•°00°•°•°Prólogo°•

314 15 6
                                    

Capítulo 0

Prólogo

   Um corpo caiu no chão no momento em que um trovão ressoou no céu.
   Isso iluminou os guerreiros que lutavam em um campo de batalha, onde havia muitos mortos, os vivos batalhando para sobreviver.
   Vários gritos se misturavam aos sons das espadas, flechas eram lançadas, acertando os alvos sem saber se era seu inimigo ou aliado.
   A batalha seguia até a praia e se estendia até ao mar, onde o sangue dos caídos manchava a água de um vermelho escuro vibrante.
   Em um lugar distante da guerra, no meio da floresta, onde as árvores dificultava a passagem, um rio sinuoso passava calmamente por ela e perto de sua nascente poderia ser encontrada uma casa, feita de pedra e madeira.
   A base dessa cabana era de pedras já desgastadas por conta de incontáveis chuvas e temporais, suas paredes de madeira, que outrora tinha uma coloração forte, agora estava velha e sem cor, janelas e portas frouxas quase caindo, e seu piso que antes era magnífico e polido, mas agora fazia um barulho incômodo e irritante.
   Essa casa que um dia era uma contrução invejada, agora não passava de pedaços velhos de madeira no meio de uma floresta.
   Soldados elfos se aproximaram cuidadosamente da cabana moribunda, sabendo que alguém estava dentro, então tentavam não chamar a atenção.
   O interior era pior do que o lado de fora, completamente vazio e sem nenhum móvel, as paredes roídas pelas traças, teias de aranhas por toda parte e poeira pelo chão, a chaminé empoeirada e carbonizada.
   Algo entregava que havia pessoas ali. Na poeira acumulada no chão, marcas de pés levavam até o portão da cabana.
   Se ainda tinha alguma dúvida sobre ter pessoas na casa, ela rapidamente foi respondida por um estrondo vindo do subsolo, acompanhado por duas vozes irritadas.
   — Olha só o que você fez!
   Esbravejou uma voz masculina, em um tom exaltado.
   — Que eu fiz? Não me culpe pelo seu erro, você é o culpado aqui!
   Outra voz ecoou, dessa vez feminina, mas tinha um jeito mais calmo e sério.
   No subsolo, seis seres estavam ao redor de uma mesa redonda e em cima dela seis cristais de diferentes cores, tamanhos e formas.
   Lumine, um anjo de cabelos loiros e olhos dourados, um majestoso par de asas brancas em suas costas e uma auréola no topo de sua cabeça. Com as mãos na cintura, ela olhava para o homem ao seu lado, Ruby resmungou e se abaixou, pegando uma jóia escarlate do chão. Ele colocou o cabelo vermelho atrás da orelha e colocou a pedra em cima da mesa, cruzando os braços e também encarando Lumine.
   — Perdeu alguma coisa na minha cara?
   O ruivo retrucou, mas a anjo apenas revirou os olhou e pegou a jóia branca que estava na sua frente.
   — Vampiros são tão mesquinhos.
   Lumine fechou os olhos, ambas as mãos em forma de concha na pedra.
   Antes que Ruby pudesse dizer algo, a outra mulher do seu lado tampou sua boca com a mão.
   — Já chega, precisamos nos concentrar agora.
   O homem bufou, mas obedeceu Freda e pegou novamente a jóia escarlate, de concentrando da mesma forma que Lumine.
   — Como consegue fazer ele obedecer você?
   Hadria, que estava do lado direito da anjo, sorriu para a mulher. O homem tinha cabelos de uma cor prata, chifres vermelhos na cabeça e um rabo enrolado na cintura como um cinto escuro, suas roupas brancas realçavam sua pele clara cheia de tatuagens, seus olhos negros continuavam focados em Freda.
   A elfa apenas sorriu de volta e deu de ombros, saindo do círculo de pedra e se aproximando dos dois jovens que observavam sentados em um canto, afastados dos outros.
   Freda era uma mulher realmente deslumbrante, seus cabelos encaracolados caiam sobre seus ombros negros e suas orbes castanhas emitiam uma sensação de confiança e segurança.
   — Estão preparados?
   Ela se sentou ao lado dos jovens, sorrindo para eles.
   — Não é exatamente como pensei que seria...
   Chandra virou o rosto moreno para o lado, suas orelhas de lobo atentas a qualquer sinal de perigo ou ameaça. Seu cabelo castanho caía sobre seus olhos lilás, obstruindo um pouco sua visão, mas sua audição aguçada estava em alerta.
   Freda se virou para Elora, a pequena fada mexia as mãos, inquieta, em um momento estava arrumando o Black Power rosa, em outro estava arrumando a saia e novamente ia para o cabelo.
   — E se algo dar errado?
   — Como o que?
   — Se formos pegos? Se as jóias não funcionarem? O plano vai dar realmente certo?
   — Bem, eu acho que precisamos tentar mesmo com as dúvidas, se der errado, temos que continuar tentando até funcionar, não podemos desistir facilmente. O que acham?
   Chandra e Elora concordaram com a cabeça, o lobo se levantou e esticou os braços, se alongando.
    — Estou pronto para tentar.
   Elora também se levantou e respirou fundo, segurando a barra da saia nervosamente.
   — Também quero tentar.
   Freda se orgulhou dos dois jovens, sorrindo para eles, os encorajando. Ela também se levantou e segurou as mãos dos dois.
   — Vamos lá então.
   A elfa os levou para a mesa de pedra onde Lumine, Hadria e Ruby estavam.
   — Ainda falta uma pessoa.
   O demônio ponderou, olhando em volta, uma jóia negra na mão.
   — É aquela vendedora de concha charlatã.
   Ruby perdeu a concentração e sua pedra voou para longe, fazendo um barulho alto.
   — Vai me culpar novamente por isso?
   Lumine colocou algo na mesa, não era a jóia branca que havia pegado antes, mas um pingente em forma de Asas.
   — Você conseguiu!
   Elora bateu palmas, finalmente o plano estava dando certo. A fada pegou a pedra rosa na sua frente e começou a se concentrar. Chandra ficou aliviado por tudo estar funcionando, respirando fundo, segurou a gema azul escuro e se concentrou.
   Ruby resmungou baixo e foi atrás de sua jóia voadora.
   — Grande merda ela ter conseguido, qualquer um consegue fazer essa porcaria de ritual...
   Quando o vampiro ia pegar a pedra vermelha do chão, um som alto ecoou no andar de cima.
   Todos ficaram parados, em silêncio, esperando o que aconteceria depois.
   A porta do porão foi aberta cautelosamente e um homem passou, asas douradas dificultando a passagem.
   — Desculpe pela demora, tivemos alguns problemas no caminho.
   O anjo se aproximou de Lumine, seu cabelo loiro amarrado em um rabo-de-cavalo baixo, vestido em uma armadura dourada completa.
   Uma outra pessoa passou pela porta, a fechando logo depois.
   Uma mulher de cabelos azuis e olhos verdes, usava uma saia rodada colorida e um biquíni de concha, uma pulseira com pequenas conchinhas e coisas relacionadas ao mar.
   — Estou muito atrasada?
   — Conseguimos o primeiro quase agora, sem problema.
   Freda falou gentilmente, colocando a mão no ombro de Chandra, o motivando a continuar o ritual.
   — Sem problemas? Ha! Que piada! Já faz mais de uma hora que estamos aqui tentando essa merda!
   Ruby rosnou, pegando sua jóia e voltando para o círculo de pedra, batendo a gema com força na mesa.
   — Ah... Sinto muito, como Monno disse, tivemos alguns problemas no caminho.
   Darya se dirigiu para o lugar vago na mesa, onde a última jóia, azul claro, brilhava fracamente.
   — Alguém já fez algum progresso?
   Monno limpou a garganta, claramente desconfortável com a  situação.
   — A sua querida irmãzinha conseguiu, pergunta pra ela, que tal?
   O vampiro respondeu ainda mais mal humorado, se afastando dos outros e se sentando em um canto isolado.
   — Não ligue para ele Monno, Ruby está irritado porque a Lumine conseguiu e ele não.
   Hadria zombou, rindo da irritação do ruivo.
   — Entendi, que bom que conseguiu Lumine, estou orgulhoso de você.
