Capítulo Único.

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Na época da Guerra Fria, estar nas capas dos jornais era tudo. A União Soviética tentava fazer propaganda política a todo custo, pois sentia que estava ficando pra trás. Foi quando procurou cosmonautas pra que pudessem ir ao espaço. Através do Intercosmos, alguns candidatos foram escolhidos e começaram a bateria de testes. Dentre eles, duas mulheres, ambas chamadas pelo nome de Yeva, se saíram melhor.

Uma parecia o oposto da outra. Uma Yeva era loira, de cabelos longos e cacheados, sorridente e simpática. A outra Yeva era morena, de cabelos curtos e lisos, séria e chata. As duas eram extremamente inteligentes, e amigas de longa data. (Para fins narrativos, vamos chamar a morena de Yeva e a loira de Avey).

As duas foram convocadas para participar de uma missão no espaço, de observação e pesquisa. E, junto com as duas, foi convocado um cientista chamado... (bom, na verdade ninguém sabe o nome dele. Quando descobrimos essa história, através de jornais, o nome dele estava coberto de tinta preta, ou todo rasgado). Os três foram numa nave espacial Soyuz. Chegando em órbita, eles passaram dois dias lá, fazendo coisas de cosmonauta.

No terceiro dia, uma mudança nos planos, comunicada pelos comandantes na Terra, disse que eles iriam para a lua. A notícia foi acatada com obediência, porém, tinha-se muitas dúvidas se eles realmente tinham suprimentos e tecnologia suficiente para ir e voltar. Mas não se podia negar.

Os três cosmonautas foram avisados da localização da Estação Espacial MIR, onde ficariam até segunda ordem. Eles ativaram os propulsores e foram até lá. Conseguiram acoplar a Soyuz na MIR, e passaram um dia inteiro lá, continuando pesquisas. Enquanto esperavam por ordens, o os três voltaram a fazer suas pesquisas. O homem fez uma descoberta nesse meio tempo, mas não teve tempo de dizê-la, pois eles foram convocados novamente e autorizados para ir à lua.

Voltando à Soyuz, os três direcionaram-se para a lua. Vestiram até suas roupas de astronauta, por ordens superiores. No entanto, o sistema de orientação começou a dar falhas, e a rota foi alterada, sem mudar a alta velocidade. Os três pediram ajuda por meio do rádio, mas não tiveram resposta. Pra piorar a situação, a rede de computadores da nave deu curto circuito e começou a pegar fogo. O oxigênio começou a se tornar cada vez mais rarefeito, e os três desmaiaram.

...

Eles acordaram entre os destroços da nave, em outro planeta. O cientista foi o primeiro a acordar. Quando viu o matagal de cores estranhas, começou a rir. Rir de nervoso. Sua risada começou baixa, até ficar altíssima, espantando pássaros e acordando as duas Yevas.

As duas tiveram um susto. Avey começou a chorar de desespero, enquanto Yeva olhava pra todo aquele lugar, sem ter noção nenhuma do que fazer. O cientista saiu correndo até os destroços da nave, e procurou neles a sua descoberta. Felizmente, os vidros estavam intactos.

Ele arriscou abrir o vidro do seu capacete, e respirou o outro ar. Não era tóxico, mas sim úmido, semelhante à atmosfera terrestre. Revelou sua descoberta para as duas, e elas também abriram seus vidros, respirando o ar. A primeira coisa boa até ali: eles podiam respirar normalmente.

A partir dali eles começaram a discutir o que fariam. Primeiro, eles procurariam nos destroços da nave coisas que pudessem ser utilizadas ou reaproveitadas. Depois, tentariam fazer contato com a Terra ou um satélite, ou simplesmente tentar descobrir onde estavam. E, no fim de tudo, se não conseguissem se comunicar com os outros, explorariam aquele mundo.

O rádio estava parcialmente danificado, mas ainda funcionava, assim conseguiram recuperar uma parte do laboratório, algumas pesquisas e um pequeno computador com um mapa. Tentaram contato com a Terra. Estavam longe. Não muito longe, por sorte.

Com esses resultados, eles pegaram essas coisas e saíram pelo planeta, todos juntos, para não se perderem. Não demorou até que se deparassem com os animais, as aves, e outras criaturas que viviam lá. Havia água em grandes lagoas. Um céu roxo e um sol cor de luz. E um grande centro de lançamento abandonado.

Os três correram ao reconhecer a estrutura, e entraram nela gritando de alegria. Eles se dividiram e começaram a fazer aquela geringonça funcionar. No fim do dia, eles conseguiram. Deixaram para ir no dia seguinte, e descansaram de noite. Na outra manhã, o cientista deu às duas a sua descoberta: um "energético" a base de plantas. As duas beberam, e nada de ruim se sucedeu.

Já no final da tarde, conseguiram restaurar a estrutura do foguete que ali estava, e colocaram a rota para a Terra. Estranharam a tamanha tecnologia do lugar, mas pensaram que seria melhor vê-la com mais calma, numa segunda visita. Avey e o cientista ficaram já dentro da espaçonave, enquanto Yeva preparava o lançamento. Contagem regressiva. Todos estavam animados para voltar pra casa.

No entanto, enquanto corria até o foguete, Yeva começou a sentir uma intensa tontura. Ela desmaiou no caminho, e a nave decolou sem ela. Avey começou a se desesperar dentro da nave, e a pedir pro cientista que voltassem.

O cientista começou a rir, com um gosto de vitória na boca. Avey não entendia a alegria dele. Então ele a explicou:

Dumb soviets. That's why you can't compete with America. (Sovietes idiotas. É por isso que vocês não podem competir com os Estados Unidos.)

Inglês. Ao ouvir tal língua, Avey entrou em choque, e correu. Também começou a se sentir mal, mas aquilo não lhe importava. Ela tinha que sair dali. Sentia que sua vida corria perigo. Perdida e desorientada, ela entrou em uma sala que não conhecia, e a porta fechou atrás de si. Enquanto perdia os sentidos, ouviu uma voz robótica dizer que a cápsula de fuga havia sido desconectada.

...

Avey acordou com uma luz forte no rosto. Estava dentro de uma cidade estranha, quase uma favela, e uma multidão se aglomerava ao redor da sua cápsula. Quando estendeu o braço para proteger seus olhos da luz, tomou um susto: no lugar do seu braço, uma asa veio. Avey gritou e deu um pulo pra trás, até perceber que aquelas penas eram suas. A pessoa que apontava a lanterna pra ela também se assustou um pouco, mas dos seus olhos não saía o brilho da admiração.

It's an angel. (É um anjo.) — ele disse.

Apesar daquelas pessoas falarem inglês como o cientista, Avey não teve medo delas. Passou a viver ali, naquela estranha cidade. O tal "energético" dado pelo americano tinha causado uma mutação. Quando descobriu isso, Avey se preocupou com o que poderia ter acontecido com Yeva. Ela procurou informações sobre a base de lançamento abandonada, e eles disseram que não tinham certeza, mas viram um clarão ali perto. Poderia ser o lugar.

Avey não teve dúvidas. Saiu correndo até lá, e encontrou a base. Lá, conseguiu encontrar Yeva, mexendo em um dos computadores. Avey sorriu de alegria ao vê-la viva e bem, mas Yeva a olhou com uma expressão de ódio, e a ameaçou de morte, se não saísse dali. Ela acreditava veemente que tinha sido traída pelos dois. Avey insistiu em tentar ajuda-la, e até falou da cidade onde estava, porém Yeva se irritou e mostrou a mutação que lhe havia ocorrido: sua mão direita estava preta como chumbo, e nos seus dedos cresciam espinhos controlados por ela. Usando isso como chicote, ela expulsou Avey da base de lançamento.

Com o tempo, as duas começaram a ganhar poder por suas mutações, se tornando Damas daquele planeta. Até hoje elas não voltaram a se encontrar. Yeva não é vista pelas pessoas da cidade, porém, às vezes, da base aparece um clarão. Avey imagina que ela esteja tentando voltar pra Terra, para se vingar. E esse clima de tensão está até hoje: Yeva não se manifesta e Avey espera uma oportunidade para voltar a falar com ela. O cientista maluco? Nunca mais se ouviu falar dele...

Soyuz: Uma história de duas YevasOnde histórias criam vida. Descubra agora