Monstros são reais

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Diário de Leena

10 de março de 1997

Meu irmão está saindo para mais um caso e não quer me levar junto. Não adianta implorar, prometer que vai arrumar as bagunças dele pelo ano inteiro, ele não aceita nada. Eu sei que posso fazer o que ele faz, tão bem quanto. Mas ele não entende isso. Diz que vou acabar me machucando e que não quer se sentir culpado se algo acontecer. Independente do que ele diga, eu vou ir nesse caso com ele.

14 de março de 1997

Foi engraçado ver a reação de Ethan quando ele me achou escondida no banco de trás do carro. Eu disse que iria, independente da resposta dele. Ele ficou furioso quando me viu, e me deu várias regras do que podia ou não fazer enquanto estávamos lá.

Passamos a noite em um hotel e, no dia seguinte, quando acordei, Ethan não estava no quarto. Achei estranho, mas, quando olhei para sua cama, tinha um bilhete dizendo que ele havia saído para saber mais informações sobre o caso.

Depois de extravasar minha raiva em um travesseiro, peguei alguns livros e comecei a pesquisar sobre as poucas informações que tínhamos. Na notícia que vimos no jornal dizia que uma garota foi encontrada morta no banheiro dos professores de uma universidade. Nenhuma testemunha, além da pessoa que encontrou o corpo. A vítima tinha o rosto todo desfigurado, provavelmente por pancadas do assassino. Até então, não parecia ser um caso para um caçador, mas agora vem a parte importante.

O lugar que a garota foi encontrada estava completamente trancado. Depois que o Ethan chegou, me disse que as poucas pessoas que tinham acesso àquelas chaves não eram mais suspeitas, pois estavam em outras atividades no dia do ocorrido. Ele também descobriu, conversando com uma amiga próxima da menina, que ela tinha um caso com um professor e que eles se encontravam nesse banheiro fora do horário de aula. O que, pra mim, fazia do cara um suspeito. Mas meu irmão insistiu que o cara não era, pois o professor disse que, naquele dia, havia saído antes que a garota do banheiro pois ela queria que ele a assumisse e ele tinha esposa e filhos e não podia fazer aquilo. Que maldito esse cara, sinceramente. Pra que trair? Bom, eu ainda achava que o cara era suspeito, mas precisávamos de mais provas.

18 de março de 1997

Esse caso até que foi resolvido rápido. Mas tivemos sorte de pessoas colaborarem com a gente. Nós pesquisamos bastante sobre lendas locais, acontecimentos da cidade e descobrimos algo interessante. Naquela universidade que a menina foi encontrada morta, já havia morrido uma mulher, no mesmo banheiro que ela. Um professor tinha um caso com uma aluna da escola, porém o homem era casado. A esposa dele descobriu a traição e como os amantes se encontravam: em um dos banheiros da escola. Ela, então, em uma das noites, foi atrás deles para tirar satisfação do que estava acontecendo. Mas ela nunca imaginou que seria assassinada pela amante do seu marido. A garota bateu a cabeça da mulher na pia do banheiro até a morte, pois queria que o homem fosse apenas dela. Com essa história conseguimos resolver o caso, descobrimos quem matava as pessoas naquele banheiro: o fantasma da mulher traída.

Hoje fomos desenterrar o corpo e queimá-lo. Enquanto fazíamos isso, a amiga da aluna morta nos ligou pedindo por ajuda. Ela estava no banheiro que a garota morreu, e disse que algo estranho estava acontecendo. Meu irmão continuou cavando e disse para mim ajudá-lo, que assim conseguiríamos ajudar a garota, queimando os ossos do fantasma. Mas eu sou teimosa. A garota precisava de alguém, então, eu roubei as chaves do Ethan e corri atrás da garota. O que, talvez, não tenha sido a melhor escolha. Me machuquei muito, mas, por sorte meu irmão apareceu na hora certa.

19 de março de 1997

Mais um dia. Depois do que aconteceu ontem não achei que sobreviveria. Tive sorte de meu irmão estar comigo. Mas é o que acontece quando você vive nessa vida. Corre perigo o tempo todo, a morte está sempre à espreita.