   O rosto da mulher ficou levemente corado e ela sorriu, colocou uma corrente no pingente e então o pôs no pescoço.
    — Posso começar o meu ritual?
   Darya perguntou, olhando para a jóia em sua mão. Freda concordou com a cabeça, a sereia respirou fundo e fechou os olhos, a pedra começou a emitir uma luz mais forte.
   Elora abriu os olhos verdes e olhou para as mãos, um pingente de lótus rosa surgiu onde estava a sua jóia.
   — Também consegui...
   A fada ficou surpresa, observando atentamente a lótus.
   — Muito bem Elora, seu pai vai ficar orgulhoso, assim como estou.
   Freda abraçou a jovem, e com uma linha dourada, fez um colar com o pingente.
   — Falta cinco agora...
    Hadria voltou a se concentrar em sua jóia negra e sem nenhum esforço a transformou em uma caveira.
   — Ha! Viu isso Ruby? Você com seu péssimo humor não vai conseguir fazer isso.
   O ruivo fechou os olhos e não respondeu ao comentário do demônio.
   Chandra se apoiou na mesa para não cair, colocando um pingente de Meia Lua na mão de Freda.
   — Sinto como se todas as minhas forças estivessem desaparecendo...
   — Descanse um pouco, pode não parecer mas o ritual exige muita energia.
   A elfa ajudou o garoto a se sentar, dando água para ele beber e o fazendo descansar.
   — Falta quais ainda?
   Elora se sentou ao lado de Chandra, o confortando.
   — Falta: Vampiro, sereia e elfo.
   Freda pegou a jóia verde e em poucos segundos a transformou em um pingente de Trevo de Quatro Folhas. A mulher guardou o objeto e também se sentou. 
   A pedra azul de Darya começou a brilhar muito mais forte, virando uma Concha, ela colocou em um cordão e o amarrou no pulso.
   — Fiz minha parte, agora tenho que voltar para Atlântida o mais rápido possível...
   — Deve ser muito importante vender conchas na guerra.
   Ruby resmungou, os braços cruzados.
   Darya se virou para o vampiro, nada satisfeita com seu comentário.
   — Melhor do que embebedar os próprios guerreiros.
   A sereia retrucou, indo até Ruby e parando na frente dele.
   — Meu trabalho é mais útil, posso conseguir informações importantes, mas não se preocupe, vender conchas vai acabar com a guerra, confia.
   — Olha aqui, você não sabe o caos que está na Cidade Submarina, várias sereias e tritões estão morrendo....
   — Nem parece que está acontecendo a mesma coisa na superfície! Essa guerra já tirou muitas vidas e o que você faz? Vende conchas!
   O homem se levantou, ficando cara a cara com Darya.
   — Por que o meu trabalho te incomoda?
   — Porque ele não ajuda nada na guerra! Lumine é a general dos anjos, Hadria um diplomata, Chandra o líder da Alcatéia, Elora e Freda princesas das raças delas, todos aqui são importantes, mas você vende conchas! Pensei que era pra chamar pessoas que pudessem realmente ajudar, não entendo onde você ajuda nisso tudo!
   — Se não percebeu, vender bebida também não ajuda muito!
   — Mas você é completamente INÚTIL NESSE PLANO!
   Todos ficaram em silêncio.
   Darya encarou Ruby, mas então começou a lacrimejar, extremamente ofendida e magoada.
   — Você tem razão, não sou importante, meu trabalho é completamente inútil, mas não sou eu que está falando um monte de merda e não fazendo porra nenhuma para ajudar! Estou dando o meu melhor para evitar mais mortes, não é para isso que estamos aqui? Então ao meu ver, quem é o inútil aqui é você! — A mulher se virou, limpando as lágrimas — sinto muito, mas eu realmente preciso ir.
   — Sem problemas, espero que tudo dê certo em Atlântida.
   Monno acompanhou a sereia até a porta e ela então foi embora. Um silêncio desagradável reinou no lugar, todos quietos perante a discussão que aconteceu.
   Ruby abaixou a cabeça, pensando no que tinha falado, começando a se culpar pela briga.
