ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 1

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  Aconchegada em meu trono, eu suspirei de forma satisfeita pela sensação prazerosa de estar no comando. Ergui meu rosto em direção aos demônios da corte, quando minha segunda no comando, Lilith, fez todos os cochichos se calarem com um rosnado animalesco. A mulher gargalhou, batendo palmas para si mesma, depois de ter sido obedecida pelos demônios covardes. Ninguém tinha dúvidas de que ela também amava autoridade que tinha.

— Então... — começou Lilith, olhando para as próprias unhas, de forma entediada. — Por que estamos reunidos hoje? Pensei que fosse a minha maldita folga.

— Garanto que temos bons motivos. — Asmodeus ousou responder, enquanto os outros se encolhiam com apenas um olhar da bruxa. Eu levantei minhas sobrancelhas, numa pergunta silenciosa. — Apresento a vocês, Caliban.

Um rapaz loiro, que estava ao seu lado, deu um passo para frente, se abaixando numa reverência não tão formal quanto deveria ser. O desafio explicíto em seu sorriso foi o suficiente para me fazer cruzar as pernas, e analisá-lo. Ele vestia roupas finas, em tons de preto e cinza, cores que a propósito, ficavam muito bem nele.

— E o que você está fazendo aqui? — perguntou minha conselheira, que claramente compartilhava dos mesmos pensamentos que os meus.

— Pelo visto, Asmodeus esqueceu de acrescentar que eu sou o princípe do inferno. — ele balançou a cabeça, como se tivesse sido um erro terrível.

Princípe do inferno? Parecia uma piada de um mal gosto incurável. Levantei-me, indo até o rapaz que afirmava ter um título real. Não me importava em ter que erguer a cabeça para o encarar, isso não me fazia perder a mascára rispída em meu rosto.

Ele sorriu, enquanto me encarava de volta, numa falha tentativa de disputa territorial. 

— Eu saberia se tivesse um princípe. — eu disse por fim, desvencilhando de seus olhos verdes, e me virando para Asmodeus. — Não sei aonde arrumou esse homem, mas é um impostor.

— Você vai mesmo insultar a realeza, vossa majestade? — a mais pura indignação estava presente na voz do demônio.

— Eu sou a realeza. — caminhei de volta para meu trono, sentando de pernas cruzadas novamente. — Levem-no. — Indiquei Caliban com o queixo, para os guardas, que imediatamente se moveram para obedecer minha ordem. Se não fosse por Maleão e Asmodeus entrando na frente do loiro, eles teriam cumprido. — Vocês estão me desafiando?

Os dois arregalaram os olhos, balançando as cabeças em acenos negativos.

— Jamais, vossa majestade. — Maleão fez uma reverência profunda, no entanto, não saiu da frente do impostor. — Apenas imploro que você ouça o que ele tem a dizer.

O olhar apreensivo de Lilith em minha direção me disse que eu realmente deveria ouvir.

— Explique-se, princípe falso.

— É uma honra ter o direito de me explicar, majestade. — ele debochou, sem saber que não era necessário muito para que eu arrancasse sua língua com minhas próprias mãos. — Eu sou feito do solo daqui, uma própria criação do inferno. Isso me dá total direito a um trono.

— Infelizmente, o único que tem aqui — alisei os braços do trono, com um sorriso satisfeito nos lábios. — é meu.

— Posso lhe oferecer duas opções, Rainha. — Lilith se colocou em meu lado, disposta a estripá-lo, caso ele se aproximasse mais . — Posso tomar o seu trono, algo que eu tenho certeza que você não quer, ou posso colocar um ao lado do seu.

  —  Quero ver você tentar.

  —  Para a sua tristeza — ele estalou os dedos, e no mesmo instante um pergaminho surgiu em suas mãos. —, tenho 666 assinaturas infernais para reivindicar o que é meu.

  Uma enorme vontade de conjurar as chamas numa fogueira, e jogá-lo com seu papel idiota, para queimarem por toda a eternidade, se manifestou em meu peito. Fui repreendida por um olhar severo de Lilith, que pareceu ter lido meus pensamentos.

  — Suponhamos que a sua história seja verídica — manifestou-se Lilith. —, como você pode ter a certeza de que conseguiria tomar o trono da Rainha? — ela semicerrou os olhos, tentando bisbilhotar através da alma dele, como fazia comigo.

  — Não o tomaria usando violência, se é o que está insinuando. — ele fez o papel desaparecer das mãos. — Não se lembra da antiga legislação, Lilith? A caçada pelas regalias profanas.

  Me perguntei quantos anos o loiro teria para que se lembrasse da antiga legislação. Ele aparentava ser jovem, apesar de ter experiência pesando em seu tom de voz.

  — Está fora de cogitação. — a voz da bruxa estava tão alta que se assemelhava a um grito. — Isso pode levar até anos.

  — Nesse caso, eu proponho uma união  com Vossa majestade.

  — Uma união? — perguntei, sem tirar os olhos do rapaz, que piscou para mim.

  —  Um casamento, querida.

  Até então eu não havia comido nada, e mesmo assim, meu estômago se revirou com a proposta inusitada. Lilith juntou os lábios vermelhos numa linha fina, sua expressão facial não me passava nenhuma segurança de que eu poderia negar o príncipe e sair impune.

𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐢𝐧𝐟𝐞𝐫𝐧𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora