Capítulo XIII

81 19 2
                                    

Escandinávia – Inverno, Fevereiro de 835 d.C. – Escandinávia

Brunilde bebeu mais uma caneca de hidromel, perdera a conta de quantas ingerira desde que aportara em sua aldeia. As notícias de sua volta chegaram primeiro que ela, sua tia Varda a aguardava com um banquete preparado. O salão da aldeia era pequeno, por isso os guerreiros e moradores se espalhavam em volta, o tempo estava frio, mas ao menos não nevava ou chovia, mesmo assim ela desejava o calor de Al-Andalus.

Por um momento pensou em Ibrahim e nas noites tórridas de amor que passaram, as quais sempre terminavam com os dois em uma banheira com água tépida, onde ele esfregava suas costas carinhosamente, usando uma esponja macia, mas afastou-o de seus pensamentos, pois isso só lhe causava dor.

Ela não viera só, Ragnar a presenteara com dois drakkares recém-construídos, em troca ficara com o que ela construíra e o oferecera em um sacrifício aos deuses, no qual pediu o favor deles para a nova expedição que estava montando.

Ele se mostrara vivamente interessado em sua aventura e na descrição do interior da Hispânia, Brunilde percebeu o olhar de cobiça dele enquanto narrava e se arrependeu, aprendera a amar Mérida e imaginou seus compatriotas promovendo um banho de sangue e destruição em suas ruas.

Além dos dois barcos, ela também conseguiu novos guerreiros que juraram segui-la como uma Jarl, mas intimamente ela se sentia ainda presa ao juramento feito a Jamila e ao irmão dela e, secretamente planejava voltar.

Bjorn em sua embarcação a acompanhou até a aldeia, deixando sua esposa para trás. Agora ele enchia sua caneca mais uma vez.

— Você quer me embriagar! – exclamou entre irritada e divertida.

— Uma guerreira de renome como você pode aguentar mais uma caneca de hidromel – quase gritou para ser ouvido acima do alarido dos guerreiros reunidos.

Brunilde aceitou o desafio implícito e bebeu de uma só vez, sentindo o líquido descer queimando por sua garganta.

— Essa é minha sobrinha, agora uma renomada skjaldmö! Suas ações honram nossa família! – gritou Varda se aproximando com sua caneca — Skol!

— Skol! – gritaram dezenas de gargantas.

Brunilde perdeu a noção do tempo, de repente saiu do salão apinhado e quente e foi para fora respirar ar puro, com andar cambaleante caminhou até a praia de seixos e areia negra, onde as ondas morriam suavemente. O céu estava encoberto por nuvens e algumas poucas estrelas eram visíveis, a única iluminação vinha dos archotes e braseiros acesos próximo ao salão.

Respirou fundo controlando a vontade de vomitar, bebera demais, pensou consigo mesma, não estava mais acostumada, em Al-Andaluz a bebida era difícil de conseguir.

— Brunilde – ouviu uma voz a chamando e ao se virar encontrou Bjorn quase ao seu lado.

— Bjorn...

— Estou orgulho de você também – disse tocando com os dedos a ponta da trança que prendia seus cabelos e que caía sobre seu seio.

— Obrigada – rosnou, ainda sem saber se gostava ou não do toque.

— Pensei muito em você, em nós, quando partiste da Franquia – continuou se aproximando ainda mais — fiquei triste quando sua tia retornou e disse que você morrera em uma terra distante.

— Mas estou viva e bem – respondeu com orgulho.

— Sim, seu feito será cantado por bardos em salões por toda Escandinávia por gerações, sua aventura é impressionante.

— Obrigada – respondeu sentindo a proximidade de Bjorn.

Não podia negar, ele era um homem atraente, alto e forte como o pai, sem nenhum grama de gordura nos músculos poderosos, possuía os olhos azuis escuros e cabelos loiros compridos, amarrados em uma trança, uma barba, também loira crescia em seu rosto caindo até a altura do peito. Sem contar que era um guerreiro de renome. Bem diferente de Ibrahim, pele morena, cabelos negros, sem nenhum pelo no rosto ou no peito, esbelto sem ser musculoso, que amava mais a literatura do que a guerra.

Bjorn a enlaçou pela cintura e em um movimento brusco a puxou contra seu corpo, beijando-a com paixão de uma forma quase violenta, também diferente de Ibrahim, pensou enquanto correspondia ao beijo, o árabe era gentil e delicado.

— Por Odin! – gritou Bjorn se afastando dois passos, seus lábios sangrando onde Brunilde o mordera com força — Está louca, mulher?

— Você que deve estar possuído! – respondeu com uma gargalhada — Imaginou que eu cairia em seus braços novamente? Justamente o homem que me abandonou? Não sinto mais nada por você, Bjorn Lodbrok, conheci alguém muito melhor em Al-Andalus!

E era verdade, comparando ambos, Ibrahim vencia com folga, apesar de não ser um guerreiro nato, era um homem honrado e inteligente, que a ensinara coisas que ela nunca imaginara, que a fizera sentir sensações na cama que ela nunca sentira. Agora considerava até mesmo vulgar a forma como ela e Bjorn se amavam, quase como dois animais, cada um querendo se satisfazer primeiro, sem se importar com o prazer do companheiro, bem diferente do árabe que fazia questão que ela atingisse o clímax todas às vezes.

— Não vou esquecer essa afronta – disse com voz ofendida de um menino mimado não acostumado a receber um não.

— Conto com isso – gargalhou novamente.

Com passos firmes e orgulhosa caminhou de volta para o salão onde a comemoração ainda continuava animada.

Ela era Brunilde, a Rompe Tormentas, uma skjaldmö renomada, com duas embarcações prontas para singrarem os mares.

Amava Ibrahim e cumpriria sua promessa, navegaria até o fim do mundo, se necessário, para reencontrá-lo. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora