Os gregos antigos acreditavam que tinhamos quatro braços e pernas e uma só cabeça com duas faces, eramos felizes, completos. Tão completos, que os deuses temendo que não precisassemos de devoção, nos partiram em dois deixando-nos vagando pela terra, divididos e aflitos, eternamente buscando a "outra metade" da nossa alma.
Claro, os gregos antigos não iam ao colégio.Renjun P.O.V
Sinceramente, por que viver em busca de algo claramente inalcansável que você nem sabe se existe realmente? Como se só assim você fosse ser feliz e encontrar todas as respostas pro sentido da vida sendo que você pode simplesmente, sei lá, viver? Cara, não tem lógica alguma nisso tudo. Pra mim as pessoas passam tempo de mais procurando algo ou alguém pra completa-las, quantas acham o amor verdadeiro? E das que acham, quantas delas fazem durar? E outra, o que é esse "amor verdadeiro"?
*BIIIIIIIIII!!*
Me assustei e perdi o controle da minha bicicleta por alguns segundos, eram aqueles merdas do time de basquete da escola, se acham os reis da cidade com aquela caminhonete azul, desde que descobriram que eu moro numa casinha simples na estação de trem vivem no meu pé, meu pai trabalha na estação de trem e de vez enquando eles passam por lá no turno dele pra tirar sarro, ele quase não fala inglês mas eu sei que ele entende o que eles dizem só não revida ou reclama disso depois. Ele sempre me diz que o problema real está naquelas pessoas e não nele, não sou tão paciente quanto ele, puxei a minha mãe, bom pelo menos é o que ele diz ja que eu não cheguei a conhecer ela direito, acho que eu tinhas uns 3 ou 4 anos quando ela morreu e as únicas coisas que eu tenho pra me lembrar dela é uma fotografia antiga e alguns livros empoeirados.Quando me dou conta, ja havia chegado a escola vou direto guardar minha bicicleta, era só mais um dia comum as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas de sempre, as meninas do clube de dança se alongando na entrada da quadra, o clube de teatro reunido nos bancos conversando e no estacionamento ficavam os populares, alguns caras do time, as garotas consideradas mais gostosas do colégio e no centro da atenção deles estava Mark Lee, capitão do time, filho do prefeito, com milhares de seguidores no instagram, o cara mais gato da cidade todo mundo adora ele, mas no fundo geral sabe que ele é so mais um babaca privilegiado. A única coisa que eu não entendo é o porquê de Na Jaemin andar com eles, tipo ele é bonito e tals mas sei lá, ele parece ser tão mais que tudo aquilo, mais que aqueles babacas. Toda manhã eu o vejo sentado na traseira da caminhonete de Mark, pensativo rindo casualmente quando alguém faz uma piada de gosto e moral duvidosa, mas apenas por educação como se só seu corpo estivesse lá, envolto nos braços de Lee.
O sinal toca, enquanto pego meus livros no armário um cara brota do nada com um papel na mão e um olhar de cachorro perdido.
- Cobro 2 conto por questão, redação faço por 10 cada página - vou logo dizendo mas ele nega com a cabeça e diz:
- E carta?
- Carta? Como assim carta? Cara se você quiser que eu faça seu dever é so pedir mas não escrevo cartas - digo e me viro pra sair.
- Espera eu pago quanto você quiser se escrever uma carta de amor - o mais alto respondeu meio desesperado.
- Eu já disse, não escrevo cartas muito menos cartinha de amor e dá licença eu to atrasado pra aula - antes que ele dissesse algo mais, saí.Entrei na sala sem que a professora notasse e me sentei no fundo, o primeiro período era filosofia e a senhora Jung queria que debatessemos sobre a frase: o inferno são os outros.
- Então turma, o que vocês acham que Sartre quis dizer aqui? - ela perguntou e logo fez sinal para uma garota da terceira fileira que levantou a mão tão empolgada quanto Hermione Granger.
- Significa que os outros são os responsaveis por causar o inferno nas nossas vidas com seus julgamentos - respondeu e olhou de lado pra mim com cara de deboche.
- Na verdade Yeji, essa é uma interpretação meio equivocada. Mais alguém quer tentar?
Como eu disse antes, tão empolgada quanto a Granger mas definitivamente não tão inteligente. A professora olhou direto pra mim.
- Renjun, quer dizer alguma coisa?
- A frase quer dizer que nós somos os responsáveis por causar o nosso proprio inferno, mas culpamos os outros ao invés de assumirmos e lidarmos com as consequências - olhei pra Yeji que revirava os olhos. Passei o resto da aula pensando na proposta do garoto, a coisa mais idiota que eu ja ouvi nessa manhã se ele quer se declarar pra alguém ele tem que fazer isso sozinho, e outra eu nem ia saber o que escrever não faço a mínima ideia de como falar de amor, tipo eu sei o básico que eu vejo nas comédias romanticas que meu pai assiste mas no geral, não sei nada sobre amor.A aula acabou e assim que os outros alunos sairam a senhora Jung veio me parabenizar pelas 6 redações sobre Platão (1 minha e 5 de outros colegas de classe), ela sabe que eu sou, digamos um empreendedor mas não liga já que foram 5 desastres a menos pra ela ler.
- Impressionante Renjun, você sabe que assim vai conseguir entrar em qualquer universidade, não é?
- Já lhe disse senhora Jung, vou ficar por aqui e cuidar do meu pai.
- E você sabe que isso é um desperdício de talento, seu pai é um homem adulto não precisa de babá.
- Eu preciso ficar, sem minha ajuda ele mal vai conseguir pagr as contas com o que recebe, eu já fiz os cálculos - disse e fui andando até a saída.
- Tem um mundo enorme fora dessa cidade de merda Renjun - senhora Jung disse.
- É uma cidade adorável professora - bom, pelo menos não é tão ruim assim.Segui para o refeitório e fui almoçar sozinho como sempre, não sou o tipo de pessoa com habilidades sociais. As aulas seguintes foram tranquilas mas mal consegui me concentrar, não parava de pensar na carta o garoto disse que me pagava quanto eu quisesse e até que uma graninha extra vai ajudar bastante, e pensando bem não deve ser tão dificil escrever uma coisa assim afinal de contas é pra um adolescente ou seja, um ser de pouca capacidade mental dominado por hormônios.
Assim que acabaram as aulas fui direto pra frente do colégio tentar encontrar o garoto, já estava desistindo quando vi um moreno alto de porte atlético indo em direção ao lugar das bicicletas.
- EEI! - gritei pouco antes de alcançar ele.
- Ah, você pensou no assunto? Vai me ajudar com a carta?
- É, 50 conto, uma carta e nada mais - disse recuperando o fôlego e estendi a mão pra apertar a do maior.
- Que top! Fechado então - deu um sorriso enorme e deu um tapa na minha mão - Ah, e eu sou o jeno.
- Ok Jeno, Renjun - disse sem muita cerimônia me despedi e fui pra casa.Trabalhei no meu turno na estação e fui pra casa pouco antes de anoitecer, na hora do jantar fiquei pensando no que escrever, meu pai deve ter percebido que eu estava meio aéreo, talvez por que eu quase levei a faca pra boca ao invés do garfo.
- Como foi a escola hoje filho? Fez algum amigo? - perguntou meio esperançoso.
- Não, e hoje foi tranquilo como sempre.
- Ouvi aqueles garotos falarem sobre um tal de um baile daqui a umas semanas, você vai?
- É so um baile de final de ano, não vou é so uma desculpa pra eles beberem.
-Filho você é muito solitário, precisa andar com pessoas da sua idade e nao ficar em casa cuidando de um velho.
- Estou bem assim e o senhor não tá tão velho aposto que ainda dá um caldo - disse e ele riu mostrando os dentes meio amarelados.O jantar acaba e eu vou pro meu quarto, me dou conta de que nem perguntei pra quem era a carta como que eu vou escrever se eu nem sei se é pra um garoto, garota ou pra ume garote, não sei nem por onde começar passo uns minutos rodando pelo quarto e vejo um dos livros velhos da minha mãe, um livro de poesias e já que poesias quase sempre falam de amor...
- Foda-se vou tirar algo daqui mesmo duvido que a pessoa saiba quem é o verdadeiro autor - folheei algumas paginas e encontrei um perfeito:"Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo."Pronto é isso tá ótimo amanhã de manhã entrego. Assino o nome de Jeno envelopo a carta e finalmente vou dormir.
N/A: O poema da carta é Inconfesso Desejo de Carlos Drummond de Andrade e é apenas uma parte dele.
Perdão por qualquer erro ortográfico e é isso, obrigada por ler❤.

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The half of it (HIATUS)
RomanceOnde Lee Jeno, um atleta não tão popular assim pede ao gênio Huang Renjun para escrever uma única carta de amor endereçada a Na Jaemin, um dos caras mais bonitos da escola. Baseada no filme "Você nem imagina" da netflix. Atts: terças, quintas e sába...