rain & rumors

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jimin.

Em muitos momentos da minha vida, me percebi falando algo como: "bem, pior que isso não fica".

Foi em uma terça de manhã que descobri que podia piorar sim, para um senhor caralho. Momentos antes da desgraça acontecer, tsc.

Não pensei que aquele dia no qual eu tinha acordado já sorrindo igual um baitola graças à Mabel, que começou a se remexer debaixo dos meus pés acabando por fazer cosquinhas, podia se tornar uma merda tão grande. O início de um sonho - e já adianto, deu tudo errado. O universo ou sei lá o que realmente comeu meu cu com farofa.
E oh, Mabel é minha gatinha. Tipo, ela é realmente um gato. Pensaram que eu era desses que dorme com alguém na mesma frequência que troca de roupa + chama a mesma de gatinha? Hahahahaha não. Na verdade, eu infelizmente sou gay. A parte da infelicidade é por gostar dessa desgraça chamada homem, mas fazer o que se essas coisas a gente não escolhe não é? Mas calma que só piora. Se você é aquele tipo de pessoa que ri quando o outro cai, provavelmente vai ficar bem satisfeito lendo esses relatos porque a coisa que a vida mais faz comigo é me derrubar, com duas voadora nos peito e ainda de quebra um chute no saco.
Levantei na força do ódio e vesti um moletom que tinha duas vezes o meu tamanho. Aí fui pro banheiro, essas coisas todas e depois até a cozinha. As gotas de chuva faziam um barulhinho bom quando caíam nas folhas das árvores do lado de fora, e fiquei observando a cena enquanto esperava o chá ficar pronto. Despejei o conteúdo nas canecas e em passos preguiçosos fui até o sofá, onde minha mãe estava, concentrada no noticiário.

- Bom dia filho. Dormiu bem?

- Oi mãe, dormi sim. - Respondi, a entregando uma das canecas e ela sorriu. - Algo interessante? - Fiz um gesto para a TV, já me acomodando no sofá macio.

- Aquele vírus lá, do covid... Decretaram pandemia por causa dele.

Quase engasquei. Quando falei que seria bom se a minha vida fosse a caralha de um filme, era mais do tipo "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", e não "A Morte te Dá Parabéns". Arregalei os olhos enquanto ainda bebericava o chá, e minha mãe apenas assentiu:

- Eu sei... Mas não se preocupe querido, Deus está do nosso lado. - Ela sorriu e deu tapinhas nos meus joelhos. Mesmo sendo meio cético em relação a crença da minha mãe, sorri porque ela ainda tentou me consolar, mesmo que do jeito dela.

- Claro. Hm... Cadê o Dipper?

- Tá aí no seu pé filho!

- Mãe, essa é a Mabel. Não acredito que você ainda não aprendeu os nomes, eles já tem dois anos!

- Bem, eles são iguais!

- Quase iguais. Lembra, o Dipper tem uma marquinha branca na cabeça, por causa dela ele tem esse nome. Como no desenho.

- Ok, ok. Vou lembrar. Provavelmente ele está perto do aquecedor. - Disse, se levantando. Só então percebi que ela já estava com as roupas do trabalho. Uma saia lápis preta e blazer de mesma cor, os cabelos pretos caindo pelos ombros. - Eu já vou indo. Me pediram para chegar mais cedo, reunião de advogados e... bem, você sabe. Deixei seu café no microondas. - Beijou o topo da minha cabeça e a afagou de leve.

- Obrigado. - Sorri e a observei indo em direção a porta, pegando a bolsa da mesa e parando na porta antes de dar um último aceno, desaparecendo em seguida.

Suspirei e olhei para o relógio. 42 minutos até que eu precise estar na escola

Eu ia gostar muito de dizer que levantei para me arrumar mas, eu narro essa porra então qual seria o sentido, não é mesmo? Então, pela milésima vez em minha existência, acabei ignorando algo que eu deveria fazer para exercitar o suprassumo da procrastinação: olhar para o teto e pensar o quão mixuruca é minha vida.

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⏰ Última atualização: Oct 03, 2020 ⏰

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