Livro II, capítulo X

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Trujillo — Outono, Dezembro de 834 d.C.

Juan acatou o conselho de Yusuf e com o coração disparado se sentou encostado na armação de madeira onde as trepadeiras floridas cresciam. Teria entendido certo que Jamila pedira para que ele a esperasse naquele local? Alguns convidados conversavam animadamente enquanto servos passavam com jarras de chá de hortelã e doces os servindo.

— Juan... – ouviu o sussurro doce e musical de Jamila por detrás da treliça e seu coração sangrou novamente.

— Minha Dama – murmurou em resposta tentando controlar a emoção.

— Juan, não me chame assim, por favor...

— Nada mudou em meu coração, Jamila, continuo a amando, fuja comigo! – implorou com a voz entrecortada de emoção por estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe dela, sentindo sua presença e seu perfume de jasmim.

— Me pedes o impossível.

— Nada é impossível para quem ama.

— Juan...

— As crianças que espera, são minhas ou do muládi?

— Isso importa?

Ele meditou por um momento, mas somente havia uma certeza em seu coração, o amor que sentia por ela.

— Não importa, se forem dele, ainda assim os amarei como meus, tendo você ao meu lado – respondeu com convicção.

Ele ouviu soluços, como se Jamila chorasse do outro lado da grade.

— Jamila? Diga que me ama, eu imploro.

— Juan – começou com a voz embargada — você deve partir, maktub, se recorda do que Yusuf lhe explicou?

Ele se lembrou do dia do casamento e da conversa que tivera com o mentor de dela, que o aconselhara a aceitar o destino.

— Ele lhe contou?

— Sim, você foi temerário em ter ido atrás de mim, poderia ter sido morto.

— Morto eu estou desde que a perdi – respondeu voltando o rosto para a grade sem se importar que alguém visse — juro pela Santíssima Trindade, eu tentei te buscar, mas Yusuf me impediu.

Ele vislumbrou por entre as folhas da trepadeira e as grades da madeira o rosto de Jamila, escondido por um véu, apenas seus olhos verdes marejados de lágrimas eram perfeitamente visíveis.

— Siga seu caminho, eu lhe imploro, aceite sua sina, assim como eu aceitei a minha, maktub, estava escrito, o que quer que o destino nos reserve será a vontade de Alá, e ele é misericordioso – disse ela colocando os dedos na grade de madeira.

— Jamila, minha Dama, eu lhe imploro novamente, venha comigo, fujamos para longe da Hispânia! – implorou colocando seus dedos por sobre os dela.

Ele sentiu o calor de sua pele e sem se conter os beijou. Por um momento ela não se moveu, mas de repente, retirou as mãos.

— Parta de Trujillo, Juan, imediatamente, pedirei para que Suleymán não o receba mais – ordenou recuperando um pouco do tom enérgico da voz de quando comandava suas tropas.

— Se essa é vossa vontade, minha Dama.

— Sim, é, e não me chame mais dessa forma – respondeu.

Juan sentiu o coração e alma despedaçados e se ergueu do banco onde se sentara.

— Seu desejo, minha vontade – respondeu virando as costas e saindo do jardim com passos duros.

— Luz da minha vida – murmurou Jamila em meio às lágrimas que banhavam seu rosto enquanto o observava partir — eu te amo, sempre amarei.

Com dificuldade ela se ergueu do banco que havia do outro lado e caminhou pelo corredor em direção a seus aposentos.

Por mais que desejasse não poderia fugir com ele, não sem condená-lo à morte. Suleymán fora categórico ao saber da presença de Juan na cidade. Se Jamila fugisse com ele, supondo que o jovem conseguisse invadir o palácio, algo impossível, seu esposo caçaria a ambos, o mataria e depois enviaria os filhos dela para além-mar, cerrando-a dentro dos muros do palácio.

Quando entrou no quarto sentiu algo úmido escorrendo por suas pernas e uma dor violenta no ventre.

— Meus bebês! Vão nascer! – gritou atraindo a atenção das servas. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora