Capítulo XV

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Frísia — Primavera, Março de 835 d.C.

O inverno passou e uma nova primavera chegou, época dos vikings se lançarem ao mar, Ragnar convocara a todos para uma reunião com o objetivo de decidir os alvos da próxima excursão de saque.

Brunilde liderou suas duas embarcações até Kattegat, juntamente com tia Varda, que liderava três.

Como da primeira vez em que viera para participar de uma excursão, a cidade estava repleta de guerreiros, as embarcações tomavam conta dos vários decks do porto. A quantidade de mercadores parecia ter duplicado, assim como de moradores.

— Ragnar é abençoado pelos deuses – explicou Varda — a cidade cresceu muito desde que partimos para a Franquia dois anos atrás.

Dois anos, fazia mais de um desde que deixara Mérida, agora estava pronta para procurar Ibrahim. Tia Varda contara que Ragnar pretendia dividir suas expedições com outros Jarls, um deles, um jovem em ascensão com a mesma idade de Ragnar que aportara na cidade conduzindo dez drakkares.

Entraram no grande salão do Jarl, o qual estava repleto de guerreiros e outros líderes viking. Um banquete ocorria de forma ininterrupta há dois dias, explicara um guerreiro conhecido que parara para cumprimentá-las.

Com dificuldade conseguiram se acomodar em uma mesa, escravos francos e bretões caminhavam pelo local servindo travessas de carne, cerveja e hidromel, alguns guerreiros importunavam as servas sem nenhum pudor, o que fez Brunilde torcer os lábios de desprazer. Algo inimaginável de acontecer em Mérida, pensou consigo mesma enquanto entornava uma caneca de cerveja.

Bjorn estava na mesma mesa que o pai, na companhia da esposa e do sogro, se ele a viu fingiu não a notar.

Finalmente Ragnar pediu a atenção de todos e com muito custo o silêncio reinou.

— Meus amigos, os deuses são benevolentes, esse ano nossa esquadra duplicou, com reforços vindos de outros reis e Jarls escandinavos – começou tendo na mão uma caneca — Por isso, resolvi dividir nossa esquadra em duas, eu irei para a Britânia, enquanto Bjorn, meu filho e Hastein9, filho de meu grande amigo Haesting, o norueguês, o auxiliará no saque da Frísia – concluiu apontando para um jovem guerreiro, que ao contrário de Bjorn mantinha sua barba cortada rente ao queixo.

Os guerreiros gritaram em júbilo erguendo suas canecas para o alto, conversando animadamente em voz alta. Com dificuldade, Ragnar conseguiu se fazer ouvir novamente.

— Deixarei que cada um escolha para onde deseja ir – gritou — Agora, comemoremos, pois hoje estamos vivos, mas amanhã podemos estar mortos, jantando nos salões de Odin no Valhala!

Na manhã seguinte Brunilde procurou Bjorn para informá-lo que iria acompanhá-lo até a Frísia, seu plano era simples, depois de participar do saque, pretendia, antes que o outono chegasse, navegar até a foz do Rio Guadiana, e subir o rio o mais próximo de Mérida possível, onde, enviaria os guerreiros árabes que a seguiram para buscar informações sobre Jamila e Ibrahim, somente então decidiria o que fazer.

Encontrou o filho de Ragnar conversando com Hastein no deck, supervisionando o carregamento de seus navios.

— Bjorn, minha tia e eu o acompanharemos até a Frísia – começou quando se aproximou.

— Hastein, essa é Brunilde Rompe Tormentas – apresentou-a com um sorriso.

— É uma honra conhecer uma escudeira de renome, sua história chegou até as terras de meu pai – cumprimentou o guerreiro mediando-a de alto a baixo com um olhar malicioso.

— Então você deve saber que eu sei usar minha machadinha muito bem, afinal, fui treinada pelo próprio Bjorn – rosnou com um esgar.

— Não a provoque meu amigo, essa mulher é uma fera de Hela escondida na pele de uma deusa – gargalhou Bjorn — Você é bem-vinda, Brunilde.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora