Caliban me encarou, com um sorriso sugestivo, depois de eu ter lhe oferecido um educado fora. O rapaz havia me convidado para um passeio, e não foi nem um pouco sacrificante negá-lo, com a desculpa de que eu já tinha um compromisso. Bom, pelo menos não era uma mentira.
— E qual seria esse compromisso tão importante para você me negar, majestade?
— Um demônio inferior conseguiu atravessar para o mundo. — expliquei, pegando a jaqueta de couro que estava em minha cama, e vestindo-a. — Vou buscar ele.
— Por que se incomodar com um demônio inferior? — ele levantou as sobrancelhas, se encostando perto da porta, com os braços cruzados. — São completamente leigos, quase inofensivos.
Eu balancei a cabeça, sem acreditar que ele tinha convicção em suas palavras. Para bruxas, ou seres místicos, os demônios inferiores realmente eram incapazes de causar ferimentos graves. Porém, extremamente mortais para os humanos, que não possuíam nenhuma proteção válida contra seus ataques. Caliban passou a me seguir, quando eu me retirei de meu quarto, andando pelos corredores.
— No mundo, eles podem causar uma grande devastação, se não forem parados.
— Ah, claro. — seu rosto se iluminou, com o esclarecimento. — Eu costumo me esquecer do quanto os humanos são frágeis.
— É porque você não precisa se preocupar com eles. — eu suspirei. — Eu nunca me esqueço.
— Você sabe que não é você quem tem que se preocupar com eles, não sabe?
Observei o semblante confuso do loiro ao meu lado por demorados segundos. Foi o suficiente para que eu notasse que ele não se importava com nada, além de si mesmo. Um ser bonito, mas extremamente distante de compreender emoções humanas. Eu abri um sorriso cruel nos lábios, antes que ele pudesse decifrar meus pensamentos a seu respeito.
— Em geral, eu não me preocupo — parei de andar, quando chegamos na escada que se intercalava com o salão principal, e consequentemente, com a saída. —, mas quando um de meus demônios resolve atormentar pessoas inocentes por diversão, é sim da minha conta. — eu apontei para as escadas. — Você deveria ir.
— Não posso me juntar a você nessa missão, querida? — ele sorriu, exibindo seus dentes perfeitamente alinhados. Maldito sorriso bonito.
— Devo admitir que estou surpresa por ver você pedindo permissão para algo.
— Tenho meus valores, princesa — ele colocou a mão sob o peito, com um tom de falsa indignação atingindo sua voz. —, e perseguição provavelmente iria queimar minha imagem.
Eu revirei os olhos, tentando conter um sorriso, que insistia em aparecer.
— Vamos.
Dei uma cotovelada em Caliban, que estava do meu lado, sentado no telhado. Enquanto eu permanecia em silêncio, ele não hesitava em fazer de tudo que gerasse barulho, se mexendo, suspirando, tocando músicas extensas em seus assobios. Nossas estratégias para capturar o demônio pareciam ser o oposto uma da outra. Na verdade, ele nem parecia ter uma, julgando pelo seu jeito despreocupado.
— Não acredito que eu trouxe você. — resmunguei num sussurro, enquanto nosso alvo se ocupava em revirar uma lixeira no beco abaixo de nós.
O demônio era nada mais, nada menos do que um lexus, um ser com um paladar diferenciado, optando por alimentos em decomposição e humanos. Apesar de não ser tão forte, sua aparência era assustadoramente malígna. Sua pele era escamosa, num azul tão escuro que parecia o céu noturno, e seus olhos eram grandes, com as escleróticas negras.
O príncipe ao meu lado levou um dedo até a boca, pedindo para que eu fizesse silêncio, enquanto ele se levantava lentamente. Depois de todo esse tempo sem parar quieto, ele ainda ousava dizer que eu deveria ficar quieta?
Parecendo notar a movimentação, as orelhas pontudas do demônio se levantaram, e ele começou a farejar de forma atenta. Não podendo esperar por mais tempo, Caliban pulou do telhado, caindo exatamente em cima da besta, que soltou um rugido odioso. Não houve uma luta brutal, como eu esperava ansiosamente. Bastou uma oportunidade perto o suficiente de lexus, para que o príncipe quebrasse seu pescoço com as mãos. Uma morte rápida e sem piedade. O loiro olhou para cima, me lançando um sorriso vitorioso.
Me esforcei para não demonstrar o quanto eu estava surpresa com sua demonstração gratuita de força. Eu esperava que ele usasse magia, ou que tirasse uma adaga das calças e entrasse numa batalha, mas nunca imaginaria que ele acabaria com o demônio usando as próprias mãos.
— Acho que você não entendeu muito bem a parte de "buscar ele" — eu me levantei, sorrindo com deboche, e saltando para o solo de concreto ao seu lado. —, e não "matar ele."
— Eu busquei ele para a morte. — Caliban gesticulou com as mãos, deixando que as sombras carregassem o cadáver do demônio para o limbo. — Seu coração amoleceu, rainha? — ele retribuiu o deboche, enquanto andávamos lado a lado pelo beco escuro.
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𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐢𝐧𝐟𝐞𝐫𝐧𝐨
FantasyO vazio achou uma brecha na vida de Sabrina no exato momento em que ela abdicou do "Spellman" em seu nome, no exato momento em que ela deixou de ser dócil e amável, no exato momento em que... Ela se tornou ela mesma. E, cuidar do inferno estava l...