Afinal, não somos normais

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Estava voltando da escola, já com uma roupa diferente. Aquilo foi um baita mico.

Mais um dia normal na minha vida.

Cheguei em casa e fui ao meu quarto deixar a mochila e os meus materiais de desenho que havia deixado no armário semana passada. Eu vou desenhar aquela mulher antes de esquecer completamente.

Estava prestes a descer para almoçar quando ouvi meus pais conversando na sala. Achei melhor esperar um pouco.

- Isso não é normal, Tom!

- E desde quando a Marinette foi normal?

Eles estavam falando de mim? O que não era normal? Eles não poderiam saber do sonho e, tirando isso, não havia nada de tão anormal. Os dois já desmaiaram quando adoeceram. Até aí, nada demais.

- Acho que precisamos levá-la a um neurologista.

- Isso é exagero, Sabine! A menina só sente saudades do amigo.

Espera, o que?

- Ela não lembra de um ano da própria vida, Tom! Isso não é exagero coisa nenhuma!

Okay, eu não deveria ter ouvido essa conversa. Como assim eu não lembro de um ano inteiro? Que ano? E o que raios isso tem a ver com saudades de um amigo? Todos os meus amigos estão aqui.

- Se você acha realmente necessário, nós levamos ela ao médico. Mas eu tenho certeza de que isso só vai piorar! Quer que nossa filha pense que achamos ela louca?

Louca? Eu estou louca? Isso não faz sentido!

- Você sabe muito bem que eu não acho isso! É uma consulta, Tom. Não vamos prendê-la a uma camisa de força!

Essa, com certeza, foi a pior escolha de palavras possíveis. Eles não podem me prender em uma camisa de força! Eu não vou deixar!

- Nem brinque com isso, Sabine! Eu só quero o melhor para a Marinette.

- E você acha que eu não quero? Estou preocupada com a minha filha e vou fazer tudo que puder pra ajudá-la.

- Nossa filha, Sabine.

Eu sei que o momento não foi dos melhores, mas estava prestes a espirrar. Me afastei da portinhola para que eles não percebessem que eu estava ouvindo eles planejarem aquilo tudo e espirrei. Escutei alguns barulhos, mas nada como "você nos ouviu, Marinette?". Até agora, tudo bem.

Esperei o tempo de três respirações completas e saí do meu quarto sem titubear. Como esperava, eles tinham se assustado com o barulho lá em cima e lembraram que a filha tem ouvidos. Lá se foi a discussão.

Comemos em silêncio.

Mais tarde, fiz algumas atividades da escola e ajudei meus pais na padaria. Não tínhamos conversado muito, apenas o necessário. Eles não sabiam o que eu tinha ouvido, mas tinham plena consciência de que eu não ficaria exatamente feliz em ser chamada de louca.

Depois do jantar, fui ao meu quarto e iniciei o desenho da mulher que vi no sonho.

Ou melhor, dos olhos dela.

Eles eram, de longe, a parte mais marcante do rosto dela. Não tinha reparado bem na hora porque estava atordoada, mas minhas lembranças não mentiam sobre o que eu vi.

Os olhos refletiam como duas joias, apresentando, pelo menos, quatro tons de verde diferentes. Seria difícil misturar com tanta exatidão usando lápis, mas eu gastei todas as minhas aquarelas com um trabalho de arte ano passado.

Lembrei da observação que havia feito: o brilho que eu via antes de dormir e durante aquele sonho era extremamente parecido com aqueles olhos cintilantes.

Localizei uma caneta branca na gaveta da mesa, e fiz alguns detalhes no desenho. Tentei ao máximo demonstrar todos os reflexos e tons que eles exprimiam.

Quando, finalmente, fiquei satisfeita com as cores que formei, vi que já estava muito tarde e amanhã eu teria aula.

Tirei minha pilha de roupas de cima da cama e as coloquei na cadeira da minha escrivaninha (eu fazia isso todas as noites, e o oposto todas as manhãs). Fui tomar um banho e, assim que pulei na cama, o relógio marcava as 02:30h.

[...]

- Bom dia, Marinette! Que cara é essa, amiga? Parece um panda...

- Muito engraçado, Alya! - que belo jeito de começar meu dia, hein - Passei a noite desenhando.

- Sério??? Isso significa que logo logo teremos mais uma tarde no shopping pra comprar tecido? - eu sei muito bem que tipo de tecido a Alya quer comprar... é quase impossível tirar ela da C&A!

- Na verdade, tinha feito alguns modelos semana passada e queria sua opinião pra escolher o que eu vou usar na formatura.

Íamos iniciar o segundo grau em alguns meses e, pra comemorar o sucesso que a turma teve em olimpíadas esse ano, a escola resolveu fazer uma cerimônia de formatura. Mas, como nem tudo são flores, vamos ter que dividir nossa festa com os veteranos do segundo grau, que também vão se formar.

Por causa disso, as meninas e eu estávamos a todo vapor em busca das roupas perfeitas.

Alya conseguiu encontrar a de quase todas nós, exceto eu e ela mesma.

Acho que a Chloé também está sem um modelo, mas não nos falamos muito, então nem sei se vale a pena oferecer ajuda. Ela é meio temperamental.

- Eu já disse mais de mil vezes que eu não vou usar um tubinho branco! Ficou louca? - falando nela, a Chloé passou por nós duas aos berros com o celular. Acho que, afinal, ela também estava com uns probleminhas.

Tá bem, ela é super temperamental.

- Ei, Chloé! - não resisti e chamei ela para perto da Alya e de mim.

- Ah, oi, meninas. - ela desligava o telefone. Provavelmente, desistiu da roupa que encomendava.

- Estava comentando com a Alya que eu fiz alguns modelos de vestidos pra gente, mas ainda não decidimos quais vamos usar. Se você quiser, podemos te ajudar com o seu também. - expliquei pra Chloé como funcionaria: ela nos ajudaria a escolher os vestidos e os tecidos, eu faria as roupas, e a Alya ficaria responsável por combinar nossos acessórios e sapatos.

- É uma ótima ideia, meninas!

Conversamos mais um pouco sobre quando iriamos comprar as coisas para que eu pudesse começa o mais rápido possível.

Em alguns minutos, o sinal anunciou a primeira aula do dia (a qual eu não chegaria tarde por algum milagre). Fomos juntas até a sala, conversando animadamente.

Fazia tempo desde que estive tão bem com a Chloé.

___________ • ☆ • __________

Mais um capítulo postado!

Tirando possíveis dúvidas: nessa fic a Chloé não é antagonista, muito pelo contrário; vai fazer parte de eventos importantíssimos para o desenvolvimento da história.

Até quarta, com Segredos de Dias de Verão, e até a próxima segunda com mais uma atualização de O Brilho Nos Meus Sonhos!

O Brilho Nos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora