Trujillo — Outono, Dezembro de 834 d.C.
Juan acatou o conselho de Yusuf e com o coração disparado se sentou encostado na armação de madeira onde as trepadeiras floridas cresciam. Teria entendido certo que Jamila pedira para que ele a esperasse naquele local? Alguns convidados conversavam animadamente enquanto servos passavam com jarras de chá de hortelã e doces os servindo.
— Juan... – ouviu o sussurro doce e musical de Jamila por detrás da treliça e seu coração sangrou novamente.
— Minha Dama – murmurou em resposta tentando controlar a emoção.
— Juan, não me chame assim, por favor...
— Nada mudou em meu coração, Jamila, continuo a amando, fuja comigo! – implorou com a voz entrecortada de emoção por estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe dela, sentindo sua presença e seu perfume de jasmim.
— Me pedes o impossível.
— Nada é impossível para quem ama.
— Juan...
— As crianças que espera, são minhas ou do muládi?
— Isso importa?
Ele meditou por um momento, mas somente havia uma certeza em seu coração, o amor que sentia por ela.
— Não importa, se forem dele, ainda assim os amarei como meus, tendo você ao meu lado – respondeu com convicção.
Ele ouviu soluços, como se Jamila chorasse do outro lado da grade.
— Jamila? Diga que me ama, eu imploro.
— Juan – começou com a voz embargada — você deve partir, maktub, se recorda do que Yusuf lhe explicou?
Ele se lembrou do dia do casamento e da conversa que tivera com o mentor de dela, que o aconselhara a aceitar o destino.
— Ele lhe contou?
— Sim, você foi temerário em ter ido atrás de mim, poderia ter sido morto.
— Morto eu estou desde que a perdi – respondeu voltando o rosto para a grade sem se importar que alguém visse — juro pela Santíssima Trindade, eu tentei te buscar, mas Yusuf me impediu.
Ele vislumbrou por entre as folhas da trepadeira e as grades da madeira o rosto de Jamila, escondido por um véu, apenas seus olhos verdes marejados de lágrimas eram perfeitamente visíveis.
— Siga seu caminho, eu lhe imploro, aceite sua sina, assim como eu aceitei a minha, maktub, estava escrito, o que quer que o destino nos reserve será a vontade de Alá, e ele é misericordioso – disse ela colocando os dedos na grade de madeira.
— Jamila, minha Dama, eu lhe imploro novamente, venha comigo, fujamos para longe da Hispânia! – implorou colocando seus dedos por sobre os dela.
Ele sentiu o calor de sua pele e sem se conter os beijou. Por um momento ela não se moveu, mas de repente, retirou as mãos.
— Parta de Trujillo, Juan, imediatamente, pedirei para que Suleymán não o receba mais – ordenou recuperando um pouco do tom enérgico da voz de quando comandava suas tropas.
— Se essa é vossa vontade, minha Dama.
— Sim, é, e não me chame mais dessa forma – respondeu.
Juan sentiu o coração e alma despedaçados e se ergueu do banco onde se sentara.
— Seu desejo, minha vontade – respondeu virando as costas e saindo do jardim com passos duros.
— Luz da minha vida – murmurou Jamila em meio às lágrimas que banhavam seu rosto enquanto o observava partir — eu te amo, sempre amarei.
Com dificuldade ela se ergueu do banco que havia do outro lado e caminhou pelo corredor em direção a seus aposentos.
Por mais que desejasse não poderia fugir com ele, não sem condená-lo à morte. Suleymán fora categórico ao saber da presença de Juan na cidade. Se Jamila fugisse com ele, supondo que o jovem conseguisse invadir o palácio, algo impossível, seu esposo caçaria a ambos, o mataria e depois enviaria os filhos dela para além-mar, cerrando-a dentro dos muros do palácio.
Quando entrou no quarto sentiu algo úmido escorrendo por suas pernas e uma dor violenta no ventre.
— Meus bebês! Vão nascer! – gritou atraindo a atenção das servas.
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A GUERREIRA INDOMÁVEL
Romance"O que acontece quando uma jovem guerreira se vê entre o amor e sua convicção?" Século IX d.C., a península ibérica dominada pelos árabes se vê envolta em fortes tensões sociais. Uma embaixada enviada pelo último rei cristão à Mérida tem o objetivo...