Das Cinzas da Era Perdida

Capítulo 8 - Alfredo - Parte 3

Alfredo

Os dois deixam a Torre da Guerra. Dom Aldo cruza o pátio do Punho em direção à Torre da Decisão com seus usuais passos largos. Alfredo tenta acompanhar seu ritmo com seus usuais passos apressados e desengonçados.

Lordes e Barões que perambulam pela Torre da Decisão acompanham com olhos curiosos a inusitada dupla que chega no lugar com certo senso de urgência. Nenhum dos nobres que vieram ao Punho para receber a fatídica notícia da traição no Ninho voltou para os seus domínios ainda. Alfredo sente-se inquieto sempre que lembra deste fato. A imagem de adolescentes e jovens adultos tomando conta dos castelos de seus pais no meio de uma guerra não é muito reconfortante.

Dom Aldo sobe as escadarias até os aposentos utilizados pelo seu pai. Os Lordes mais influentes geralmente têm escritórios e quartos para ficarem hospedados na Torre da Decisão. Outros Lordes menos importantes ficam na Torre da Riqueza ou na Torre da Guerra, conforme sua influência.

Quando chegam no andar onde fica Lorde Feros, Alfredo está quase sem ar. Dom Aldo bate na porta.

- Entre – Lorde Feros diz do lado de dentro, com sua voz grave e serena.

Alfredo e Dom Aldo encontram o poderoso Lorde analisando papéis espalhados sobre sua mesa. Ele se parece muito com seu filho. Tem os mesmos olhos escuros, nariz fino e maçãs do rosto protuberantes. Seus cabelos também são castanhos, embora sejam pontuados aqui e ali com fios grisalhos. Ele veste roupas leves, feitas de couro, com um manto cinza pendurado em seus ombros, fixado com broches na forma de um crânio perfurado por uma espada, o símbolo da Família Feros.

- Aldo? Não estava esperando recebê-lo aqui – Lorde Feros diz. – Vejo que você trouxe sua nova sombra. O que você quer de mim?

- Conselhos – Dom Aldo diz, sentando-se em uma confortável poltrona perto da lareira acesa. Alfredo pensa em segui-lo, mas ele quer evitar fazer jus à sua aparente fama de sombra do nobre cavaleiro. Aliás, ele adoraria parar de agir como sombra, voltar para o seu canto preferido da biblioteca, e nunca mais sair de lá. – Interrogamos os principais soldados que guardam a Torre do Imperador.

- Algum resultado?

- Não.

- Foi o que imaginei. – Lorde Feros reclina-se em sua cadeira. – Todo este esforço é fútil, meu filho. Você não vê? Quem quer que tenha feito isso, já está longe daqui.

- Não sei se isto é verdade, mas não é isso que tira meu sono. Não importa se o assassino está longe ou perto daqui a esta altura. O que tira meu sono é que o assassino conseguiu entrar na Torre do Imperador em primeiro lugar.

- Aldo... – Lorde Feros diz, pausando sua fala para dar um longo suspiro. – Está acabado, meu filho. Lucas é o Imperador agora, e é só uma questão de tempo para que os Três Conselhos admitam essa dolorosa verdade. – Dom Aldo ajeita-se em sua poltrona, como se estivesse desconfortável. – Sua mãe sente sua falta, Aldo. E Lady Josefina está ficando sem paciência. Você sabe quantos nobres já perguntaram a Lorde Glad se sua filha vai mesmo se casar com você? Não há mais Imperador para proteger. Ou você pretende servir ao Imperador Lucas também?

- Você me ofende, Lorde Feros – o cavaleiro responde prontamente, com um tom desafiador em sua voz. Alfredo sente seu coração acelerar. Ele não está preparado para esse tipo de confronto. Ele se sente como uma presa dentro de uma jaula de leões. – Eu não sou o tipo de pessoa que volta para casa com o rabo entre as pernas.

Lordes Feros trinca a mandíbula e parece engolir seco.

- Então faça o que bem entender, Dom Aldo – diz o Lorde. – Para que você precisa de minha ajuda?

- Você conhece o Império como ninguém. Pai, você não vê? Isso foi trabalho de algum dos Lordes. Ou mesmo de algum Barão. Algum deles teria motivo para trair o Príncipe João?

- Não seja tolo, Aldo. Todos os Lordes deram seus exércitos e perderam milhares de homens nesta guerra. Os Barões perderam fortunas. Se qualquer nobre quisesse trair o Imperador Jonas ou quem quer que seja, já o teria feito anos atrás.

- Pode ser que o assassino quisesse ter feito isso anos atrás, mas só teve a oportunidade agora.

- E o que você sugere? – Lorde Feros pergunta com um ríspido tom de voz. – Você vai sair por aí apontando o dedo para Lordes e Barões, vociferando acusações infundadas? Você sabe o que isso vai causar?

Dom Aldo não oferece qualquer resposta. Ele se levanta de sua cadeira e caminha em direção à porta.

- Os Três Conselhos se reunirão hoje?

- Sim. Hoje de tarde. E eu vou tentar, uma vez mais, convencer o tolo do Lorde Dario a aceitar a sucessão do Imperador Lucas. Essa guerra já exigiu demais de todos nós. Não faz sentido continuarmos lutando sem uma causa que possamos defender.

O cavaleiro acena com a cabeça e retira-se da sala. Incerto sobre o que fazer, Alfredo hesita por um momento. Quando percebe que Lorde Feros o está encarando, ele o cumprimenta e deixa a sala rapidamente. Ele apressa o passo e alcança Dom Aldo.

- Você conseguiu o que queria? – Alfredo pergunta. – O que você pretende fazer agora?

- Venha comigo – DomAldo diz. – Eu te explico no caminho.