   Alguns segundos depois, um grito de Darya ressoou no andar superior, alertando a todos. Monno e Lumine correram para fora do porão, os outros ficaram onde estavam, prontos para fugir a qualquer sinal de perigo.
   Ao chegarem no primeiro andar, encontraram Darya ajoelhada em frente a lareira, procurando algo na chaminé.
   — O que aconteceu?
   A anjo foi até a sereia, preocupada.
   — Foi apenas um susto. Temos um penetra, ele se escondeu na chaminé.
   — Como alguém pode se esconder na...
   Monno foi cortado quando algo caiu na lareira espalhando cinzas e poeira para todo lado. Uma criança saiu e se levantou.
   — Você está bem?
   Darya perguntou, ajudando a limpar o menino.
   — Caiu sujeira nos meus olhos.
   A criança esfregou o rosto. Monno e Lumine ficaram horrorizados quando reconheceram o menino. O garoto tinha cabelos brancos, agora sujos de poeira, os olhos extremamente azuis, ligeiramente vermelhos depois de os esfregar, as roupas cinzas estavam imundas, um par de asas prateadas, as penas eriçadas e bagunçadas, e uma auréola no topo da cabeça.
   A anjo foi até ele, o segurando pelos ombros, uma mistura de preocupação e irritação em seu rosto.
   — Jhon! O que você está fazendo aqui?!
   — Eu não podia ficar parado enquanto os outros lutavam, precisava ajudar em algo!
   — Você não deveria ter vindo para cá! É muito perigoso! E se algum Caçador tivesse visto você?! Eles iriam roubar suas asas!
   — Mas eu tinha que ajudar em alguma coisa!
   — Onde você estava com a cabeça vindo para essa guerra?! Você vai voltar para Neo agora! É uma ordem e nem pense em a desobedecer!
   O menino começou a chorar, tentando limpar as lágrimas com a manga da camisa. Lumine se afastou respirando fundo, Monno suspirou e se aproximou de Jhon, se ajoelhando e ficando na mesma altura que ele.
   - Conseguiu descobrir algo que pode nos ajudar?
   O garoto fungou e esfregou o nariz, o deixando um pouco vermelho, então sacudiu a cabeça positivamente.
   - Vários Elfos da Neve estão se aproximando da casa, eles estão atrás da Freda. Vão atacar a qualquer momento.
   Os três adultos se entreolharam, sabiam que não conseguiriam sair dali sem lutar.
   — Atlântida vai ter que esperar, precisamos terminar o ritual rápido, antes que a guerra piore.
   Darya e Lumine voltaram para o porão, Monno se levantou e levou Jhon até a janela.
   — Volte para Neo, avise aos Superiores que já vamos terminar isso, essa guerra acaba hoje.
   — Mas Monno...
   — Você disse que quer ajudar não é? Mande essa mensagem, é assim que estará ajudando.
   — Está bem, vou ir o mais rápido que consigo!
   — Tome cuidado.
   Jhon pulou a janela e correu para a floresta, sumindo de vista.
   Também voltando para o porão, Monno se reuniu aos outros.
   — Temos que ir rápido, estamos quase lá.
   O anjo pegou a jóia escarlate e foi até Ruby. O ruivo suspirou, sabia da situação em que se encontravam, sabia o que tinha que fazer.
   Pegando a pedra, o vampiro se concentrou, filtrando todos seus pensamentos, a esperança que tinha, a motivação, os sonhos, desejos mais profundos, pensando nas pessoas, seus amigos e familiares, em seu amor e carinho por sua irmã.
   A jóia começou a brilhar intensamente, a última que faltava. O brilho vermelho foi diminuindo, um pingente em forma de Morcego nas mãos de Ruby.
   — Está feito.
   O homem se apoiou na parede, a cabeça girando e as forças se esvaindo de seu corpo. Se reunindo aos outros na mesa de pedra, os colares começaram a ressoar entre si, cada um brilhando fortemente, iluminando não apenas o porão, mas a cabana inteira.
   Era um sinal. Os soldados do lado de fora estavam prontos. Era hora de atacar.

Prólogo modificado: 19/05/2022

Entre Lendas [Versão beta/Teste]Onde histórias criam vida. Descubra agora