Hoje, aquele garoto me chamou para sair. De novo. Decidi aceitar, ele até que é bonitinho. Vamos em uma lanchonete, perto da minha casa. Espero que esse encontro valha a pena.

Meu irmão vai querer me matar se descobrir sobre isso. Ele não vai muito com a cara do Dean, até agora não entendi o porquê. Se bem que ele não gosta de garoto nenhum que chegue perto de mim, então não é tanta novidade.

Estou ansiosa para o nosso encontro.


Lexi's POV

Isso é um livro de ficção ou algo real? Fantasmas, vampiros, metamorfos. Eu conhecia essas coisas, mas apenas por causa dos livros que minha mãe tinha e eu os lia escondido, pois ela me proibiu de lê-los. Sabia bastante sobre coisas sobrenaturais por esse motivo. Mas nunca parei para pensar que poderiam ser coisas que realmente existem. Era esse o motivo de minha mãe não deixar eu ler eles?

Preciso conversar com meu tio. Ele está na maior parte das histórias desse diário. E esse Dean. Pode ser o meu pai. Preciso saber mais sobre ele. No diário não tem muita coisa sobre ele, apenas seu nome e o primeiro encontro deles.

Desci as escadas e comecei a procurar o tio Ethan. Mas ele não estava em lugar algum. Quando voltei para a sala para pensar onde ele poderia ter ido, ele entra em casa e parecia estar estressado.

- Tio, está tudo bem? - pergunto.

- Sim, querida. Está, sim. - ele responde, dando um meio sorriso. Não estava muito convencida de sua resposta, mas ignorei isso. As pessoas têm direito de não querer falar sobre o que estão sentindo.

- Ok. Será que nós poderíamos conversar sobre um assunto? - pergunto, esperando que ele dissesse sim.

- Claro, sobre o que quer conversar? - ele disse, sentando no sofá e indicando para me sentar ao seu lado.

- Sobre minha mãe... E... meu pai. - hesitei ao perguntar. Ele odeia quando eu pergunto sobre meu pai. Mas dessa vez, ele me surpreendeu. Não pareceu ficar bravo, nem nada do tipo, apenas passou seu braço pelos meus ombros em um abraço.

- O que quer saber sobre os seus pais? - ele pergunta, calmamente. Mostrei o diário pra ele. E foi sua vez de se surpreender.

- Quando estava arrumando as coisas das caixas, Brandon encontrou esse diário. É da mamãe. Eu terminei de ler ele hoje. - ele me olhou, me incentivando a continuar. - Não tem muita coisa sobre o meu pai, apenas um nome. E muitas histórias malucas de vocês caçando monstros. Isso é verdade? Vocês faziam isso mesmo?

Ele encarou o diário, como se pensasse se me contava a verdade ou não. Tio Ethan me olhou novamente e balançou a cabeça, dizendo que sim.

- Sua avó faleceu por causas sobrenaturais. Meu pai, seu avô, começou a caçar por causa disso, queria vingar a morte dela. E acabou nos arrastando com ele. - ele diz, enquanto seus olhos ficam marejados. - Nós acabamos ficando nessa vida depois que ele faleceu também, queríamos seguir o seu legado, sabe? Só paramos de fazer isso depois que você nasceu. - ele disse, encostando o indicador na ponta do meu nariz, com um pequeno sorriso. - Tínhamos que deixar você a salvo, precisava de uma família.

Depois de ouvir aquelas últimas palavras, o abracei fortemente. Então todas aquelas loucuras de monstros e fantasmas eram verdade e minha mãe e meu tio desistiram de tudo por mim. Saber daquilo abriu mais possibilidades sobre quem poderia seria o assassino da minha mãe, ela pode ter sido atacada por algum monstro.

Ficar sabendo daquelas coisas e ouvir do meu tio que eles largaram aquela vida por mim me fez até mesmo esquecer que queria saber mais sobre o meu pai. Não fazia diferença eu saber sobre aquilo, a minha figura paterna estava ali, comigo, me dando todo o apoio que eu precisava.

She has my eyes - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora