Alfredo
Os dois deixam a Estrada do Ferro e seguem pelas margens do rio. O terreno faz com que seu ritmo seja bastante lento. A terra é fofa e úmida, além de bastante acidentada, com pedras soltas e raízes protuberantes. Para piorar, as folhas do outono cobrem o chão, escondendo buracos e outros obstáculos.
O fluxo de pessoas aumenta à medida que eles se aproximam do Castelo da Agulha. A Terra do Ferro é uma das mais populosas do Império, talvez só perdendo para a Terra do Amanhã em termos de população. Muitos camponeses transitam pelo caminho às margens do Rio Vermelho, carregando alimentos e mercadorias. Os maiores carregamentos, no entanto, passam pela Estrada do Ferro e por outros caminhos mais largos, especialmente os carregamentos de minério de ferro, que são transportados pelos Lordes dos Mares em grandes comboios em direção ao porto do Punho.
- No que você está pensando? – Dom Aldo pergunta, olhando para Alfredo sobre seu ombro.
- Nada. Só estava lembrando dos carregamentos de minério de ferro.
- Que chatice. Você trabalhava com aqueles papéis no porto?
- Sim – Alfredo responde, supondo que o cavaleiro está se referindo aos títulos de embarque. – Todos os aprendizes têm que fazer isso durante um tempo.
- Eu já ajudei na escolta de um comboio uma vez, quando estava voltando da Agulha. Lorde Bainard pediu para eu o escoltasse. Não o atual Lorde Bainard. O pai dele, que ainda estava vivo. Eu ainda era um garoto. Lembro que fiquei fascinado pelos espadachins dos Lordes dos Mares. Até pedi para que um deles me ensinasse a usar a espada de lâmina curvada que eles usam, mas eles nem falavam comigo. Acredita?
- Eles não são do tipo que gosta de socializar...
- Eles não são o tipo de gente que gosta de gente – Dom Aldo corrige. – Depois que eu aprendi o tipo de gente que eles realmente são, eu nunca mais falei com nenhum deles. A segunda vez que Lorde Bainard me pediu para acompanhar um comboio, eu recusei.
As horas passam, e Dom Aldo se recusa a parar até mesmo para comer. Os dois comem sentados em suas selas, cavalgando. Ao escurecer, eles chegam na primeira das cidades que circundam o Castelo da Agulha. A esta altura, o caminho se distancia da margem do Rio Vermelho, passando pelas diversas cidades e vilarejos do Vale do Ferro, até chegar ao Castelo da Agulha.
A Cidade dos Ratos é a primeira no caminho e tem um nome autoexplicativo. Por ser mais distante da Agulha, ela é a mais pobre, e abriga não só uma grande quantidade de ratos e outros animais desprezíveis, mas também criminosos, prostitutas e cavaleiros decadentes. Dom Aldo e Alfredo atraem olhares curiosos ao passarem pelas estreitas ruas da Cidade, cobertas por sujeira e cercadas por casas precárias. A caveira da Família Feros no manto de Dom Aldo inibe qualquer intenção de incomodar a dupla.
Os dois continuam cavalgando noite adentro, passando por uma sucessão de vilarejos e pequenas cidades. Alfredo começa a ficar com sono, mas não ousa dormir. Ele não quer arriscar ter outro pesadelo.
Após várias horas, eles finalmente chegam na Cidade da Ponta. Alfredo já havia ouvido falar da cidade e viu diversos desenhos em livros, mas a vista ainda assim tira o seu fôlego. O lugar que eles estão é levemente elevado, então é possível ver as luzes da cidade e, ao fundo, o Castelo da Agulha.
Na escuridão da noite, Alfredo não consegue ver os detalhes arquitetônicos dos edifícios da cidade. Mas ele consegue imaginá-los, lembrando das pinturas que viu. Ele pensa nas janelas arqueadas, nas colunas inclinadas e nas cúpulas das torres que caracterizam algumas das construções. Alguns desses edifícios foram projetados pelo Irmão Sertus, que deixou sua marca em diversos pontos da Cidade da Ponta.
O Castelo da Agulha foi construído atrás da Cidade, logo ao lado da foz do Rio Vermelho, em uma fina tripa de terra inclinada para cima. Das quatro torres que formam a Agulha, a mais famosa é a torre mais alta, com uma cúpula triangular feita de metal, como a ponta de uma lança que perfura o céu. Dom Aldo sempre quis saber se foi por causa dessa torre que o castelo ganhou o nome que tem.
- Aqui estamos – o cavaleiro diz. – Seja bem-vindo ao castelo da Família Bainard.
- E agora, o que fazemos?
- Agora vamos falarcom Lorde Bainard, e descobrir exatamente o que os soldados dele estãoprocurando com tanto afinco.
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Das Cinzas da Era Perdida
FantasiaUma traição põe fim à Guerra dos Dois Irmãos e arrasta o Império para um novo conflito. Novas alianças se formam na luta pelo poder, enquanto outros lutam pela sobrevivência em meio ao caos.