Sigel Rodrigues nunca teve muita sorte.
Ele tinha dezessete anos e quase dois metros de altura (1.98) e era muito magro, o que fez seus colegas o apelidaram de Abaporu. Ele poderia ser bom em esportes cujo a altura fosse uma aspecto importante, mas era uma negação em vôlei e em basquete. No geral, Sigel não servia para esporte algum.
Não bastando ser quase esquelético e ter de se abaixar para passar por algumas portas, ele teve uma fase em que o rosto se encheu de espinhas. Se olhava todos os dias no espelho e queria chorar. Como se atrevia sair do seu quarto daquele jeito?
Entretanto, agora que estava no terceiro ano do ensino médio, sua aparência tinha melhorado relativamente. Ele até se sentia um pouco mais confiante para passar mais um ano aturando os riquinhos da Getúlio Vargas. Seria o último. Rodrigues era bolsista 100% então ele era tipo, pobre, mesmo. Não tipo os bolsista que tinham 70% de desconto e ainda sim pagavam 2.500 de mensalidade.
Estava arrumando seu guarda roupa. Fazia isso uma vez por mês. Seu antigo companheiro de quarto, Paulo, tinha sido expulso ano passado por uso de drogas nos recintos da escola e Sigel passou dois meses – os melhores de sua vida naquela escola – sozinho. Não que Paulo fosse horrível, ele era um cara razoável. Era na dele. Sigel estava no mesmo quarto que ele desde que entrou na escola, no oitavo ano. Ou seja, eles passaram três anos juntos. Tirou os cachos do rosto e se olhou no espelho do guarda roupas rapidamente. A pele estava mais escura, já que ele passou as férias com o pai, no Rio. Sigel amava a cor de sua pele.
Ele olhou para a cama a dois metros da sua se perguntando quem seria seu novo colega de quarto e como se fosse a resposta, a porta abriu.
Rodrigues se virou rapidamente, não acreditando em quem via ali, parado na porta de seu quarto.
– Bas?!
Basil Cortilho era talvez a única pessoa que Sigel odiava de verdade. Foi ele quem começou com o apelido de Abaporu. Também foi ele que propositalmente jogou uma bola de basquete na cara dele durante um de seus testes, além de viver fazendo piadinhas sem graça sobre a altura e magreza de Rodrigues. A única coisa interessante sobre Bas era que ele era daltônico. Não enxergava nenhuma cor.
– Tanta gente no mundo... – Basil respirou fundo.
Sigel se encolheu, levemente ofendido. Ele tinha razão para odiar Bas, mas Bas não tinha motivo para não gostar dele que não envolvesse sua necessidade de inferiorizar os outros para se engrandecer.
Ele analisou o rosto de Rodrigues antes de sorrir com escárnio.
– Não é como se eu fosse amar ficar no mesmo quarto que você.
– Então muda de quarto, ué. – Disse sem pensar muito.
– Eu tenho a oportunidade da minha vida aqui. Eu posso descobrir se você é tão feio quando acorda tanto quanto é durante o resto do dia.
– Vai se foder.
Ele riu e entrou no quarto jogando sua mochila na cama e colocando suas duas malas de rodinha próximo da cabeceira. Em seguida ele próprio se jogou no colchão, que afundou com seu corpo.
Rodrigues o encarou rapidamente e decidiu que iria ignorar ele enquanto arrumava o guarda roupa e depois iria na secretaria pedir para mudar de quarto. Ele dormiria até no chão se significasse que não teria de ficar perto de Bas.
Mas ele acabou fazendo tudo por cima já que sentia o olhar de Cortilho sobre si. Se atreveu a olhar e encontrou Bas com um celular apontado para ele, possivelmente tirando foto ou filmando algo.
– Você não quer caçar briga comigo, sério. – Avisou indo até ele e tomando o celular da sua mão e tirando da câmera. Bas não ofereceu resistência e riu.
– Você tá me ameaçando? Só porque você tem altura não significa que eu não consiga te deitar na porrada. – Ele tomou o celular da mão de Sigel. – Além disso, se você colocar as mãos em mim eu te faço ser expulso. Você sabe o quão fácil é pra um bolsista ser expulso, não sabe? Seu antigo colega de quarto sabe bem.
– Fica fácil assim, com papai para te proteger. – Sigel não era tão bocudo assim, mas Bas conseguia despertar esse lado dele de uma forma quase incompreensível.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Bas se jogou para cima de Sigel e os dois caíram no chão entre as duas camas. As costas de Rodrigues bateram no chão acolchoado pelo tapete felpudo. Bas estava literalmente em cima dele, com as mãos grudadas no colarinho do suéter que ele usava.
Bas não parecia bravo. Ele parecia achar graça. Por alguns segundos, eles não disseram nada e quando Sigel tentou se soltar, falhou. Cortilho tinha um e oitenta, entretanto, ele era inquestionavelmente mais forte do que Rodrigues.– Viu? Altura não é nada se você é um merda.
– Você tá doido, seu sem noção? Sai de cima de mim! – Ele se mexeu e empurrou Bas para trás, se levantando.
– Você é louco?!
– Você quem começou.
– Você tava tirando foto de mim.
– E daí?
– E daí que eu não deixei, porra. E eu sei bem que você vai usar essas fotos pra fazer graça!
Bas se levantou e voltou a se sentar na cama, pegou o celular e começou a mexer nele como se nada tivesse acontecido.
Sigel ficou um tempo ali no chão ainda, respirando fundo enquanto se remoía de ódio.
Se sentiu mais azarado que nunca naquele dia.
n/a estou testando algo, se vc gostar por favor comenta pra me incentivar! 🙂🙂🙂🙂😭😭😭😭
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dois garotos e um segredo 《romance gay》
RomanceSigel nunca foi sortudo, a prova disso é que ele será obrigado a passar um ano inteiro convivendo com Bas Cortilho. Porém, durante uma noite bêbado Bas acaba revelando um segredo para Sigel e as coisas entre os dois começam a mudar lentamente.