que você deu n-no Victor e... e também no Parlan! Sherwin, você tá sendo injusto e egoísta!
Eu travo. Posso sentir o choque de realidade, enquanto sinto lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas... Eu... só pensei em mim mesmo o tempo todo. Eu sou... tóxico?
Jonathan limpa seu rosto com o braço e se aproxima da mesa do professor, a qual estou em cima. Ele coloca sua mão esquerda em meu rosto, acariciando-o. Não tenho palavras, só queria dizer...
— Desculpa. — Eu choro mais, soluçando. — Eu só tava pensando em mim...
— Fica tranquilo, Sherwin. Desculpa por tudo também. — Ele diz, limpando as minhas lágrimas.
— E-eu sou desprezível?
— Não, cabeça de fogo. Você é somente uma pessoa que erra, assim como qualquer outra.
— Eu te amo. Eu até entendo que as outras pessoas queiram ficar com um... galã de novela, e eu nem queria gostar de um, mas eu gosto, vou fazer o quê? — Volto a chorar, sorrindo.
Jonathan ri e, em seguida, segura as minhas mãos e diz:
— Por que não tentamos de novo? Tipo... um recomeço?
Olho para Jonathan, abrindo um sorriso enorme, enquanto sinto meu coração palpitar. Tudo dentro de mim está em festa. As borboletas voltaram para a minha barriga. Vai tudo voltar ao normal e... e... hã...
Fecho meu sorriso, ainda o encarando.
— Não. — digo.
Ele se assusta.
— Não? Por que não? S-Sherwin, eu te--
— Jonathan, entenda: tudo o que aconteceu é tão... recente, sabe? Você tem a noção de que a gente se conheceu, se apaixonou, se beijou e se traiu em somente um dia? — Eu falo com a maior tranquilidade do mundo, uma que eu nunca senti antes. — Ainda somos adolescentes com um fogo enorme. Nós precisamos de um tempo para amadurecer, você não acha?
— E-eu... — Jonathan abaixa a cabeça, com lágrimas em seus olhos.
Ele parece estar super triste e isso me quebra por dentro, mas preciso manter a postura.
— Eu acho que você tem razão, Sherwin, mas... saiba que eu amo você. Amo mais que tudo. Você acha que vai me esperar até ficarmos prontos pra ter alguma coisa?
O primeiro sinal da terceira aula bate. Eu olho para cima, buscando onde vem o som, e rapidamente volto a encarar Jonathan.
— Eu espero que sim. — Sorrio, e ele me devolve seu sorriso, dando-me um beijinho na testa depois.
— Então eu mal posso esperar para este dia chegar.
Nós nos abraçamos com um pouco de dificuldade no início, porque eu ainda estou em cima da mesa do professor, e ele em pé; contudo, com jeitinho, a posição melhorou, visto que, enquanto sentado na mesa, fico do tamanho de Jonathan, o que dá um encaixe perfeito para um abraço gostoso e confortável. Ficamos nesta posição por alguns minutos.
É possível ouvir o barulho da porta sendo destrancada.
— Malditas crianças! Como minha chave foi parar na fechadura desta porta? — O zelador Trey reclama lá fora, enquanto o segundo sinal bate para iniciar a próxima aula.
Ele abre a porta rapidamente e vê Jonathan e eu abraçadinhos; a chave cai de sua mão. Nós dois separamos o nosso abraço de olhos arregalados, olhando assustados para o senhor Trey.
Droga.
Ele vai gritar.
— PRA DETENÇÃO OS DOIS, AGORAAAAA!!!!!!!!!!
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Repentinamente (In a Heartbeat)
FanfictionMais um dia se inicia e Sherwin, um garoto ruivo de quatorze anos, precisa chegar a tempo na escola para fazer o que sempre faz antes das aulas começarem. "In a Heartbeat", por Beth David e Esteban Bravo.