O diário

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Lexi's POV

Essas foram, oficialmente, as perguntas mais estranhas que eu já ouvi na minha vida. Porque eles iriam querer saber uma coisa daquelas? Mas, tenho certeza que, assim como os policiais, eles não vão descobrir nada e vão desistir do caso. Até porque, nada daquilo faz sentido. Quem ia querer matar a minha mãe? Mas eu não vou desistir. Ainda vou descobrir o que aconteceu.

Depois de finalmente conseguir começar a ouvir as minhas músicas, fui para meu quarto, e comecei a ler um livro, para manter minha mente ocupada. Precisava parar um pouco de pensar em teorias malucas sobre aquela noite. Isso não estava me fazendo nenhum bem.

Após ter lido uns quatro capítulos, fechei o livro e guardei-o em seu devido lugar. Desci para a cozinha, para fazer um lanche e ver se meu tio já estava em casa. Chegando no andar de baixo, o vejo sentado no sofá, mexendo em algumas caixas, com uma cara estressada. Ele parecia cansado.

- Ei, você já está em casa. O que está fazendo, tio Ethan? - pergunto.

- Ah, oi querida. - ele diz, me lançando um pequeno sorriso. - Estou arrumando algumas coisas da sua mãe. A polícia me entregou essas caixas, tem mais algumas no carro. - ele responde.

- Porque o senhor não vai descansar? Eu arrumo essas coisa pra você. - digo, percebendo que ele não estava bem. Eu não devia ter deixado tudo para ele, afinal, ele também perdeu alguém, a única irmã.

- São muitas coisas, Lexi. Não sei se você dá conta sozinha. - ele diz, preocupado.

- Está tudo bem. Eu chamo o Brandon para me ajudar. - respondo, chegando perto dele, segurando o seu braço e o acariciando carinhosamente. - Vai descansar. O senhor precisa recuperar as energias. Eu chamo o senhor mais tarde, para o jantar, ok?

- Tem certeza? - respondo que sim, com a cabeça. - Tudo bem. Se precisar de mim, vou estar no meu quarto. - ele diz, subindo as escadas.

- Tio? - ele pára e se vira para mim. - Posso separar algumas dessas coisas para mim?

- Claro, querida. Ela era sua mãe, tenho certeza que gostaria de algumas lembranças dela. - ele responde.

Eu pego meu telefone e ligo para Brandon para me ajudar com as caixas. Enquanto ele não chega, começo a mexer em uma delas e acho um álbum de fotos. Eram fotos minhas, de quando era criança. Em uma foto meu tio e minha mãe estão comigo, ela me segurando no colo, me olhando com os mais ternos olhos. E os meus, olhando aquilo, se enchem de lágrimas.

Ainda era difícil acreditar que ela se foi e de forma tão trágica. Aquilo não era para ter acontecido.

Ouço alguém bater na porta. Deve ser o Brandon.

Guardo o álbum, limpo meus olhos, e vou até a porta para atendê-lo.

- Chegou rápido. - disse, fungando e fingindo um sorriso.

- Não sei se você se lembra, mas eu ainda sou seu vizinho. - ele brinca, entrando na casa. Ele pára, subitamente, segura em meus ombros e olha nos meus olhos, com uma cara preocupada. - Você está bem? Estava chorando?

- Tá tudo bem. Eu estou bem. - minto. É óbvio que eu não estava bem, mas estava cansada de falar sobre aquilo. E ele sabia muito bem porque estava daquele jeito. - E não faz mais isso. Parece um maluco, fazendo isso desse jeito - digo, rindo, fazendo o mesmo que ele fez comigo, o segurando pelos ombros.

- Desculpa, por me preocupar com você, senhorita. - ele disse, fazendo um pequeno drama. - E aí, por onde vamos começar?

- Escolhe uma caixa qualquer. Tem muitas aqui. E tem mais no carro do meu tio. - eu disse, voltando a minha atenção para uma das caixas.

- Tá brincando, né? - ele diz, incrédulo.

