A Rua

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Estava caminhando fazia pouco tempo, não tinha com o que me preocupar naquele dia, mesmo sabendo que estava me aproximando... dela. Eu já ouvira muitos boatos sobre aquele lugar, aquela rua, aquele cruzamento. A primeira vista parece apenas uma rua comum, com uma má iluminação para a noite que se aproximava, um encontro simples de duas ruas e alguns terrenos vazios carregados com as sombras dos pequizeiros. Enquanto eu andava rumo ao meu destino senti um frio subir pela minha espinha, nada bom, principalmente no calor que estava marcado.

Os relatos me vieram em mente todos ao mesmo tempo, grupos de pessoas que passavam por ali vindo ou indo de alguma festinha e que acordam horas depois sem se lembrar como chegaram em suas casas, sempre acontecendo no mesmo lugar... aquele lugar. A noite agora tingia o céu com uma coloração em degradê do roxo para o laranja, a brisa fraca dava apenas ao ar um som de folhas se mexendo como pequenos espíritos que também se incomodavam com aquela temperatura. Foi quando senti novamente o frio percorrer minha espinha.

A iluminação fraca e a quase completa inexistência de sons racionais estavam me fazendo começar a pensar em uma maneira de me defender, mesmo não tendo nenhum motivo aparente. Uma pessoa vinha andando em minha direção. Não prestei atenção em nada sobre ela. A rua se aproximava a cada passo meu. Em menos de 2 minutos eu estaria na esquina que a minha direita levava para a estrada de terra.

Eu havia chegado. Me permiti dar um suspiro de alívio quando ouvi o som da corrida. Olhei tempo o suficiente de ver a pessoa que havia passado por mim acertar com força um galho em minha nuca e eu perder minha consciência.

Quando acordei eu estava sendo arrastado pelo chão poeirento, ao longe eu via o mesmo poste de luz do que para mim pareciam poucos minutos. Minha boca estava amordaçada. Eu estava com cordas em laço no pescoço de uma maneira que apertava mas não me enforcava, os outros 2 laços puxavam minhas mãos na parte de trás do meu corpo e meus pés na mesma direção. Meu sangue manchava de vinho aquele solo alaranjado marcando o que eu sentia que seria minha passagem fúnebre. Meu sequestrador virou meu corpo por um momento vi o local que ele estava me levando. Como eu sabia que era aquele local? Tinha sangue por todo lugar.

Quando chegamos mais perto e ele me largou para organizar o que fosse que ele iria fazer eu reparei em tudo. Era um tora de madeira no chão revirada com sangue seco como uma mesa de açougueiro, do lado dela tinha uma espécie de motor ligada a um machado de uns 40 cm, quando eu olhei para a máquina meu sequestrador fez questão de ativar o mecanismo e o machado acertou a tora de madeira com uma força que criou um sulco profundo. Eu entendi a sua finalidade.

Ele levantou meu corpo por um momento posicionando minha cabeça na tora, abriu meus braços e pernas com as cordas e as prendeu em presilhas de ferro fincadas no chão, nesse momento eu tentei chutar e me desvencilhar, mas ele parecia prever meus movimentos. Puxou as cordas com força me deixando totalmente exposto no chão. Naquele momento eu pude ver uma pequena cabana com uma lâmpada de luz oscilante na porta.

Gritei, gritei e gritei. Mesmo com a mordaça eu tentei. Se tivesse alguém naquele lugar poderia me ajudar. Mas nada aconteceu. O sequestrador fez uma negação com a cabeça de maneira extremamente lenta e rítmica.

Ele se posicionou ao lado do motor, e foi nos momentos antes da minha definitiva morte que aqui lhes dou como depoimento que consegui descobrir a identidade do meu próprio assassino. Ele tirou a máscara negra que cobria todo seu rosto e eu só reparei agora que ele a usava e revelou... o meu carrasco tinha... a minha própria face. Um sorriso e o machado cortou fora minha cabeça do resto do meu corpo.

A luz do mesmo poste oscilante ainda iluminava o meu cadáver, o meu assassino, esta história que vos conto, e acima de tudo, ainda iluminava... a rua.

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