- Gostaria muito de estar. - respondo, rindo. - Vamos passar um bom tempo aqui.

- Porque eu sempre digo sim pra você, hein?

- Porque você não consegue resistir ao meu charme. - respondo, jogando meu cabelo. Ele ri.

- Meu Deus, como você é convencida - ele diz, ainda rindo.

- Vamos começar de uma vez. - digo, dando um leve tapa no seu braço.

Passamos muitas e muitas horas naquela sala, mexendo naquelas caixas. Tinha de tudo lá dentro. Roupas, itens de decoração da casa, lembranças que minha mãe guardava... Tinha muita coisa, mesmo. Quando estava terminando de esvaziar uma das últimas caixas, Brandon me chamou.

- Lexi, você sabia que sua mãe escrevia um diário? - ele diz, segurando algo. Eu ainda tinha minha atenção em uma das caixas, então não percebi o que realmente era.

- Brandon, você sabe qual é função de um diário? - pergunto, o zoando, com o sorriso divertido no rosto, e franzindo o cenho em seguida quando peguei um objeto esquisito de dentro do caixa.

- Sei, espertinha. - ele diz, fingindo uma risada. - Olha isso aqui. Parece meio antigo. - ele diz, chegando mais perto de mim e me mostrando um caderno desgastado.

Quem olhasse de longe, acharia que era apenas um caderno velho, mas na capa tinha escrito "Meu Querido Diário". Aquilo não parecia muito a cara da minha mãe, mas poderia ser de quando ela era criança ou algo do tipo.

Quando Brandon me entregou o diário, uma foto, que estava no meio do caderno, caiu no chão. Na imagem, estava minha mãe, meu tio e um outro cara, que eu não fazia ideia de quem poderia ser. O desconhecido, olhava para ela, com uma cara apaixonada.

Coloquei a foto de volta no diário, e abri uma parte para ler.

"Lawrence, Kansas.

19 de março de 1997

Mais um dia. Depois do que aconteceu ontem não achei que sobreviveria. Tive sorte de meu irmão estar comigo. Mas é o que acontece quando você vive nessa vida. Corre perigo o tempo todo, a morte está sempre à espreita.

Hoje, aquele garoto me chamou para sair. De novo. Decidi aceitar, ele até que é bonitinho. Vamos em uma lanchonete, perto da minha casa. Espero que esse encontro valha a pena."

Será que ela está falando sobre o meu pai? Vou guardar esse diário. Talvez consiga achar alguma informação sobre o meu pai, ou até mesmo, sobre a morte da minha mãe. Como um dos agentes disse, talvez minha mãe tivesse algum inimigo no passado, que eu não soubesse.

- Acabou, graças a Deus! - diz Brandon, se jogando no sofá. - Então, não tem comida nessa casa? Ai! Pra que a violência?! - ele diz, depois de eu jogar uma almofada na cara dele.

- Tá achando isso aqui com cara de hotel? Ou eu tô com cara de empregada? - brinco. - Tenho que chamar meu tio. Pede uma pizza pra gente. - digo, jogando o telefone para ele.

Lexi's POV off

Em um lugar muito distante dali, em uma cabana que parecia até mesmo abandonada, se encontravam dois homens. Um deles, de pé, tinha os cabelos loiros e penteados para trás, com uma feição que parecia assustada ou pelo menos demonstrava certo receio. O outro, estava sentado em uma poltrona, com uma taça de vinho tinto em mãos, vestia um terno vermelho-escuro e os cabelos negros curtos um pouco bagunçados.

- Como é incrível a sensação de ter seu trabalho concluído. Não é mesmo? - diz o homem de vermelho, tomando um gole de seu vinho em seguida. - Depois de tantos anos, matá-la foi revigorante.

- E qual é o seu próximo passo, senhor Stephan? - pergunta o seu comparsa.

- Ah, a garota. Aquele pacto salvou a vida dela anos atrás, mas está na hora de seu tempo na Terra acabar. - ele termina, com um sorriso nada encantador.

She has my eyes - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora